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Museu do Caramulo empresta obra de Amadeo de Souza-Cardoso
A pintura “Dame” (menina dos cravos), pertencente ao acervo do Museu do Caramulo, foi emprestada para integrar a exposição “Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)”, patente no Grand Palais até 18 de julho.
Nas palavras do Diretor Científico da Réunion des Musées Nationaux et du Grand Palais, "É uma forma de trazer luz a um capítulo completamente novo da História da Arte. Amadeo é um artista que teve um papel essencial nas vanguardas artísticas, antes da I Guerra Mundial".
Sobre “Dame” (menina dos cravos)
Datada de 1913 e doada ao Museu do Caramulo por Maria Madalena de Lacerda, este óleo sobre madeira exemplifica a evolução da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, que passou de um desenho preciosista e algo decorativo para uma aproximação ao cubismo analítico que logo desembocaria pioneiramente na abstração. Tal evolução processou-se no ano de 1913, durante o qual foi pintado este quadro.
O centro da composição é marcado por um “X” que assinala a cintura de uma figura feminina de pé, de longo vestido branco e lenço na cabeça de perfil, disposta frontal e verticalmente através de uma decomposição em facetas na qual ressoam as lembranças da fase “analítica” já ultrapassada por Picasso e Braque. Para este centro da composição convergem as linhas de força do conjunto, fortemente assinaladas a negro, não só do tronco, ombros, braços e veste da figura como, sobretudo, da mesa que se dispõe por detrás, perspecticamente decomposta numa visão em perfil do lado esquerdo e em dinâmico contre-plongée no lado direito.
À esquerda, sobre a mesa, assinala-se um vaso com cravos floridos que a figura segura, apontamento de natureza-morta de perspectiva igualmente compósita, dinamicamente dada através de uma linha virgulada que se repete pelo corpo e contornos da figura, singular apontamento decorativo que Amadeo repetiu noutras pinturas deste período. Do mesmo modo, contrariando a ortodoxia cubista, a cor invade a composição, numa gama de vermelhos, amarelos, verdes, azuis e ocres na qual se deteta igualmente a influência de Robert Delaunay, conhecimento parisiense do pintor. Tal sugestão estende-se ao fundo da composição, onde os contrastes cromáticos se aliam a uma composição algo cubista fantasiosamente dada.