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MAAT :: Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Pedro Gadanho: "Vamos inaugurar dez exposições entre junho e outubro"

Pedro Gadanho na obra do futuro museu que está a nascer junto ao Tejo, em Belém [Carlos Manuel Martins | Global Imagens]

O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) abre a 5 de outubro, à beira Tejo, ao lado do Museu da Eletricidade. Os dois museus vão agora ser um e o diretor já contou ao DN o que está a preparar

Pedro Gadanho esteve três dias (mal medidos) em Berlim sempre em movimento. Muito para ver, com dezenas de galerias a inaugurarem exposições, os museus para espreitar, contactos para multiplicar. O diretor do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) anda a apresentar o futuro espaço dedicado à arte contemporânea ao mundo, para o mundo vir a Lisboa. Voltou da capital alemã cheio de ideias que quer mostrar no MAAT. A médio prazo. Para já, todas as energias convergem para uma data: 5 de outubro. O MAAT (cuja programação vai englobar, já a partir de junho, o vizinho Museu da Eletricidade - Central Tejo) deverá abrir-se ao mundo na véspera, com 12 horas de programação nonstop. As obras que dão corpo ao marcante edifício (com assinatura da britânica Amanda Levete), onde não há uma única parede reta, estão a decorrer e deverão estar concluídas em julho. Se falharem os prazos, há um "plano B", garante.

Está a começar uma nova fase da sua carreira, de regresso a Lisboa depois de quatro anos no MoMA, em Nova Iorque. Como foi esta mudança? De que mais tinha saudades?

Estou em Lisboa desde outubro. Não tive muitas saudades porque [quando estava no MoMA] passava muito por Lisboa, incógnito. Aproveitava visitas que tinha de fazer a vários pontos da Europa para estar com a família e com os amigos. A transição foi rápida porque acabei de trabalhar no MoMA num dia e no dia seguinte estava a trabalhar na Fundação EDP. Embora já tivesse antes começado a fazer alguma consultadoria no sentido de fazer opções estratégicas: a programação do museu, a identidade, a estrutura, a equipa. Para depois começar a trabalhar muito rapidamente.

Tem uma equipa muito grande?

Tive a possibilidade de contratar seis ou sete pessoas. O total da equipa associada ao museu anda à volta das 20 pessoas.

E são todos portugueses?

São todos portugueses, embora vá entrar uma estagiária belga, temos uns estagiários de design de origem ucraniana, mas a maior parte são portugueses. Fui buscar uma curadora, a Inês Grosso, que também tinha estado quatro anos fora, na Fundação Inhotim [Brasil], porque dou valor ao facto de as pessoas terem estado fora e aberto o âmbito das suas referências. E depois a Ana Anacleto, que era mais conhecedora da sociedade portuguesa a nível do que os artistas têm vindo a fazer nos últimos anos.

Como é este desafio de ter um museu novo nas mãos?

É um enorme privilégio ter uma oportunidade destas. Não é todos os dias que se abre um museu, muito menos com esta escala e ambição. Essa é uma oportunidade incrível que eu abraço com enorme prazer. Depois é desafiante porque impusemos uma data de abertura que é curiosamente exatamente um ano depois de eu ter entrado ao serviço na Fundação EDP: a abertura ao público a 5 de outubro. Isso estabelece uma espécie de meta para a qual tem de convergir uma série de trabalhos e de tarefas muito pesadas. Há muita coisa para fazer. Entre as ações internacionais nas quais tentamos colocar o museu, pôr a nova identidade do museu no mapa e tudo aquilo que são aspetos organizacionais para fazer dez exposições até ao final do ano, de junho até outubro, claro que há muito trabalho envolvido.

Na programação, há nomes já conhecidos, como Vitra, o casal Eames. O que mais destaca?

