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Governo quer Mirós no Porto
"Já existem em Lisboa muitos museus", diz ministro da Cultura. "Agora o Porto tem de dizer se quer os Mirós", desafia.
O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, revelou que "é desejo do Governo que os Mirós fiquem no Porto", justificando que "já existem em Lisboa muitos museus" de arte moderna e contemporânea.
Numa entrevista ao jornal Público publicada, após três meses de início de funções no cargo, na sequência da demissão de João Soares, o ministro da Cultura fala nas questões mais urgentes que encontrou na tutela, e nas marcas que pretende deixar nesta área.
"É desejo do Governo que os Mirós fiquem no Porto, agora o Porto tem de dizer se os quer", disse o ministro ao diário, ressalvando que não pretende que vão para o Museu de Serralves, onde parte da coleção vai ser exibida a partir de outubro deste ano.
Luís Filipe Castro Mendes indicou que o desafio vai ser lançado àquela cidade, a toda a sociedade, às entidades que tiverem interesse, e comentou que "se Câmara do Porto tiver uma solução, será uma notícia interessante".
Em Lisboa, justificou o ministro, já existem o Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, o Museu Coleção Berardo, cuja coleção está em negociações, "em fase avançada", e será ainda inagurado em outubro, em Belém, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, iniciativa da EDP.
Em abril, quando se deslocou ao Porto, Castro Mendes tinha reiterado as intenções anunciadas tanto pelo antecessor, João Soares, como pelo primeiro-ministro, António Costa, de que a coleção era para ficar em Portugal, e que seria exibida em Serralves.
As 84 obras de Joan Miró (1893-1983), na sua maioria pinturas - depositadas em cofres das instalações da Caixa Geral de Depósitos, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa - estão na posse da Parups e da Parvalorem, sociedades de capitais públicos criadas em 2010 para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-Banco Português de Negócios (BPN).
Sobre a coleção ainda correm processos nos tribunais interpostos há cerca de dois anos pelo Ministério Público contra o processo da venda da chamada coleção Miró no estrangeiro, e a impugnação do arquivamento da classificação da coleção, decidida pela anterior tutela da cultura, do Governo PSD/CDS, e que envolve ainda as empresas portuguesas e a Christie"s, contratada para vender as obras num leilão em Londres.
Ao jornal Público, o atual ministro da Cultura disse que estas obras de Miró "estão na esfera pública", sob a alçada do Ministério das Finanças, que as ações que decorrem no tribunal não são um entrave à sua exibição em Portugal, estando a tutela a avaliar se o Estado fica com parte delas ou com todas.
Acrescenta ainda que o Ministério da Cultura vai apoiar Serralves na apresentação da exposição com "quase 200 mil euros" e "vai renunciar a uma parte das receitas de bilheteira".
De acordo com o sítio "online" do Museu de Serralves, a exposição "Joan Miró: Materialidade e Metamorfose", inaugura a 30 de setembro, e ficará patente entre 01 de outubro deste ano e 28 de janeiro de 2017.
A exposição de parte das 84 obras de Miró - entre 75 a 80, segundo Serralves - criadas durante seis décadas da carreira do artista, entre 1924 e 1981, é comissariada por Robert Lubar Messeri, especialista mundial na obra do artista catalão, e o desenho arquitetónico da exposição estará a cargo do arquiteto Álvaro Siza Vieira.
por Mário Cruz/Lusa, in Diário de Notícias | 25 de julho de 2016
no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias