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Cascais aposta no maior festival cultural
São mais de 60 autores nacionais e mais de 20 estrangeiros que vão estar em Cascais no Festival Internacional de Cultura.
Os números da segunda edição do Festival Internacional de Cultura (FIC) em Cascais são tão impressionantes que a própria organização decidiu denominar o festival como a "rentrée cultural" e o "maior evento cultural do país". Não deixa de ter alguma razão, pois estão confirmados mais de 60 autores nacionais e mais de 20 estrangeiros. Entre estes, uma mão cheia de ingleses, o que leva a programadora, Inês Pedrosa, a afirmar que a questão do Brexit e da situação europeia atual terá em Cascais um lugar para ser pensada a alto nível intelectual.
Ontem, na apresentação do FIC, ficou-se a saber também que a programação do festival ainda não está fechada, mesmo que ronde já a centena de iniciativas calendarizadas entre os dias 9 e 18 de setembro. Segundo Tiago Morais Sarmento, o responsável do grupo Leya, um dos principais organizadores da iniciativa, ainda existem presenças por confirmar e eventos a anunciar: "Queremos criar um clima de festa próprio para as famílias, tendo sempre em conta um equilíbrio entre os vários pequenos e grandes públicos que sentem interesse pela programação do FIC. Outra das ambições, disse, é transformar o FIC num "festival incontornável e com projeção internacional". Não deixando de realçar a particularidade de todas as entradas serem gratuitas.
Quanto à programação, a responsável fez questão de referenciar que o Festival Internacional de Cultura foi organizado para "se poder pensar mesmo num tempo em que se vive aceleradamente". Para Inês Pedrosa, a componente "cultura" não se resumirá a expressões artísticas como a do teatro, cinema ou da música: "A intenção é permitir a reflexão pela literatura sobre a sociedade, a economia e a História, daí que tenhamos muitos autores preocupados com essa realidade nos vários painéis já estabelecidos."
Inês Pedrosa refere que não quis repetir nesta edição a presença dos autores da de 2015 e que, mesmo sendo a participação maioritária de escritores editados na Leya, houve a preocupação de encontrar valores consagrados para estes debates. Outra das novas orientações é, apesar de manter sempre o cenário da língua portuguesa sobre a mesa, focar desta vez a lusofonia no Brasil em vez de em África: "São vários os representantes da cultura brasileira que vão estar presentes, o que fará com que este FIC não seja mais do mesmo."
Uma característica que se nota na programação é a preocupação de registar-se uma participação mais paritária do que é habitual. "Em todas as mesas há mulheres e não estarão ali para servir de majoretes dos homens como acontece em muitos eventos deste género. No estrangeiro também! Quis trazer a Chimamanda Ngozi Adichie, mas ela foi mãe e não foi possível", esclareceu Inês Pedrosa.
O FIC tem como tema "William Shakespeare: a Herança da Liberdade", sendo que os vários encontros e debates serão sempre subordinados a uma frase retirada das suas obras. A primeira sessão terá uma das suas mais famosas frases como tema, "Ser ou não ser: eis a questão", e dá o ponto de partida para aquela que será por certo uma das sessões mais concorridas, já que Inês Pedrosa vai conversar sobre a identidade cultural como os brasileiros Caetano Veloso e Antonio Cícero.
O primeiro fim-de-semana terá um conjunto de sessões de caráter bastante interventivo. Começa com a economia: Ricardo Pais Mamede e Robert Skidelsky; continua com a política: Daniel Innerarity, Marisa Matias e Paulo Portas; segue-se [no domingo] o terrorismo, com Michael Weiss, Nuno Rogeiro e Paulo Tunhas. Durante a semana, virão a Cascais vários autores estrangeiros: o recente Prémio Goncourt, Mathias Énard, Andrew Roberts, David Priestland e Andrew Morton. Entre os outros temas a debater, está a Realidade e ficção nos romances históricos, Poetas que escrevem romances - ou vice-versa, Literatura e revolução de mentalidades e como a Literatura pode transformar o mundo. Nestes encontros estarão presentes, entre outros, os escritores Lídia Jorge, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta, Miguel Real ou Nuno Júdice.
Nas conversas com um único escritor há a com Arturo Pérez-Reverte e David Lodge. Marcada está também uma conversa entre António Lobo Antunes e Mário Cláudio. Este será o único evento que nunca se sabe se se realizará pois o primeiro escritor é de temperamento difícil. A par dos debates realizam-se muitas outras atividades: gastronomia em diversos pontos de Cascais, animação infantil, feira do livro, cinema ao ar livre, exposições e vários concertos.
O DN quis saber qual o orçamento do FIC e a resposta do autarca Carlos Carreira foi longa, sob alguma irritação e a garantir que a câmara é transparente nas contas. Ao invés de referir os custos, preferiu explicar que a pergunta era desnecessária e que a cultura não tem preço. A muito custo, apontou 140 mil euros como verba a ser gasta. O restante, de um total aproximado de 500 mil euros, será suportado por parcerias - soube o DN de outro modo.
por João Céu e Silva, in Diário de Notícias | 28 de junho de 2016
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias