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Museu Thyssen exibe maior mostra de Caravaggio fora de Itália

A influência que Caravaggio teve em várias gerações de artistas é destacada nesta exposição no museu madrileno.

 

"Caravaggio é o primeiro artista moderno, em todos os sentidos. Pelo seu desejo de superação, na sua técnica e no seu estilo de vida desordenado, foi um fora-da-lei." Guillermo Solana, diretor artístico do Museu Thyssen-Bornemisza, desvenda alguns dos aspetos menos conhecidos da vida do pintor italiano Michelangelo Merisi, o famoso Caravaggio (1571-1610). Características da sua obra e da sua personalidade que se podem ver na dúzia de quadros que o Thyssen conseguiu juntar na exposição Caravaggio e os Pintores do Norte, inaugurada ontem em Madrid e que se prolonga até 18 de setembro.

Junto às obras do artista italiano exibem-se mais 41 quadros de pintores do norte da Europa que, fascinados pela pintura de Caravaggio, difundiram o seu estilo. "Teve uma carreira fulgurante, breve e rápida e com esta exposição aprendemos a digerir toda a sua influência durante décadas que chega até Velázquez, Vermeer e Rembrandt", acrescenta.

Foram três anos de difícil trabalho, de intensa negociação com museus e curadores para conseguir o empréstimo das obras que chegam de diferentes lugares como o Metropolitan de Nova Iorque, a galeria Uffizi de Florença ou o Museu Hermitage de São Petersburgo.

Não admira, por isso, que ontem durante a apresentação da exposição à imprensa, Solana começasse por falar em "dia histórico", reconhecendo que algumas obras foram, de facto, muito difíceis de levar até Madrid e outras não foram mesmo possíveis, em parte, porque "o nosso patronato já não quer emprestar o Caravaggio da coleção, Santa Catalina, por estar num estado muito frágil". Foi precisamente essa a obra que desencadeou esta exibição, explicou: "há muito que queríamos explicar o que existia à sua volta. O pintor utiliza uma figura muito terrena, uma prostituta, para a imagem de uma santa", sublinha o diretor artístico.

A partir desta imagem começaram a identificar as obras mais imitadas pelos pintores do Norte, nomeadamente da holandesa escola de Utrecht. "Em Espanha fala-se muito da influência de Caravaggio nos pintores espanhóis e nos italianos. Normalmente fala-se de Ribera, Zurbarán ou do jovem Veláz-quez", concretiza. "Mas encontramos o efeito do pintor italiano em muitas obras dos pintores de Utrecht", escola a que estavam ligados os pintores holandeses mais importantes antes de Rembrandt. "Os holandeses seguiram a sua pintura e estilo de vida, há uma implicação pessoal na violência do que pintam."

 

Capacidade de mudança

Solana sublinha também a capacidade de Caravaggio "de mudar muito o seu estilo e temas em pouco tempo, a partir sempre de zero, põe tudo em questão". E como resultado encontramos uma exposição "de assombro, de maravilha". O artista italiano partia da imagem de pessoas comuns das ruas de Roma para retratar Maria, os apóstolos e os santos. A sua inspiração estava entre comerciantes, prostitutas, marinheiros e pessoas que não eram de estirpe nobre. "E isso não impedia que fosse um artista que se entendia muito bem com a corte."

A Adivinha, do Museu Capitolini de Roma, foi, segundo o comissário da exposição, o professor holandês Gert Jan van der Sman, o empréstimo mais difícil, e chegou quase ao mesmo tempo que se inaugurava a exposição. O resultado, "a maior exposição de Caravaggio fora de Itália". O especialista chama a atenção para a "grande mudança de Caravaggio em pouco tempo, o claro--escuro apresenta uma evolução muito rápida e muda a sua pincelada". E nos doze quadros encontram-se temáticas muito diferentes, "amor, violência, morte e inclusive penitência no quadro que pintou logo a seguir a ter matado o pintor Ranuccio Tomassoni", motivo pelo qual fugiu de Roma.

A exposição está organizada em seis núcleos. No primeiro veem-se as obras de Caravaggio em Roma entre os anos 1592 e 1606. Quadros onde predominam as cenas de género e a natureza-morta de frutas e flores, clássicos da sua terra, a Lombardia. No segundo, misturam-se quadros do pintor italiano e dos primeiros admiradores em Roma: Rubens e Elsheimer. A mostra continua com obras de artistas e amantes da arte como Fiammingo, Régnier e van Baburen para chegar ao núcleo de Brugghen e a Escola de Utrecht. As obras dos pintores franceses em Roma, como Vignon ou Saraceni, e as pinturas dos seguidores de Nápoles e do Sul de Itália como Finson ou Stom junto a dois quadros de Caravaggio, formam os dois últimos momentos expositivos. O Martírio de Santa Úrsula, da coleção Intensa Sanpolo, de Nápoles, exposto sozinho na última sala, é o derradeiro quadro que o artista pintou antes de morrer.


por Belén Rodrigo, em Madrid, in Diário de Notícias  | 21 de junho de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias 

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