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Teatro São João enfrenta "os últimos dias da Humanidade"

Texto integral da obra que o dramaturgo Karl Kraus dedicou à 1ª Guerra Mundial vai ser apresentado em Portugal.

Os Últimos Dias do Paraíso é uma sátira terrível da guerra DR

 

A pretexto do centenário da Primeira Guerra Mundial (1914-18), o Teatro Nacional São João (TNSJ) enfrenta a empresa desmesurada de encenar a obra que se constituiu como um dos retratos simultaneamente mais terríveis mas também mais fiéis desse acontecimento que mudou o mundo. Trata-se de Os Últimos Dias da Humanidade, a imensa fantasmagoria que o dramaturgo austríaco Karl Kraus (1874-1936) escreveu ao longo de cerca de oito anos (1915-22), acompanhando a evolução do conflito e as suas consequências mais imediatas na redefinição do mapa da Europa e do mundo.

Nuno Carinhas, diretor artístico do TNSJ, e Nuno M Cardoso são os encenadores desta aventura, na sua primeira montagem integral em Portugal, que vai marcar a rentrée do teatro nacional portuense, cuja programação foi apresentada esta quinta-feira no Teatro Carlos Alberto (TeCA) – ocasião também aproveitada para a “inauguração” da nova imagem da fachada desta casa de espetáculos, transformada em tela de arte pública e ocupada pelo projeto Landscape, de Martinha Maia.

Em declarações ao PÚBLICO antes da sessão, Nuno Carinhas explicou que o projeto de encenar esta “sátira terrível da guerra” surgiu já há três anos, quando, com Nuno M Cardoso, fez a leitura pública da tradução então existente no Serralves em Festa.

“Foi com grande entusiasmo que enfrentámos esta utopia, esta missão impossível, e pedimos a António Sousa Ribeiro para traduzir a obra integral”, disse o encenador, avançando que, em simultâneo com a estreia, agendada para o dia 27 de outubro, será também editada a versão portuguesa da obra.

Os Últimos Dias da Humanidade é “um monstro de géneros dramatúrgicos” num fólio de 700 páginas, que tem vindo a ser encenado apenas parcialmente. “Para além de teatro, é um tratado sobre a Humanidade", que não fica confinado à história da Primeira Guerra Mundial, embora acompanhe cronologicamente a evolução da Europa desde o assassínio do arquiduque Franz Ferdinand, em junho de 1914, até ao colapso das potências da Europa Central (Alemanha e Áustria-Hungria), em outubro de 1918. “É um Carnaval expressionista, que acaba numa grande fantasmagoria só comparável a um quadro de Bosch”, acrescenta Nuno Carinhas.

A peça será apresentada em três partes, autónomas mas interdependentes, alternadamente entre 27 de outubro e 18 de novembro – no dia 19, haverá “uma maratona teatral” com a versão integral.

Mais seis estreias

Além da obra de Karl Kraus, a programação do TNSJ – nos seus diferentes palcos – até ao final do ano vai contar com seis outras estreias. A primeira é a que marca o regresso da atividade, já no próximo dia 15, com Cordel, um texto de José Carretas e Amélia Lopes, com encenação do primeiro, numa co-produção com a Panmixia. É uma homenagem à literatura oral e de cordel, que se “desenrola como umas Mil e Uma Noites que tivessem lugar num barroco tardio e de feira”, descreve Nuno Carinhas.

“Sinto-me confortável com este programa, que dá grande espaço à criação e à língua portuguesa. O teatro de texto, com originais ou traduções, é aquele que privilegiamos no TNSJ”, acrescenta o diretor artístico, referindo-se não apenas a esta produção como à seguinte, Bácoro (TeCA, 29 de setembro), uma criação de Ricardo Alves com a artista plástica Sandra Neves. História de “homens e porcos, de amor e violência, triunfos e matanças”, é a segunda co-produção do Teatro da Palmilha Dentada com o TNSJ, depois de A Cidade dos que Partem (2009).

Outro regresso à co-produção com o teatro nacional portuense é o do Pé de Vento, com João Luiz a encenar um texto escrito por Gonçalo M. Tavares, O Bem, o Mal e o Assim-Assim (TeCA, 21 de outubro). Terceira colaboração do escritor com esta companhia portuense que tem vindo a privilegiar o teatro para a infância e juventude – depois de O Senhor Juarroz (2007) e O Senhor Valery (2009) –, é “um diálogo entre dois excelentíssimos sujeitos” e sobre a natureza do Bem e do Mal – explica o encenador.

Outro escritor contemporâneo, Jacinto Lucas Pires, é o autor de Henrique IV, Parte 3 (TeCA, 9 de novembro), que o próprio também encena. É a história da vida vulgar de um casal e do encontro com uma personagem de Shakespeare, Falstaff – “Exato, o próprio. O grande gordo genial de Shakespeare”.

Duas outras estreias serão Cinco Formas de Morrer de Amor, da soprano Catarina Molder (TNSJ, 30 de setembro), e Climas, da Circolando de André Braga e Cláudia Figueiredo (TNSJ, 8 de dezembro). O primeiro é uma co-produção com a Ópera do Castelo, de Lisboa, para o Dia Mundial da Música, num espetáculo musical e cénico com direção de Lígia Roque e um quarteto de cordas e Catarina Molder em palco a recriarem uma viagem que vem do pós-romantismo sensual de Ernest Chausson até à pop dos Clã, passando por Chagas Rosa e Shostakovich. Já Climas será um espetáculo transdisciplinar de dança, teatro, som e vídeo, que vai beber a Goethe “uma espécie de hipersensibilidade climática”, explorando “a força e imprevisibilidade de nos deixarmos atravessar pelas mais variadas forças naturais”.

Teatros da Europa no Porto

Fora da agenda das estreias, e entre as inúmeras iniciativas que fazem o calendário dos próximos quatro meses, destaca-se a receção, no Porto, em novembro, da assembleia-geral da União dos Teatros da Europa (UTE), de que o TNSJ é o único membro português.

“Vai ser um momento de extrema importância. Nós somos um país periférico, e por isso temos sempre grande dificuldade em mostrar os nossos espetáculos na Europa. Por essa razão, vamos aproveitar esses quatro dias para mostrar produções nossas, mas não só”, diz Nuno Carinhas.

Assim, entre 17 e 20 de novembro, os representantes da UTE vão poder assistir a um showcase com quatro produções: Os Últimos Dias da Humanidade; Subterrâneo, que Luís Araújo encenou a partir de Dostoiévski; Pensa, Logo Sangra, de Álvaro Garcia de Zúniga, produção do Teatro da Rainha com encenação de Fernando Mora Ramos que também integra uma Maratona de Formas Breves no Mosteiro de São Bento da Vitória (2 a 18 de novembro); e What a rogue am I?, de Rui Pina Coelho, com encenação de Gonçalo Amorim numa produção do TEP cruzada com a programação do Teatro Municipal Rivoli.

Ainda no programa da UTE, realiza-se a mesa-redonda Economia, Arte, Europa (18 de novembro), com destaque para a presença do economista checo Tomáš Sedlácek, autor do best seller A Economia do Bem e do Mal


por Sérgio C. Andrade, in jornal Público | 9 de setembro de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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