Um nome essencial é o da Dominique Gonzalez-Foerster, que é uma artista [francesa] de grande referência internacional e que nós conquistámos para fazer uma nova peça que ela considera que vem no seguimento das grandes instalações que fez, nomeadamente na Tate Modern. Ela vai fazer uma peça para ocupar o espaço central do museu, que é um espaço oval, com um pé-direito alto e que realmente só consegue ser habitado por projetos muito especiais - nomeadamente com instalações de arte contemporânea que vão nascer ali pela primeira vez. Essas encomendas especiais vão ser maioritariamente com artistas internacionais que nos vão ajudar também a colocar o museu no mapa em termos do tipo de trabalho que vamos apresentar e que nos permita ombrear com outras instituições importantes. Dominique Gonzalez-Foerster acaba por ser a primeira parte de uma exposição chamada Utopia/Distopia que depois, em março, vai ocupar todo o resto do museu.

Mas a obra de construção do museu ainda não acabou...

A obra está neste momento a decorrer, temos previsões para a conclusão em julho, não temos nenhum sinal de que isso não seja possível. Claro que pode sempre haver algum pequeno atraso mas, tal como o nosso governo, teremos um plano B [risos] com uma almofada que nos garante que o museu pode concluir a sua abertura em março com todos os espaços a funcionar em pleno. Não tenho qualquer dúvida de que a 5 de outubro estamos a fazer uma grande abertura ao público. Aliás, foi uma coincidência curiosa porque quando começámos a falar desta data estávamos a pensar abrir às terças -feiras e marcámos o 4 de outubro. Só depois se soube que o feriado ia retornar. Portanto, essa terça-feira transformou-se numa véspera de feriado. Decidimos que iríamos aproveitar para convidar Lisboa para uma grande abertura do meio-dia à meia-noite, de modo a podermos apresentar um programa com performances, com música e inaugurar exposições.

Qual o orçamento do MAAT?

São dois milhões de euros para programação e lançamento do museu em 2016.

Que expectativa tem em relação ao público português?

Uma das ambições deste museu - e digo assim um pouco como desejo - é que traga alguma coisa de positividade a Lisboa e a Portugal, para a maneira como os portugueses se têm sentido nos últimos anos por força de uma crise económica muito pesada. Gostava que aparecesse simbolicamente num momento em que as pessoas começam a reencontrar o prazer de viver numa cidade como Lisboa, que tem realmente condições excecionais - pelo menos é o que eu agora sinto depois de viver quatro anos fora. Digamos que o que eu esperaria é que os portugueses aderissem a uma coisa da qual têm estado muito desligados, que é a arte contemporânea. E há razões para haver esse desligamento. Porque a arte contemporânea, como todas as formas de arte, tem os seus próprios códigos, tem a sua própria história, e se as pessoas não têm os conhecimentos desses códigos e dessa história podem ter dificuldade em compreender aquilo que estão a ver e perceber a importância daquilo que lhes está a ser apresentado. Nesse sentido, queremos comunicar que a arte contemporânea pode ser muitíssimo interessante porque pode ajudar-nos a pensar, pode ajudar-nos a refletir sobre a nossa vida, mais do que ser uma mera contemplação estética. Pode ser algo que usamos para nosso benefício.

Falou da crise. Vai estar refletida nas abordagens que forem feitas no museu, através de trabalhos de artistas portugueses e estrangeiros? É uma preocupação sua?

O título da primeira exposição que vai estar no novo edifício diz bastante. Utopia/Distopia não pode ser senão uma reflexão sobre aquilo que é a nossa imaginação ideal das cidades e da sociedade e depois às vezes aquilo que é a realidade. Muitas vezes funciona de forma distópica. Quando acontece a guerra, quando acontecem os Panama Papers, quando acontece a desigualdade social, etc. É óbvio que estamos à procura de artistas que vão produzir uma reflexão sobre o nosso momento, embora também haja outros. A exposição tem um scope temporal que vai até aos anos 60, quando ainda se falava de utopia no seguimento da Segunda Guerra Mundial mas quando já se começava a perceber que se calhar não iríamos ter as sociedades ideais que a dado momento se imaginava que fossem possíveis. Portanto, é uma exposição que dialoga entre a ideia de idealismo e a ideia de pessimismo que nos chega através da crise e que pretende conciliar as duas coisas e mostrar os lados interessantes de cada uma delas. Logo aí acho que haverá lugar para bastante reflexão mas também bastante descoberta sobre o nosso tempo.

