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Nos bastidores da ilustração juntam-se desenhos como puzzles

A "Ilustração Portuguesa", na Casa da Baía, em Setúbal, é a principal exposição da 2.ª edição da Festa da Ilustração que começa hoje, às 00.00.

Paulo Sprangler/Global Imagens

O poderoso som do aspirador toma conta da galeria de exposições da Casa da Baía, em plena Avenida Luísa Todi. É o próprio chefe do Serviço Municipal de Bibliotecas e Museus que se aplica na eliminação do pó. "Temos de fazer de tudo um pouco, para ajudar no que é preciso", justifica José Luís Catalão, enquanto pelo chão dezenas de ilustrações vão sendo perfiladas, seguindo um critério apertado, como se de um puzzle se tratasse. Será mais ou menos assim que vão ser aplicadas nas paredes, com a ajuda do nível para que nenhum desenho fique torto. Quatro pessoas aceleram a fundo para garantir que amanhã a exposição daIlustração Portuguesa estará impecável aos olhos de quem a visitar. Nem que não preguem olho pela madrugada.

Eis como se começa a erguer apenas uma das 17 exposições da Festa da Ilustração de Setúbal que tem início nesta noite, rigorosamente às 00.00, quando Nuno Saraiva inaugurar Fónixna Casa da Cultura sadina. Será dado o pontapé de saída para um certame que vai decorrer até 3 de julho, juntando vários ilustradores, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, e um rol de atividades que ambiciona mobilizar a cidade.

Mas é na Casa da Baía que a Ilustração Portuguesa mostra a sua principal riqueza, inspirada na mostra homónima que marcou a agenda cultural portuguesa no final dos anos 1990. Os mais de cem metros quadrados da galeria são insuficientes para receber as cerca de 400 obras produzidas em 2015 por centena e meia de artistas, em que se incluem André Carrilho, Cristina Sampaio, André da Loba, João Fazenda ou André Letria. "Precisávamos do dobro do espaço, pelo menos", admite o designer Teófilo Duarte, que já tem o enquadramento da mostra esquematizado no computador, mas falta a tradução prática.

"É a exposição mais trabalhosa para se montar. Estamos a fazer a seleção para tentar misturar os mais e os menos conhecidos. Mas isto vai estar pronto a horas de certeza", sustenta, revelando terem sido os cartoonistas que enviaram os desenhos a concurso, sujeitos a impressão digital, em várias áreas da ilustração, desde que aplicadas em meios como imprensa, internet, literatura e exposições. Mas nem todos foram selecionados por Teófilo Duarte, João Paulo Cotrim, Nuno Saraiva e o diretor de arte e investigador Jorge Silva.

Afinal, a ideia é que saia daqui um "catálogo", que pode ser a "bíblia" da ilustração nacional. "Vão estar lá todos os ilustradores que valem a pena", revela Teófilo, enquanto corta uns centímetros da fita adesiva dupla para testar o enquadramento dos desenhos de André Carrilho.

Ao lado das ilustrações os visitantes vão encontrar a identificação dos autores. "É outra parte da organização que é trabalhosa. Conheço grande parte deles pela linguagem estética, mas dos mais novos nem tanto", admite, testando, por exemplo, a junção de cores.

"Este aqui não pode ser, porque tem pouco a ver. Mas pode ser este. O outro vai para ali, logo se vê. No final bate tudo certo", afiança, vigiando a entrada da galeria com o olhar porque há duas ilustrações mais expostas aos pés de quem entra e sai. Entretanto, José Luís Catalão "despacha" o parapeito de uma das janelas e desce do escadote, quase sem tempo a perder. "O que interessa para nós é o resultado final e o que as pessoas vão ver. Ninguém quer saber do que está por detrás. Se pedi mais um vaso ou mais tinta. A qualidade é que tem de ser garantida", resume, corroborado por João Paulo Cotrim, jornalista e escritor, que volta a pegar nas rédeas da organização do evento, assumindo que esta Ilustração Portuguesa será a menina dos olhos da festa, traduzindo a principal novidade.

Além de recuperar o conceito que na década de 1990 juntava os mais ilustres cartoonistas portugueses em Lisboa, esta mostra vai fazer um "ponto da situação de quem está a fazer e o quê neste momento na ilustração nacional", descreve Cotrim, destacando a aposta junto do público, através do reforço do que já foi esboçado no ano passado, cimentando a articulação com a região. "Há uma exposição feita propositadamente com autores de Setúbal", diz, enquanto Nuno Saraiva andou pelas escolas a motivar os jovens para o projeto com resultados em vários pontos da cidade.

"Além de um conjunto de outras exposições com as escolas e com o estabelecimento prisional, temos ainda a articulação com as lojas de maneira a envolver, o mais possível, toda a cidade na festa", acrescenta, destacando a presença do humor, mais na área da banda desenhada, pela mão de Luís Afonso, como forma de atrair mais público.

Esta edição entra também numa área muito ativa atualmente: a ilustração para a infância e juventude também vai ter palco privilegiado. "Na Casa da Avenida será mostrado algum trabalho das mais interessantes editoras", revela João Paulo Cotrim, dando prioridade ao "equilíbrio" entre o que é "a investigação histórica e uma espécie de retrato do que está a ser feito agora".


por Roberto Dores, in Diário de Notícias | 3 de junho de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias 

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