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Restauro de órgãos históricos únicos no mundo dinamizou Mafra

Responsáveis pelo monumento e autarquia esperam que a futura reabilitação dos sinos e carrilhões dê ainda mais ânimo à vila. 

Órgão de Mafra em 2010, já depois do restauro - Miguel Manso


Em novembro de 2017, palácio e convento festejam os 300 anos do lançamento da primeira pedra e os órgãos voltarão a tocar.

O restauro do conjunto, único no mundo, dos seis órgãos históricos do Palácio Nacional de Mafra, concluído em 2010, revitalizou a vida cultural e levou mais turistas a visitar o monumento e a vila.

Em 2010, os órgãos tocaram pela primeira vez em conjunto ao fim de 200 anos e a curiosidade de ouvir sonoridades e composições escritas para aqueles instrumentos, e que permaneciam desconhecidas, contribuiu para o início de um ciclo anual de concertos que, desde 2011, conta com mais de 40 mil pessoas na assistência.

Os órgãos, "por serem um equipamento cultural único e patrimonialmente importante para nos ajudar a compreender aspetos da pompa barroca, potenciaram uma das singularidades do monumento e, assim, fizeram atrair um público específico, quer nacional quer estrangeiro", afirma à agência Lusa Mário Pereira, diretor do palácio.

Os números falam por si, segundo este responsável. Dados da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) apontam para um crescimento - de 235 mil em 2012 para mais de 300 mil visitantes em 2015. Além de o público poder ouvir os seis órgãos, os concertos permitem também divulgar composições escritas de propósito há 200 anos, a pedido do rei D. João V, para serem tocadas naquele conjunto.

Toda a economia local ganha com esta dinâmica. "Nos dias de concerto, há muita gente que vem almoçar a Mafra, passa o fim de semana na Ericeira e, depois do concerto, vai lanchar às pastelarias da vila", refere o presidente da Câmara, Hélder Sousa Silva. Para ajudar a potenciar o investimento, "Mafra decidiu também aderir à Rede Europeia de Cidades com Órgãos Históricos, o que permitiu projetá-la a nível europeu", lembra o autarca, revelando que, em 2017, a vila acolhe o encontro anual desta rede, uma oportunidade para ouvir o conjunto da basílica a ser tocado por organistas internacionais.

Além de outras iniciativas que gravitam em torno da música, o município e o Ministério da Cultura lançaram o Prémio Internacional de Composição para estimular o aparecimento de novas composições para estes instrumentos. "Quisemos aumentar a diversidade das partituras que são tocadas e aumentar a atratividade aos concertos", diz.

Dinarte Machado, mestre responsável pelo restauro dos órgãos de Mafra, acrescenta que trabalho ali feito alterou o modo de olhar para o património da organaria portuguesa. "Depois de se assistir a um concerto em Mafra, as pessoas são levadas a valorizar os órgãos que têm espalhados pelas suas terras e a ir aos concertos", frisa.

O restauro, que durou mais de uma década e custou 1,2 milhões de euros, continua a ser encarado como de inegável importância pelo estado de degradação a que tinham chegado e, logo em 2012, foi distinguido com o prémio europeu Europa Nostra. Dinarte Machado classificou-o como uma "experiência única" na sua carreira, por se tratar de seis órgãos que formam um conjunto único no mundo e pelos desafios que o restauro acabou por ter.

No final da década de 1990, o mestre deparou-se com órgãos em mau estado de conservação e sobre os quais pouco se sabia em termos de técnicas de construção, que remontam ao século XVIII. O restauro incidiu sobre cinco órgãos, visto que a construção do sexto não foi terminada no século XVIII, existindo peças suas dispersas pelo palácio, o que obrigou o mestre organeiro não só a montá-lo, como também a reconstruir a tubaria. "O órgão de São Pedro de Alcântara foi a chave para o conhecimento dos outros cinco", explica.

Com a reabilitação dos sinos e carrilhões do palácio, cujo concurso público está em fase de seleção de propostas, autarquia, DGPC e Ministério da Cultura esperam que Mafra ganhe outro novo impulso em 2017, data em que voltam a tocar.

A 17 de novembro de 2017, o monumento celebra os 300 anos sobre o lançamento da sua primeira pedra, estando a ser preparado um programa que vai arrancar este ano.


in Jornal Público | 12 de agosto de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Público  

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