Que tipos de horários e preços o MAAT vai oferecer aos visitantes?

Essas são questões que nos têm levado a refletir muito no sentido de mudar alguns hábitos e formas de pensar que em Portugal já estariam muito instituídas. Uma delas começa precisamente pelo horário, promover um horário que vai do meio-dia às 20.00, que permite às pessoas aproveitar o fim de tarde, tomar um café e visitar uma exposição, ter um encontro com alguém naquele contexto que é muito privilegiado, com o rio e o pôr-do-Sol sobre a foz do Tejo. Queremos que o fim da tarde seja um momento em que as pessoas possam desanuviar com uma atividade cultural. Vamos experimentar esse horário e criar uma diferenciação em relação a outras instituições da cidade: quando às seis está tudo fechado, ter um museu onde se pode ver uma exposição. Por outro lado, é quase inevitável que, dado o investimento colossal que está a ser feito na construção do museu, em programação, mesmo nos próprios recursos humanos, acharmos que era importante, inclusive, valorizar a oferta que está a ser feita através de um preço que está alinhado com as instituições semelhantes em Portugal, como a Fundação Gulbenkian e a de Serralves. E vamos criar um programa de membership que tendencialmente vai tornar o acesso gratuito.

Quais os valores dos bilhetes?

Ainda não os posso divulgar porque não foram aprovados.

Qual a estimativa de visitantes?

Apontamos para os 250 mil visitantes, com uma aposta no crescimento das visitas por parte de turistas estrangeiros.

O Pedro é arquiteto mas deixou de fazer arquitetura? Quando?

Deixei. Quando fui para o MoMA assumi que ia entrar num trabalho - e era o meu primeiro trabalho nine to five - que era o meu primeiro trabalho que tinha um nível de exigência que não era compatível com continuar a fazer arquitetura. Ou seja, arquitetura era possível enquanto eu mantivesse projetos de pequena escala que eram articulados com curadoria, escrever artigos, etc. Quando cheguei ao MoMA isso era difícil. Continuei a escrever, continuei a dar conferências mas terminou a parte da faculdade, do ensino e da arquitetura. E neste momento é impossível fazer arquitetura. O que não quer dizer que não tenha o bichinho e não tenha o gosto. Aliás, quando entrei ali na Central Tejo e nos propusemos remodelar o edifício para estabilizar as galerias e receber exposições, a renovar todo o circuito museológico (que vai estar todo acessível ao público a partir do dia 28 de junho), fiz o gosto ao dedo de criar projetos e discutir ideias de como poderia ser reorganizado aquele espaço. Portanto, a minha formação de arquiteto anda sempre comigo e ajuda em tudo aquilo que sejam decisões que tenham a ver com ocupar um espaço, com o próprio display, quando se está a fazer curadoria de uma exposição...

Gostava de ter projetado este museu onde agora vai trabalhar?

Não sei se gostava. Eu até aqui tinha sempre feito interiores e gostava muito dessa pequena escala porque me permitia manter outras atividades enquanto fazia arquitetura. Fazer um projeto destes exige ter uma absorção total. Mas gosto muito do projeto, apesar de ser um projeto que é completamente diferente da arquitetura que é feita em Portugal. O único edifício em Portugal que eu vejo que possa ter tido o mesmo impacto em termos de linguagem arquitetónica é a Casa da Música. Este será outro, com outra lógica, uma linguagem mais organizada, paredes curvas, não há uma parede reta. É um espaço que vai ser muito surpreendente para a maior parte das pessoas, e isso vai ser uma das componentes de atração do novo museu.

 


Marina Almeida, em Berlim | Diário de Notícias, 8 de maio de 2016

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias
 

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