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TNSJ inaugura “viagem” pelas produções emblemáticas da Casa
Exposição Noites Brancas revela uma coletânea de cenografias e de objetos que marcam a história do Teatro Nacional São João.
O Teatro Nacional de São João (TNSJ) inaugura no dia 30 de abril, às 16h00, a exposição Noites Brancas, mostrade cenografias e outras matérias, que celebra a “insónia criativa” de quem constrói um espetáculo, mas também do público que idealmente frui do momento mesmo após sair da sala. A exposição, que decorre de uma iniciativa das equipas técnicas do TNSJ, propõe uma travessia a toda a volta do corredor superior do Mosteiro São Bento da Vitória por territórios cénicos que foram deste teatro, dos seus artistas, artífices e espectadores. O acesso à exposição, que será permanente, está integrado na visita guiada ao Mosteiro de São Bento da Vitória, que passará a decorrer de segunda a sexta-feira, às 12h00. Os bilhetes têm o preço de três euros.
Entre figurinos, adereços, projeções de vídeo, fotografias de cena e cartazes, será possível conhecer em Noites Brancas sete fragmentos cenográficos de espetáculos encenados pelos diretores artísticos Ricardo Pais e Nuno Carinhas. Em D. João, de Molière, o dispositivo cénico da autoria de João Mendes Ribeiro oferece uma paisagem mental, que recupera o espírito da máquina de cena setecentista italiana, propícia a todos os jogos e fantasias. Também a praça da batalha de Tambores na Noite, de Bertolt Brecht é representada por Nuno Carinhas, que nesta peça assumiu a encenação e cenografia, mobilizando uma série de elementos para encenar o mundo como circo da história.
No trabalho assinado por Pedro Tudela, entra-se na Alma vicentina, da qual se construíram estrados de madeira sobre terra, reminiscentes dos andores das procissões, e imensas cortinas de veludo vermelho, enodoado e retalhado. A viagem segue por Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, em risco de derrocada, até ao ambiente sujo de uma feira muito popular da Polónia de Alfred Jarry, em UBUs.
Pelo caminho, jogam-se várias forças e destinos quando se percorre um labirinto de escoras suspensas, que aludem à sinuosidade moral, religiosa e sexual de O Mercador de Venezade William Shakespeare, podendo ainda, explorar-se, de forma inesperada, a paisagem psiquiátrica que mistura o preto e o branco com rasgos de psicadelismo, onde se movem as personagens profundamente más, mas infinitamente cómicas de Joe Orton, em O Saque. Noites Brancas integra também objetos cenográficos inerentes à peça As Lições, a partir de A Lição, de Eugène Ionesco, que revela o poder assustador que a linguagem pode adquirir.
Homenagem a Fernanda Alves
A mostra homenageia ainda Fernanda Alves, cujo percurso notável será lembrado a partir da instalação criada por Nuno Carinhas, Fernanda Alves – Imagens, sons, imprecações, inaugurada a 27 de março de 2013. Esta criação do diretor artístico do TNSJ, que participou com Fernanda Alves na fundação da Barraca e dirigiu-a em O Céu de Sacadura, de Luísa Costa Gomes (1998), integra registos áudio e fotografias de cena de espetáculos em que a atriz participou antes da sua morte repentina a poucos dias da estreia no TNSJ. Fernanda Alves seria o Anjo de As Barcas, uma encenação do italiano Giorgio Barberio Corsetti.
Este momento da exposição imortaliza, ainda, a peça Fernanda – Quem Falará de Nós, os Últimos? Encenado por Fernando Mora Ramos, o espetáculo foi concebido a partir de prosas e poemas do inconformado Ernesto Sampaio, marido de Fernanda Alves, que faleceria um ano depois da atriz. Mário Cesariny haveria de dizer a este respeito: “É a única pessoa que conheço que morreu de amor.”
Que segredos esconde a cenografia de Casas Pardas?
Um Objeto e Seus Discursos por Semana, ciclo de conversas promovido pela Câmara Municipal do Porto, decorrerá também no sábado, dia 30 de abril, no Mosteiro de São Bento da Vitória tendo como mote a cenografia de Casas Pardas. Às 18h00, na sala do Tribunal, Pedro Tudela, Nuno Carinhas e Mónica Guerreiro são convidados a relembrar a cenografia de Pedro Tudela para o espetáculo, encenado pelo diretor artístico do TNSJ e que se estreou em 2012 com enorme sucesso.
Distinguida como melhor trabalho cenográfico pela Sociedade Portuguesa de Autores, esta cenografia que ilustra os prenúncios ou pedaços de casas em construção ou já em risco de derrocada, aludindo ao declínio do regime salazarista, pode ser visitada no MSBV, juntamente com outras cenografias marcantes da história do TNSJ. A entrada para Um Objeto e Seus Discursos por Semana tem o custo de um euro.