"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

John Gallo descobriu a cor no paraíso da Ria Formosa

Fotógrafo português viveu um mês na Culatra para mostrar a luta dos moradores contra o projeto Polis.


John Gallo/ Direitos reservados

 

Na ilha de Culatra, na Ria Formosa, John Gallo podia ser mais um turista com a máquina fotográfica ao pescoço. Mas ele queria mais do que isso. Andou pelas praias, entrou pelas casas, ficou para almoçar e para jantar, ouviu histórias, fez amigos. "Vivi lá, andava a pé, fiz muitos quilómetros. É essa a minha maneira de trabalhar. Só assim consegui perceber exatamente o que pensam as pessoas que vivem naquelas ilhas." O fotógrafo esteve lá cerca de um mês, dividido em dois períodos: em outubro do ano passado e depois já em março deste ano. O resultado é o ensaio fotográfico A Home With a View - com imagens da Culatra e da Deserta e das pessoas que lutam há anos contra a expropriação imposta pelo programa Polis - que foi publicado no final de junho no site do The Guardian e que pode também ser visto no site do autor.

O projeto tinha vencido a bolsa de três mil euros atribuída todos os anos pelo jornal inglês e pela Royal Photographic Society. Na altura, o português John Gallo, oriundo de Leiria e desde 2011 a trabalhar em Londres, já sabia que iria lidar com "uma questão muito sensível", "gente que luta pelo seu direito à habitação" e que luta também pela preservação de "um dos últimos locais paradisíacos no país, ainda pouco explorado do ponto de vista turístico". "O meu objetivo não é diabolizar o Polis, mas quis chamar a atenção para este assunto."

As fotografias, dominadas por um azul intenso onde o céu e o mar se misturam, mostram o paraíso mas também o lado menos bonito: "Tem sido muito questionável o modo como este processo tem sido conduzido. Deitaram casas abaixo mas deixaram ficar as fossas séticas e os escombros. Como é que podem dizer que há uma preocupação ambiental?"

Para o fotógrafo este projeto acabou por ter efeitos secundários inesperados. Ele, que há meia dúzia de anos só fotografava a preto e branco (numa reação aos muitos anos em que trabalhou com fotografia comercial) achou que, desta vez, iria deixar as imagens com as suas cores originais. "O preto e branco seria mais dramático e gráfico mas não era isso que eu queria." E gostou tanto do resultado que já voltou a usar a cor noutros trabalhos. "Mas só quando me parece necessário", avisa.

Além disso, foi também com este trabalho no Algarve que começou o seu regresso a Portugal. Aos 47 anos, John Gallo ainda tem um pé em Inglaterra mas tem cada vez mais trabalhos por aqui e mais vontade de ficar no seu pais. "Aqui eu sei para onde vão todas as estradas", comenta. Está a montar uma agência de fotografia, Chappa, para trabalhar em Portugal e tem um curso um projeto intitulado Ruínas, sobre "o edificado português que já teve melhores dias", e também quer fotografar algumas cidades - começou com Viseu, há de andar por Lisboa ainda este ano. "Vou estar mais cá do que lá", conta. Desde que continue a fotografar, está bem em qualquer lugar.


por Maria João Caetano, in Diário de Notícias | 3 de agosto de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias 

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,877,930