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Prémios Nobel 2016
Bob Dylan é o vencedor do Prémio Nobel da literatura de 2016. O músico folk de 75 anos, norte-americano, é o primeiro cantor a receber a distinção, por "ter criado novas expressões poéticas na grande tradição da canção americana", segundo revelou a secretária-permanente Sara Danius.
• PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA
Bob Dylan
Inesperada esta escolha da Academia Sueca, é o mínimo que se pode dizer, até para os norte-americanos, que nunca acreditaram nesta possibilidade. Um artigo na New Republic sobre quem iria vencer o prémio, há dias, abria com um "Não o Bob Dylan, isso é certo." Na casa de apostas britânica Ladbrokes, Dylan tinha as mesmas hipóteses que Elena Ferrante ou a contista Lydia Davis, 50/1, há apenas alguns dias. De fora ficam, mais uma vez os grandes escritores de todo o mundo.
Dylan, no entanto, estava na lista de potenciais vencedores do Nobel há vários anos. Coincidentemente, o escritor Richard Zimler estava em direto na televisão e apostava no cantor como potencial vencedor. E acertou. Também nas agências de apostas britânicas o nome de Bob Dylan disparou esta manhã, tendo ficado no nono das preferências.
Numa curta entrevista após o anúncio, Sara Danius lembrou que também Homero e Safo, há mais de 2000 anos, escreveram poesia que devia ouvir-se. "E ainda hoje lemos Homero e Safo". Danius salientou ainda que há 54 anos que o cantor, poeta e compositor se reinventa, criando novas identidades.
Instada a escolher uma canção emblemática do agora Nobel da Literatura, Sara Darius disse que o álbum Blonde on Blonde, de 1966, "é um exemplo extraordinário da sua forma brilhante de rimar e do seu pensamento pictórico".
Robert Allen Zimmerman nasceu a 24 de maio de 1941 em Duluth no Minnesota. É autor de canções como "Like a Rolling Stone", "Blowin in the Wind", "Mr. Tambourine Man" ou "Subterranean Homesick Blues".
• PRÉMIO NOBEL DA ECONOMIA
A Real Academia Sueca das Ciências atribuiu o Prémio Nobel da Economia ao britânico Oliver Hart e ao finlandês Bengt Holmström pelas suas contribuições para a Teoria dos Contratos.
A Academia recorda que os contratos são essenciais para as sociedades modernas e que os dois investigadores, de Harvard e do MIT, ajudaram a esclarecer como os contratos nos ajudam a lidar com conflitos de interesse.
"Através dos seus contributos, Hart e Holmström, desenvolveram a Teoria dos Contratos como um campo fértil para a investigação. Nas últimas décadas, exploraram igualmente muitas das suas aplicações. A sua análise sobre a melhoria das condições contratuais estabelece as bases para a definição de políticas e instituições em várias áreas, da legislação sobre falências a constituições políticas", sublinha a organização num comunicado.
• PRÉMIO NOBEL DA PAZ
Juan Manuel Santos
Juan Manuel Santos vence o prémio deste ano pelos esforços de paz com a guerrilha marxista das FARC para pôr fim a 50 anos de guerra civil no país.
Comité norueguês decidiu premiar o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, com o Nobel da Paz 2016 pelos seus "esforços para pôr fim aos mais de 50 anos de guerra civil no país".
De fora de um prémio que foi também "para o povo colombiano" ficou o líder das FARC, Rodrigo Londono, aliás Timochenko, que no dia 26 de setembro assinou com Santos o acordo de paz negociado durante quatro anos em Cuba.
Em Oslo, Kaci Kullmann Five, a presidente do Comité Nobel sublinhou que o resultado do referendo torna ainda mais importante que Santos e as FARC respeitem o cessar-fogo. E garantiu que "o facto de a maioria do povo ter dito não ao acordo não significa que o processo de paz esteja morto".
O acordo veio pôr fim a mais de meio século de uma guerra que deixou mais de 220 mil mortos. E fez dos seus protagonistas os favoritos ao Nobel, mas a vitória do Não no referendo de dia 2 na Colômbia veio pôr em causa esta vitória.
Santos torna-se assim no 26.º chefe do Estado a receber um Nobel. E América Latina volta a receber o galrdão da Paz depois da vitória de Rigoberta Menchu em 1992, pela sua defesa das mulheres indígenas.
O vencedor do Nobel da Paz recebe oito milhões de coroas suecas (mais de 830 mil euros).
Premiar os dois lados em conflito depois de terem chegado a um consenso não poderia estar mais no espírito dos prémios criados em 1895 pelo sueco Alfred Nobel. A última vez que o comité o fez foi em 1998, quando atribuiu o galardão da Paz (o único entregue na Noruega, todos os outros Nobel são entregues na Suécia) a John Hume e a David Trimble "pelos seus esforços para encontrar uma solução pacífica para o conflito na Irlanda no Norte". Mas o passado também já provou que esta pode ser uma escolha arriscada. Em 1994, na sequência dos acordos de Oslo entre israelitas e palestinianos, o recém-falecido Shimon Peres, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat receberam o prémio. Mas passados 22 anos, com todos os protagonistas mortos, a paz no Médio Oriente ainda é uma miragem.
Entre os favoritos este ano estavam ainda os negociadores do acordo sobre o nuclear iraniano - entre eles os chefes da diplomacia americana, John Kerry, iraniana, Mohammad Javad Zarif, e europeia, Federica Mogherini. Mas também os habitantes das ilhas gregas, um coletivo para designar todos os voluntários que ajudaram os refugiados - sobretudo sírios, mas também iraquianos, afegãos, etc. - que nos últimos meses chegaram às costas da Grécia em busca de uma vida melhor na Europa.
Em termos coletivos, os Capacetes Brancos , antigos padeiros, professores, alfaiates ou outros profissionais que decidiram dedicar a vida a salvar as vítimas dos bombardeamentos e da guerra na Síria, tinham subido nas apostas nos últimos dias. Em termos individuais, a ativista russa pelos direitos humanos Svetlana Gannushkina era uma das favoritas. Tal como Denis Mukwege, o ginecologista congolês que já ganhou o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu por desafiar a morte para ajudar as mulheres violadas durante a guerra civil no seu país. Na lista não falta outro vencedor do Sakharov, o blogger saudita Raif Badawi, detido e condenado a mil chicotadas pela sua defesa da liberdade de expressão.
Nos últimos anos, as instituições dominaram o Nobel da Paz, tendo arrecadado três dos últimos cinco galardões: em 2012 foi a vez da União Europeia, em 2013 da Organização para a Proibição das Armas Químicas e em 2015 do Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia. Neste ano havia 148 instituições entre os nomeados e a Save the Children era uma das favoritas à vitória. Sobretudo pelo seu trabalho com as crianças nos campos de refugiados na Síria e nos países vizinhos
Com milhares de pessoas, inclusive todos os membros dos parlamentos nacionais, professores universitários ou antigos vencedores, a poderem nomear candidatos ao Nobel, não espanta que da lista constem nomes menos consensuais. Entre os favoritos neste ano voltou a estar Edward Snowden, o ex-analista da NSA que em 2013 divulgou os programas de vigilância secreto dos EUA. Mas também Donald Trump, o candidato republicano às presidenciais de 8 de novembro nos EUA, mais conhecido por querer construir um muro na fronteira com o México ou banir os muçulmanos de entrar na América do que pelos atos a favor da paz.
O Papa Francisco e a chanceler alemã Angela Merkel também voltaram à lista, já sem o favoritismo claro de outros anos.
• PRÉMIO NOBEL DA QUIMÍCA
O prémio Nobel da Química 2016 foi atribuído a Jean-Pierre Sauvage, J. Fraser Stoddart e Bernard L. Feringa pela "conceção de equipamentos de síntese molecular".
Os três galardoados pela Real Academia Sueca das Ciências desenvolveram "as máquinas mais pequenas do mundo", considerando que, ao miniaturizarem a tecnologia, elevaram a Química "a uma nova dimensão".
• PRÉMIO NOBEL DA FÍSICA
David J. Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz
O prémio Nobel da Física de 2016 foi atribuído a David J. Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz, por revelarem os segredos da matéria exótica. O trio britânico - e não norte-americano, como inicialmente referido - a desenvolver atividade nas universidades dos EUA fez significantes descobertas teóricas sobre as "transições da fase topológica" e as "fases topológicas da matéria".
Segundo o comunicado da Real Academia Sueca das Ciências, os três cientistas britânicos agora distinguidos revelaram os segredos da matéria exótica no mundo quântico.
"Os laureados deste ano abriram a porta para um mundo desconhecido onde a matéria pode assumir estados estranhos. Usaram métodos matemáticos avançados para estudar fases, ou estados, pouco habituais da matéria, como os supercondutores, superfluidos ou películas magnéticas finas", pode ler-se no comunicado.
