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Maria João Pires "arrisca" segundo prémio Gramophone consecutivo
DVD com a pianista portuguesa tocando o Concerto n.º 3, op. 37, de Beethoven, num piano de 1849, é um dos seis candidatos a melhor gravação na categoria Concerto.
A pianista portuguesa Maria João Pires está de novo entre os candidatos a Melhor Gravação de Concerto dos prémios anuais da Gramophone. Estes prémios são o que de mais parecido com os Óscares existe na indústria da música clássica e são atribuídos desde 1977.
A edição de setembro da revista, disponível a partir de 17 do corrente, trará o top 3, enquanto que no dia 22 será anunciado online o vencedor dessa, bem como os das outras 11 categorias indexadas a gravações recenseadas ao longo do ano pelo painel de críticos da publicação.
Depois de em 2015 a pianista ter vencido esta categoria com a gravação dos concertos n.º 3 en.º 4 de Beethoven com a Sinfónica da Rádio Sueca e o maestro Daniel Harding (Onyx), é de novo Beethoven e de novo o Concerto em dó menor (o n.º 3) que valem à pianista nova nomeação e segunda consecutiva.
A gravação em causa foi efetuada a 28 de agosto de 2012, nas instalações da Rádio Polaca, em Varsóvia, no quadro do Festival Chopin e a sua Europa, e juntou a Maria João Pires a Orquestra do Século XVIII, dirigida por Frans Brüggen (1934-2014). O resultado foi este DVD editado pelo Instituto Fryderyk Chopin, e que contém ainda o documentário A Respiração da Orquestra, sobre a Orquestra do Século XVIII, de Kasia Kasica.
Uma peça de museu
Se Maria João Pires em DVD já é raro, mais raro ainda - não: é mesmo inédito! - é uma gravação dela a tocar um instrumento histórico.
No caso, trata-se de um piano de concerto Érard, de 1849 (não por acaso, o ano da morte de Chopin), minuciosamente restaurado por artesãos holandeses e adquirido em 2003 pelo Instituto Chopin para integrar a sua coleção. A firma Érard, sediada em Paris, foi das mais prestigiadas fabricantes de pianos da primeira metade do século XIX e instrumentos seus foram os preferidos de compositores e pianistas virtuose tão famosos como Chopin, Liszt ou Felix Mendelssohn. Décadas antes, em 1803, também Beethoven recebeu de oferta um piano de Érard.
Estamos, portanto, perante uma gravação que não pretendeu recuperar os instrumentos do tempo de Beethoven (1770-1827) - isso já foi feito por Robert Levin, na sua gravação dos cinco concertos para a Archiv -, em vez disso optando por um piano sensivelmente da época em que a obra para piano de Beethoven se começou a impôr nos salões e salas de concerto.
Palavra(s) de crítico
Na sua recensão, Richard Osborne, que escreve há mais de 40 anos para a Gramophone, após muitos elogios ao instrumento, afirma que a interação de Pires com o Érard "é uma delícia". Ela, prossegue, "harmoniza infalivelmente a difícil conjugação de baixos poderosos e brilho tilintante do registo agudo" do instrumento. Fala de "uma abordagem ponderada" do Concerto, na qual Pires "casa discretamente os recursos tímbricos do instrumento com a segurança e faculdade discriminatória do seu toque (o chamado toucher)". E, por comparação com o maestro do CD vencedor em 2015, diz que Brüggen "é um acompanhador mais generoso e amável do que Harding".
Quanto à Orquestra do Século XVIII e a Frans Brüggen, são ambos "velhos" conhecidos: uma e outro gozaram de relação estreita com a Gulbenkian ao longo de anos, e período houve em que o Coro Gulbenkian era sempre o escolhido de Brüggen (flautista de formação, especialista no Classicismo e 1.º Romantismo), sempre que abordava repertório coral-orquestral. Esta terá sido aliás uma das últimas gravações do músico holandês.
Concorrência de respeito
A competição de Pires é muito forte, como se esperaria: as violinistas Janine Jansen (concertos de Bartók e Brahms, na Decca) e Vilde Frang (concertos de Britten e Korngold, na Warner) e o seu colega Christian Tetzlaff (obras de Dvorák e Suk, na Ondine); o violetista Maxim Rysanov (obras de Martinu, na BIS) e o pianista Daniil Trifonov (obras de Rakhmaninov e do próprio, na DG). Dentro de dias se saberá!
por Bernardo Mariano, in Diário de Notícias | 8 de agosto de 2015
no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias