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Mais de 6 mil tesouros para a Caixa Forte da Ajuda

A coroa que veio do Brasil, o peitoril de uma irmã de D. Maria e outras joias vão poder ser vistas na Ajuda quando o palácio inacabado receber o seu novo museu.

 

Algumas não são vistas desde a exposição Tesouros Reais, em 1991. Outras, há mais de 100 anos que não veem a luz. Um cenário o que mudará em dezembro de 2018, quando abrir ao público o remate da ala poente do Palácio da Ajuda, o projeto pensado para albergar as Joias da Coroa, um acervo de mais de 6 mil peças, que foi apresentado ontem na assinatura do protocolo entre as entidades financiadoras: ministério da Cultura, câmara municipal de Lisboa (CML) e Associação de Turismo de Lisboa (ATL).

A laça com esmeraldas e diamantes do final do século XVIII  |  DR

 

O diretor do Palácio Nacional da Ajuda, elenca algumas das preciosidades que estarão nesta futura caixa-forte que ocupará a ala poente, inacabada há mais de200 anos, da última residência real: "Pratas de aparato, joias privadas, pedras que não foram talhadas, que nunca saíram dos cofres reais". E dá exemplos: a coroa executada no Rio de Janeiro em 1817 por António Gomes da Silva para a aclamação do rei D. João VI. Tem quase 35 centímetros de diâmetro, rica em materiais (ouro, prata, veludo e ferro) e simbolismo histórico.

"É uma coroa de representação. Pertenceu ao único rei europeu que foi acalmado nas Américas", explica José Alberto Ribeiro.

Outro cabeça de cartaz há de ser a laça de esmeraldas colombianas, diamantes, ouro e prata que pertenceu a uma irmã de D. Maria é outra das peças importantes da coleção. "Era usada como peitoril nos vestidos do século XVIII".

Como a caixa de rapé em ouro, prata e esmeraldas que foi mandada fazer para D. José ao ourives do rei Luís XV, entre 1755 e 1756, no pós-terramoto. Terá sido vista por Madame Pompadour, amante do monarca francês, antes de chegar ao dono. "A Madame Pompadour terá ficado maravilhada pela riqueza e virtuosismo da peça". José Alberto Ribeiro descreve a caixa de tabaco: "Está cravejada de diamantes e esmeraldas, o reverso da peça é todo trabalhado".

A caixa de rapé de D. José é de um ourives francês   |  DR/MANUEL SILVEIRA RAMOS
 

Coleções como a portuguesa existem poucas. "Tivemos um pedido de empréstimo para os museus do Kremlin, em Moscovo. Não é que não tenham a máxima segurança, mas são para estar numa exposição permanente, é o que espero que venha a acontecer", considera o diretor, à frente do palácio desde 2013. "Quem as conhece sabe o valor delas".

José Alberto Ribeiro sucedeu a Isabel Silveira Godinho, que durante anos defendeu a criação de um museu para mostrar este acervo, como lembrou ontem o primeiro-ministro, António Costa, na apresentação do projeto, "um dia histórico", com a atual ruína como cenário de fundo.

A entrada para a exposição dos Tesouros Reais  |  DR/MANUEL PALMA

 

"Não é todos os dias que temos a oportunidade de acabar o que estava inacabado há 200 anos", disse o presidente da câmara de Lisboa, autarquia a quem caberá um investimento de 6 milhões de euros na obra, através do Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, isto é, a taxa de 1 euro que pagam todos os que pernoitam na capital por menos de uma semana. "Muitos criticaram a opção, mas com foi com as taxas e taxinhas que se concluiu a obrazinha".

O financiamento de 15 milhões de euros completa-se com 4 milhões da Direção Geral do Património Cultural (da indemnização do seguro pelo roubo das joias em Haia, em 2002), 2 milhões de euros da Associação de Turismo de Lisboa (ATL) e 3 milhões de empréstimo a contratualizar.

O acordo entre as partes ontem assinado tem a duração de 20 de anos. Em 12 anos, deverá estar pago, de acordo com as estimativas de de 200 mil visitantes por ano. O número está em linha com o que acontece em instituições semelhantes, como a Residência de Munique, onde viveram os reis da Baviera, ou o Palácio de Hofburg, em Viena. O Palácio da Ajuda recebeu 67 645 visitantes, o Mosteiro dos Jerónimos, o mais visitado, registou 943 831 entradas.

A receita será repartida irmãmente pela ATL e pela DGPC, segundo Fernando Medina. Aos primeiros caberá a gestão operacional do futuro museu, aos segundos o acompanhamento científico e museográfico.

 


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 20 de setembro de 2016

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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