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Mapa dos vencedores do IndieLisboa vai da China a Treblinka

Tréffaut volta a vencer na competição nacional, agora com "Treblinka". "The Family", da China, recebe Grande Prémio Internacional.

Com "Treblinka", Tréffaut vence pela terceira vez competição nacional  |  DIREITOS RESERVADOS

Sérgio Tréffaut vence pela terceira vez o festival de cinema independente de Lisboa na competição nacional. Com Treblinka, um projeto mais experimental que pode não ser documental nem de ficção, o cineasta vindo do Brasil repete os triunfos de Lisboetas (documentário que venceu a primeira edição) e Alentejo, Alentejo (documentário de 2014 sobre o cante alentejano). Chamemos-lhe um ensaio a partir das memórias de Chil Rachman,Treblinka: A Survivor"s Memory, através de uma viagem de comboio que cruza a Europa de Leste do passado e presente.

O filme é também marcado pela sombra de uma investigação, Into the Darkness, de Gitte Sereny, através das entrevistas feitas ao comandante-chefe do campo de extermínio de Treblinka. No dossier de imprensa deste projeto, Tréffaut afirmou: "Treblinka é um filme de vozes e de corpos nus, a maior parte das vezes refletidos nas janelas de um comboio. O público pode sentir-se desconfortável com a estética das imagens. Pode parecer contraditório falar do horror utilizando imagens belas. Mas, ao longo da história da arte, a beleza tem sido sempre utilizada para retratar as mais horrendas situações. E é através desta forma de expressão que é possível evocar e refletir".

 

O tour-de-force chinês

O vencedor da competição internacional (só primeiras ou segundas obras) foi The Family, de Shumin Liu, da China. Um filme de 5 horas que nos tenta dar a sensação de quotidiano de uma família da China interior. Uma obra descoberta no Festival de Veneza, na Semana da Crítica, e que que chegou ao Indie com um notável hype. A vitória de The Family no festival lisboeta vem consagrar uma crescente tendência dos festivais em dar visibilidade a um cinema de risco e de clivagem com os modelos mais comuns.

Lav Diaz, das Filipinas, tem sido um dos nomes mais recorrentes nesse estreitar dos moldes de duração de uma longa metragem - este ano, na Berlinale, esteve a concurso com A Lulluby to Sorrowful Mystery, cuja duração ultrapassava as 8 horas ( Manoel de Oliveira, nos anos 1980 com O Sapato de Cetim, já estava muito na vanguarda: o filme tinha quase sete horas...).

Outro dos vencedores do festival é Gabriel Abrantes, neste caso com The Hunchback, feito a meias com o britânico Ben Rivers. O filme venceu o prémio de melhor curta nacional e é a terceira distinção de Abrantes no festival (já tinha vencido a mesma competição com A History of Mutual Respect e o prémio Novo Talento com Visionary Iraq), um verdadeiro filho do Indie. Não se poderá dizer que este seja um festival que deixa cair os cineastas em que aposta, mas no palmarés nacional parece por vezes acontecer um flagrante caso de falta de diversidade.

Ainda nos prémios nacionais, referência para a curta Campo de Víboras, de Cristèle Alves Meira, vencedora do prémio Novo Talento da FNAC. Esta produção de Pandora da Cunha Telles vai a Cannes, onde passará na Semana da Crítica.

Curiosamente, o outro filme português presente em Cannes (também na secção Semana da Crítica), Ascensão, de Pedro Peralta, levou para casa o prémio Árvore da Vida. Quanto ao muito falado Balada de um Batráquio, de Leonor Teles, não ficou de mãos a abanar e foi agraciado com uma menção honrosa do júri da Amnistia Internacional.

Como o IndieLisboa se posiciona como um festival-montra para o novo cinema português, relevo para a secção Novíssimos, onde o vencedor foi Maxamba, realizado por Suzanne Barnard e Sofia Borges.

Foi igualmente atribuído o prémio do Júri com patrocínio dos canais TVCine& Séries a Kate Plays Christine, de Robert Greene, um verdadeiro indie americano. Quanto aos prémios Silvestre, o júri da RTP elegeu Eva no Duerme, de Pablo Agüero, enquanto o prémio da crítica internacional, FIPRESCI, foi para Short Stay, de Ted Fendt, outra proposta dos EUA.

De segunda a quarta os vencedores voltam a ser exibidos no cinema Ideal, às 18.00 e às 22.05. É caso para dizer que o IndieLisboa ainda não acabou.

 

Prémios Principais

Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa
Jia/The Family, Shumin Liu (Austrália, China)

Prémio Especial do Júri Canais TV & Séries
Kate Plays Christine, Robert Greene (EUA)

Grande Prémio de Curta Metragem
Nueva Vida, Kiro Russo (Argentina, Bolívia)

Melhor Longa Metragem Portuguesa
Treblinka, Sérgio Tréfaut (Portugal)

Melhor Curta Metragem Portuguesa
The Hunchback, Gabriel Abrantes, Ben Rivers (Portugal, França)

Novo Talento - Curta Metragem
Campo de Víboras, Cristèle Alves Meira (Portugal)

Melhor Filme na secção Novíssimos
Maxamba, Suzanne Barnard, Sofia Borges (Portugal, EUA)

Prémio RTP para Longa Metragem na Secção Silvestre
Eva no Duerme, Pablo Agüero (França)

Prémio FIPRESCI (Primeiras Obras)
Short Stay, Ted Fendt (EUA)

 


por Rui Pedro Tendinha, in Diário de Notícias | 2 de maio de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias 

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