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Obra-prima de Akira Kurosawa de volta aos cinemas

ESPAÇO NIMAS recebe, a 4 de agosto, a grande estreia deste Verão. A LEOPARDO FILMES traz de volta aos cinemas uma das obras mais emblemáticas do mestre japonês AKIRA KUROSAWADERSU UZALA.

 

Baseada na obra literária “Dersu Uzala”, de Vladimir Arseniev, esta co-produção da Mosfilm, rodada na Sibéria, narra o encontro, no começo do século XX, de um militar, explorador e topógrafo e de um caçador e guia, Dersu Uzala, cuja amizade se cimenta ao longo de uma expedição.

Publicado em 1923, “Dersu Uzala” é o conjunto das memórias do capitão Vladimir Arseniev enquanto engenheiro ao serviço do exército soviético. No livro, Vladimir Arseniev recorda a sua amizade com Dersu Uzala, um caçador nómada, que lhe salvou a vida por duas vezes, enquanto guia numa expedição na Sibéria, nos primeiros anos do século XX.AKIRA KUROSAWA cruzou-se com a obra de Vladimir Arseniev na década de 1940 e, aproveitando as circunstâncias particulares da sua carreira na altura, viu a oportunidade de voltar a trabalhar nesta obra, assinando o guião com o escritor soviético Yuri Nagibin. Anteriormente, KUROSAWA tinha tentado já adaptar esta obra ao cinema, numa versão japonesa que abandonou, devido à inadequação dos cenários japoneses. Em entrevista à revista Cinématographe, o realizador explica esta decisão: "Descobri há muitos anos as obras de Vladimir Arseniev e a personalidade de Dersu Uzala comoveu-me imediatamente. É um homem maravilhoso e descobri na sua história uma grande modernidade. Punha-se inevitavelmente um problema de cenário. Não podia realizar esse filme no Japão, uma vez que precisava de uma natureza virgem, imensa. Nas viagens que fiz pelo mundo acabei sempre por ver uma natureza destruída pela civilização e dei-me conta, afinal, de que só poderia filmar aquela história na Sibéria. Eram, além do mais, os mesmos lugares onde as personagens tinham vivido."

Rodado na Sibéria, o filme centra-se na relação que se vai construindo entre estas duas personagens, pertencentes a mundos completamente distintos – o capitão proveniente de um mundo urbano – e o nómada, em plena comunhão com a natureza. O projeto demorou cerca de quatro anos até estar concluído, dois deles passados na Sibéria, com nove meses de rodagem, e uma pequena equipa.

A estreia mundial de DERSU UZALA aconteceu no Verão de 1975, no Festival Internacional de Cinema de Moscovo, onde o filme venceu o Prémio de Ouro e o Prémio FIPRESCI, sendo recebido positivamente pela crítica.
Em 1976, DERSU UZALA venceu o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro, sendo o segundo filme de KUROSAWA a receber esta distinção (o primeiro Óscar foi com Rashomon, em 1950). Em 1990, KUROSAWA recebeu um óscar honorário pela sua carreira.

No início da década de 1970, a carreira e o espírito de AKIRA KUROSAWA passavam por uma fase menos favorável. Depois do insucesso do seu filme Dodescaden (1970), tanto devido à receção crítica como comercialmente, ao qual se juntava uma crise na indústria cinematográfica japonesa, o realizador tentou suicidar-se. Nos cinco anos seguintes, KUROSAWA não voltou a filmar. O regresso à realização aconteceu com a ajuda do cineasta soviético Serguei Guerassimov, que o encaminhou para os estúdios da URSS, a Mosfilm. O convite para a realização de DERSU UZALA surge assim como uma espécie de tábua de salvação, por parte dos estúdios Mosfilm, abrindo uma porta a uma nova fase na carreira de KUROSAWA.

Nascido em Tóquio, em 1910, AKIRA KUROSAWA é um dos maiores nomes do cinema japonês, a par com Kenji Mizoguchi ou Yasujiro Osu. Depois de estudar pintura clássica e moderna na Academia de Belas-Artes de Tóquio, respondeu a um anúncio que pedia assistentes de realização para um estúdio de cinema. Após alguns anos a trabalhar como argumentista, KUROSAWA estreou-se na realização. Depois da Segunda Guerra Mundial, e com Não Lamento a Minha Juventude (1946), começou a afirmar-se nos estúdios japoneses. Em 1948, começa a sua associação ao ator Toshiro Mifune. Até 1965, a relação entre Kurosawa e Mifune passará a ser uma constante das respetivas carreiras. Ambos conquistaram notoriedade no Ocidente quando Rashomon, que Mifune protagoniza, conquistou o Leão de Ouro do Festival de Veneza. Esse triunfo e reconhecimento de Kurosawa pelos ocidentais permitiu-lhe um segundo fôlego na carreira. A partir daí, os seus filmes, libertos de constrangimentos económicos, passaram a ser mais ambiciosos, tanto no plano económico, como no plano artístico. Os Sete Samurais, retrato das guerras civis no Japão, volta a ser distinguido em Veneza (desta vez com o Leão de Prata). Em 1980, com Kagemusha - A Sombra do Guerreiro, conquista a Palma de Ouro em Cannes, e dois anos mais tarde recebe o Leão de Ouro pela sua carreira no Festival de Veneza. Madadayo - Ainda Não!,de 1993, foi o seu último filme. AKIRA KUROSAWA morreu a 6 de setembro de 1998.
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