Graças ao trabalho pioneiro dos três investigadores, a comunidade científica procura agora novas e exóticas fases da matéria e há uma grande esperança nas suas potenciais aplicações, tanto na ciência de materiais como na eletrónica.
Contactado em direto pela academia durante a cerimónia de anúncio dos prémios, F. Duncan M. Haldane manifestou-se "muito surpreendido e muito grato" pela distinção.
"Este trabalho foi realizado há muito tempo, mas agora há novas descobertas a acontecer baseadas nesse trabalho. Há muita esperança de que estes novos materiais tenham grande potencial", disse o cientista, que admitiu: "como em outras descobertas, tropeçamos nelas e nem nos apercebemos das implicações até que outras pessoas comecem a falar disso".
O uso dos conceitos topológicos pelos três laureados foi decisiva para as suas descobertas, escreve a academia, que explica que a topologia é um ramo da matemática que descreve propriedades que só mudam passo a passo.
"Usando a topologia como instrumento, conseguiram surpreender os especialistas", pode ler-se no comunicado.
As descobertas ocorreram no início dos anos 70 e nos anos 80, mas na última década esta área de investigação impulsionou pesquisas de vanguarda em física da matéria condensada, esperando-se que estes materiais topológicos possam vir a ser usados nas novas gerações da eletrónica e dos supercondutores ou nos futuros computadores quânticos.
A investigação atual está a revelar os segredos da matéria nos mundos exóticos descobertos pelos prémios Nobel da Física deste ano.
O prémio Nobel corresponde a uma recompensa de oito milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de 834.000 euros, que será partilhado pelos cientistas: metade para David J. Thouless, da universidade de Washington, em Seattle, EUA, e outra metade a dividir entre F. Duncan M. Haldane, da Universidade de Princeton, em Nova Jérsia, e J. Michael Kosterlitz, da Universidade Brown, em Providence, ambas nos EUA.
Yoshinori Ohsumi
O Prémio Nobel da Medicina foi atribuído ao japonês Yoshinori Ohsumi, pela investigação do especialista dos "mecanismos da autofagia", informou a academia sueca.
Em comunicado, a academia refere que o laureado "descobriu e elucidou" sobre os mecanismos da autofagia, um "processo fundamental para a degradação e reciclagem dos componentes celulares".
A palavra autofagia vem das palavras gregas 'auto', que significa "o próprio", e 'phagein', que significa comer, pelo que significa comer-se a si próprio.
O conceito da autofagia emergiu na década de 1960, quando os investigadores observaram pela primeira vez que a célula tinha a capacidade de destruir os seus próprios componentes. O termo de "autofagia" foi cunhado em 1963 por Christian de Duve, também ele distinguido com o Nobel da Medicina, em 1974.
As dificuldades em estudar este mecanismo determinaram que permanecesse praticamente desconhecido até que Yoshinori Ohsumi, especialista em biologia celular, conseguiu através de uma série de experiências com fermento de padeiro identificar os genes essenciais para a autofagia, no início da década de 90 do século passado. As descobertas do japonês levaram à instituição de um novo paradigma no entendimento de como as células reciclam o seu conteúdo.
"As suas descobertas abriram o caminho à compreensão da importância fundamental da autofagia em muitos processos fisiológicos, como a adaptação à fome ou a resposta à infeção. As mutações nos genes da autofagia podem provocar doenças e o processo autofágico está envolvido em diversos problemas, incluindo o cancro e a doença neurológica.
Embora a autofagia seja conhecida há mais de 50 anos, a sua importância fundamental na fisiologia e na medicina só foi reconhecida após a investigação de Yoshinori Ohsumi nos anos 1990, que o júri do Nobel da Medicina considera ter operado uma mudança de paradigma.
Yoshinori Ohsumi nasceu em 1945 em Fukuoka, no Japão e terminou o seu doutoramento na Universidade de Tóquio em 1974.
Após três anos na Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, regressou à Universidade de Tóquio, onde estabeleceu a sua equipa de investigação, em 1988.
Desde 2009, é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio.
PRÉMIOS NOBEL
Os prémios Nobel, criados em 1895 pelo químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (inventor da dinamite), foram atribuídos pela primeira vez em 1901.
in Diário de Notícias | outubro de 2016
Os prémios serão entregues dia 10 de dezembro,
data da morte do fundador do prémio, Alfred Nobel, em 1896.