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Os corpos em movimento de Almada

"As Banhistas" de Almada Negreiros, é um óleo sobre tela que foi encomendado para o café A Brasileira em 1925. Uma obra única de síntese entre o clássico e o moderno

As Banhistas, óleo sobre tela

Duas mulheres esguias de fato de banho, sentadas (imaginamos que na praia). Este quadro de Almada Negreiros, As Banhistas, um óleo sobre tela, foi feito para decorar o café A Brasileira no Chiado, em Lisboa. Em 1925, o proprietário, aproveitando uma remodelação, encomendou "pinturas modernas para decorar as suas paredes com obras de arte da nova geração de artistas. Numa altura em que não existiam galerias nem mercado de arte, e as oportunidades de expor eram escassas, o café A Brasileira tornava-se assim numa galeria de pintura moderna permanente e as obras expostas passaram a fazer parte da vida mundana lisboeta. Em 1971 os quadros de 1925 foram retirados e substituídos por novas encomendas a artistas contemporâneos, quadros estes que ainda podem lá ser vistos."

O relato é da historiadora de arte e curadora da Fundação Calouste Gulbenkian, Mariana Pinto dos Santos. "Neste quadro vemos um tema clássico muitas vezes reinterpretado na pintura moderna", sublinha. "Na modernidade os temas e géneros instituídos na tradição pictórica não foram abandonados pelos artistas. No entanto, foram totalmente reconfigurados". Como? "Os corpos foram alongados e as suas proporções desnaturalizadas, e a paleta é bastante térrea, pouco veraneante (mas sabemos que foi escurecida pelo fumo habitual do café onde esteve décadas). As duas mulheres estão num falso espelho em relação uma à outra, podemos observar uma de costas e outra de frente, e o veleiro que passa no mar parece ligá-las entre si, ao mesmo tempo que acentua a composição triangular da pintura", descreve. Para a historiadora de arte, As Banhistas é uma pintura única precisamente pelo diálogo entre o clássico e o moderno.

Autor de uma extensa obra, Almada Negreiros "tinha um interesse grande pelas linhas dos corpos em movimento, em esforço ou em repouso, estirados ou dormindo, e o pretexto da cena de praia era eficaz para esse tipo de exploração recorrente nas suas obras e estudos desenhados", explica. Outra marca do autor, os trabalhadores do mar (pescadores, varinas, trabalho de estiva, construção naval) está bem expressa nas pinturas murais das gares marítimas de Alcântara (1945) da Rocha do Conde de Óbidos (1949) - que fez a convite do arquiteto Pardal Monteiro.

Foi respondendo a um convite deste arquiteto, que Almada desenhou as pinturas murais do edifício do Diário de Notícias (1940), na Avenida da Liberdade, assim como o globo e o vitral da entrada, lembra. "Como tantos outros artistas europeus da mesma época (e doutras épocas também), Almada Negreiros tinha nestes vários géneros de colaborações e encomendas o seu meio de subsistência. Além disso, havia em comum uma convicção de que a modernidade era para estar em todo lado, nos edifícios, nas suas fachadas, nos objetos e percursos do quotidiano, no teatro, no cinema, na dança. A modernidade era para ser vivida em pleno na cidade e os artistas modernos respondiam quando eram convocados para a fazer acontecer."

Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, das 10 às 18.00 [exceto terças-feiras]

 


por Mariana Marques, in DN | 29 de agosto de 2016
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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