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Obras de Le Corbusier, Óscar Niemeyer e Frank Lloyd Wright candidatas a Património da Humanidade
Este ano, não há nenhuma candidatura portuguesa entre os 29 sítios de todo o mundo que querem ser Património da Humanidade, e que vão ser avaliados na 40.ª sessão do Comité da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que começou este domingo em Istambul e decorre até ao próximo dia 20.
Portugal está ausente da lista dos 29 sítios que vão ser analisados na 20.ª reunião do comité da UNESCO, em Istambul.
Entre as candidaturas sobre a mesa estão obras de três nomes fundamentais da arquitetura no século XX: o franco-suíço Le Corbusier, o brasileiro Óscar Niemeyer e o norte-americano Frank Lloyd Wright.
Do arquiteto comummente associado à fundação do Movimento Moderno, foi candidatado um conjunto de 17 casas, uma dezena delas construídas em França, país que apresenta a candidatura, e as outras dispersas por mais seis países (Suíça, Bélgica, Alemanha, Argentina, Japão e Índia), a mostrar a dimensão planetária da obra de Charles-Edouard Jeanneret-Gris (1887-1965), que ficou consagrado na história com o nome Le Corbusier. A sua arquitetura marcada pela funcionalidade, pela pureza de linhas e pela utilização de novos materiais, nomeadamente o betão, foi inicialmente candidatada em 2009, num processo que foi depois sucessivamente atualizado. Chega agora a Istambul reforçada com um "parecer positivo” do comité de especialistas que faz a pré-avaliação dos projetos, diz a AFP.
De Óscar Niemeyer (1907-2012), o Brasil candidata o conjunto arquitetónico moderno de Pampulha, em Belo Horizonte. Trata-se de um complexo construído na década de 1940 em volta de uma lagoa artificial, que inclui uma Igreja (São Francisco de Assis), um museu, um clube de ténis, um casino e uma casa de baile, e que de algum modo antecipou esteticamente aquilo que seria depois a contribuição do arquiteto brasileiro para o desenho da cidade de Brasília.
Segundo a AFP, a candidatura do conjunto de obras de Frank Lloyd Wright (1867-1959), nos Estados Unidos, poderá ver a sua aprovação adiada, já que o dossier carecerá ainda de aprofundamento.
Estas três candidaturas na área da arquitetura fazem parte das 16 relativas a sítios culturais, a que se acrescentam nove sítios naturais e quatro mistos, completando os 29 itens em discussão em Istambul. Entre os lugares naturais estão complexos pré-históricos como a reserva de Mistaken Point, no Canadá, com fósseis de mais de 560 milhões de anos; o santuário de arte rupestre de Zuojiang Huashan, na China, que remonta ao século V a.C.; ou os dolmens de Antequera, na Andaluzia, Espanha; também o deserto de Lout, no Irão; o arquipélago de Revillagigedo, no México; e a cadeia montanhosa dos Puys, em França, são candidatos.
No decorrer dos 11 dias de reunião, o comité da UNESCO (composto por representantes de 21 países) vai também atualizar a lista do património em perigo, que atualmente identifica 48 sítios, e eventualmente acrescentar-lhe alguns novos, como o Vale de Katmandu, no Nepal, afetado pelo violento sismo de Abril de 2015.
Candidaturas que podem originar polémica – avança também a AFP – são as apresentadas pela Inglaterra e pela Tailândia. O primeiro país pediu a classificação das grutas neandertais de Gibraltar, algo que a Espanha (que, ao contrário de Portugal, não integra atualmente o Comité do Património Mundial) poderá tentar contestar. O mesmo poderá fazer a Birmânia, que reivindica que um terço da área das florestas de Kaeng Krachan, candidatadas pela Tailândia a Património Natural, se encontra no seu território. Por outras razões, a candidatura apresentada pela Turquia relativamente ao sítio arqueológico de Ani, antiga capital da Arménia, pode fazer reavivar os conflitos entre os dois países.
Mas o tema mais presente na reunião é o terrorismo, com os últimos atentados do Daesh ao património cultural e a sítios já classificados como herança da Humanidade na Síria (Palmira e Alepo) e no Iraque (Mossul) bem frescos na memória. Disso mesmo falou domingo, na abertura dos trabalhos, a atual diretora-geral da UNESCO, a búlgara Irina Bokova – uma das figuras atualmente na corrida à secretaria-geral da ONU. E a própria escolha da cidade turca, cujo aeroporto internacional foi recentemente palco de um atentado que vitimou 47 pessoas – uma cidade “que faz a ponte entre o Leste e o Ocidente”, assinalou Bokova – para a reunião foi apresentada como “uma mensagem importante” para o mundo numa altura em que “extremistas violentos ameaçam a diversidade cultural”.
“A resposta [da comunidade internacional] deve ser forte” face “aos extremismos que ameaçam e manipulam a cultura, e alimentam o medo”, acrescentou o diretora-geral da UNESCO, fazendo notar que “o que está em jogo” em Istambul, mais do que a nova lista do Património Mundial, é “reafirmar os valores humanos, os direitos do homem, e servirmo-nos do património para retomar a confiança”.
Uma mensagem com que o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, fez coro, ao referir que o terrorismo ameaça “não apenas as populações, mas também o nosso património comum”. “Temos de agir em conjunto para fundar uma cultura da tolerância”, defendeu Kurtulmus, felicitando a UNESCO por ter escolhido para sede da presente reunião Istambul, “cidade que foi berço de muitas grandes civilizações”.
A lista do Património Mundial da UNESCO conta hoje com 1031 itens, de 163 países. Portugal tem nela 15 inscrições, registadas entre 1983 (Centro Histórico de Angra do Heroísmo, Açores; Mosteiro da Batalha; Convento de Cristo, Tomar; Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Lisboa) e a Universidade de Coimbra (2013).
por Sérgio C. Andrade, in Público | 11 de julho de 2016
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público