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Dias da Música inventam uma banda sonora para a viagem de Phileas Fogg

Abertura oficial é amanhã à noite, no Grande Auditório do CCB.

Gente de todas as idades partilhando um interesse comum é uma das imagens de marca dos Dias da Música

O famoso livro de Júlio Verne A Volta ao Mundo em 80 Dias é pretexto para uma viagem pelos muitos mundos da música, dirigida a todas as idades, de sexta a domingo, no CCB. 
Cerca de 30 mil bilhetes para 72 concertos/eventos pagos, a que se somam 14 concertos de entrada livre, além de muitas atividades paralelas. Vai ser assim a 10.ª edição dos Dias da Música, de amanhã à noite até domingo à noite: uma viagem pelas inúmeras paisagens da música, numa espécie de celebração do feito do herói de Verne: Phileas Fogg. Feito que três grandes cometimentos técnicos ocorridos no espaço de dez meses "possibilitaram": a ligação de comboio transcontinental nos EUA (maio de 1869); seis meses depois, a abertura do Canal do Suez; e, em março de 1870, a ligação transindiana por comboio (Bombaim-Calcutá). Quanto ao resto, a travessia do Pacífico já se fazia regularmente desde 1867 e a do Atlântico Norte tivera início já na década de 30.

O que Verne já não pôde ver foi o canal do Panamá e o transsiberiano: um e outro só seriam concluídos na década de 10 do século XX. Mas se Phileas Fogg poderia ter beneficiado do canal para a sua empresa, já é pouco crível que viajasse no comboio russo, uma vez que A Volta ao Mundo... é antes de mais uma apologia do Império Britânico, pelo que Egito (que os ingleses não tardariam a controlar), Índia e Hong-Kong eram passagem obrigatória.

Mas a programação dos Dias da Música não se limita às coordenadas da viagem de Fogg, antes lhes acrescentando numerosas paragens, mormente na América Latina e nos Próximo e Médio Oriente. Em todo o caso, três zonas permanecem "mal iluminadas": África Negra, Extremo Oriente e Oceânia.

No domínio da música, e cingindo-nos à ópera, o livro de Verne é coetâneo de momentos importantes: em França, Bizet preparava a Carmen; na Rússia, Mussorgsky terminava o Boris Godunov e na Alemanha, Wagner apressava a conclusão do Anel do Nibelungo; por fim, na Itália, Verdi vira a Aïda (encomendada para festejar a abertura do canal) estrear-se no Cairo, no Natal de 1871 e dentro de pouco tempo começaria a escrever o Requiem.

 

Uma, duas, dez orquestras

Para os indefetíveis da música orquestral, o local ideal é o Grande Auditório. Cada concerto visita um local diferente, por exemplo: amanhã à noite, no Concerto de Abertura, é a Espanha (vista por Debussy e por Falla) e a Bagdad das Mil e Uma Noites (vista por Rimsky-Korsakov). E assim por diante, até nove concertos depois, ao Concerto de Encerramento, onde se recria a viagem de Fogg: Inglaterra, Suez, Índia, China, Japão, Costa Oeste dos EUA, Costa Leste dos EUA e de novo Inglaterra, tudo ao som de excertos de óperas e do muito "vitoriano" Edward Elgar.

 

Viagens a bordo do piano

Também para estes, há uma sala: a Sophia de Mello Breyner. Logo o primeiro recital, por um duo luso-nipónico, oferece a oportunidade rara de uma obra de um autor do Extremo-Oriente: Yoshinao Nakada.
Há também um curioso programa de música árabe e israelita por um duo israelo-palestino, mas atração maior será sem dúvida o relato integral das viagens de Liszt por Suíça e Itália: os Anos de Peregrinação, por Louis Lortie. Fora da Sophia, só um caso: o recital de Luísa Tender, que recria a viagem de Fogg num interessante programa.

 

Acima e abaixo na América

Do Norte, do Sul, ou Central, norte-americana, brasileira ou caribenha, há várias propostas centradas na rica herança musical do outro lado do Atlântico. O Pequeno Auditório, por exemplo, oferece em sucessão (sábado, 18.00 e 20.00) um retrato norte-americano e outro sul-americano, com o jazz de Nova Orleães e depois, tangos e boleros. Na Sala Freitas Branco, canta-se a saudade com sotaque (domingo, 15.00) e, horas mais tarde, faz-se um retrato dos EUA (incluindo Piazzolla, que lá viveu). Por fim, na Fernando Pessoa, há o blues de James Ulmer a fechar cada um dos dias, sendo que no primeiro ele é antecedido por música brasileira.


Orientes sempre mais longínquos

Lugares de fascínio secular para os europeus, Pérsia, Índia, Insulíndia e Extremo-Oriente são também visitados nesta "Volta ao Mundo".

A Pérsia clássica é recriada na sala Almada (sábado, 16.00) por três senhoras iranianas, uma delas tocando o kamancheh (violino persa). A música indiana tem três concertos dedicados: primeiro, na sala Pessoa (sábado, 14.00), depois, pelo Orlando Consort&Guests (sala Freitas Branco, sábado, 20.00). Por fim, no domingo, na sala Almada (13.00), uma evocação de Goa pelo Portugoesas. A Insulíndia surge com a orquestra de gamelão javanês Yogistragong (Peq. Auditório, sábado, 14.00) e o Extremo-Oriente aparece só em visões da ópera ocidental, exceção a dois compositores japoneses: o citado Nakada, e Toru Takemitsu (Peq. Aud., domingo, 15.00).


Mediterrâneo sem margens

Milenar mar de muitas viagens, caldo de civilizações, o Mediterrâneo está bem representado no programa. Numa seleção, há primeiro a música do sul italiano - não esquecer que Fogg desceu de comboio a Itália até Brindisi, onde apanhou o vapor para o Suez - pelo ensemble do "histórico" Marco Beasley (sábado, 16.00, Peq. Auditório). Logo depois (18.00, sala Freitas Branco) passa-se à Grécia com o muito apropriado Ensemble Méditerrain. O sábado pode acabar com o Trio do "oudista" libanês Rabih Abou-Khalil e a sua música, que se situa... no Mar Mediterrâneo. No domingo, referência para um concerto (sala Almada, 17.00) que recria a frutífera convivência tripartida da Península ao tempo da presença "moura".


O sexto continente

Como dissemos, a África Negra está ausente, com esta exceção: José Galissá (sala Almada, sábado, 18.00) mais a sua kora. E encontra ainda algum eco no programa dos Sete Lágrimas (Sala Freitas Branco, sábado, 22.00). Este último concerto é ainda interessante por percorrer locais de histórica presença portuguesa, incluindo Macau e Timor. Por fim, duas propostas originais: a "Volta ao Mundo em 40 minutos" do Quarteto de clarinetes Vintage e convidados (sala Pessoa, sábado, 16.00) e a "Volta ao Mundo em 20 flautas e um violoncelo" dos Syrinx:XXII (idem, domingo, 13.00). Boas viagens!

>> Programa completo aqui


por Bernardo Mariano, in Diário de Notícias | 21 de abril de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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