"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Um museu para nos ajudar a pôr a mão na massa

Museu do Dinheiro abre hoje ao público em Lisboa. A entrada é gratuita.

Maria Luísa vive com pouco mais de 450 euros por mês, da sua reforma e da do marido que já morreu. "Tenho que fazer muito bem as contas", diz, sem se queixar, apenas como quem relata um facto da vida como ela é. Rafael tem 15 anos e também já percebeu que uns têm mais dinheiro e outros menos: "Tento poupar a mesada para coisas especiais e não gastar tudo no bar da escola." Há uma mãe que está sozinha com os filhos e é perita em gestão do orçamento familiar de modo a conseguirem ter uns dias de férias no verão: "É esse o meu objetivo todos os anos." Há um miúdo que sonha com videojogos. E há Carlão, o músico, que reconhece que já houve tempos em que viveu de forma mais desafogada e não poupou lá grande coisa: "Nunca tive tão pouco dinheiro como agora e nunca fui tão feliz. É aquele cliché, mas é verdade: o dinheiro por si só não traz a felicidade."

Estes e outros testemunhos são dados em vídeo, em tamanho quase real, numa das últimas salas do Museu do Dinheiro, que abre hoje ao público em Lisboa. A ideia foi pedir a várias pessoas, muito diferentes, que falassem um pouco sobre a sua relação com o dinheiro. É um assunto delicado. Já houve tempos em que os pais diziam aos filhos que não se fala de dinheiro. Mas, hoje em dia, cada vez mais, os especialistas aconselham os pais a explicar aos mais novos para que serve o dinheiro, como é que se deve gastar e porque é importante poupar. Ter pessoas comuns a falar do dinheiro que têm (ou que não têm) é uma boa maneira de fechar a visita ao museu - depois de uma hora e meia (tempo estimado da visita) a ver notas e moedas de todos os tempos e de todos os cantos do mundo, voltamos a olhar para a nossa carteira para não nos esquecermos que o dinheiro é algo muito real e que tem implicações diretas na nossa vida quotidiana.

"Essa foi a nossa preocupação", confirma Eugénio Gaspar, diretor do serviço de apoio do Banco de Portugal, responsável por este museu. "A coleção começou a ser construída em 1975 e ao longo destes anos juntámos cerca de 50 mil peças, das quais 1200 estão aqui expostas. A estas juntam-se algumas peças emprestadas pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda. O objetivo é contar a história do dinheiro e da relação do homem com o dinheiro. E tentámos que fosse um museu muito interativo, em que o o visitante é convidado a descobri e não se limite apenas a ver."


Mexer, experimentar, ver em casa

Com a inauguração do museu conclui-se o projeto de requalificação do quarteirão pertencente ao Banco do Portugal, na Baixa, que incluía a antiga Igreja de São Julião e que já estava parcialmente aberto ao público: já era possível visitar parte da muralha de D. Dinis (descoberta durante as obras do museu) e também já era possível, desde maio do ano passado, ir ali mexer numa barra de ouro verdadeira - pesa 12 quilos e poderá valer qualquer coisa como 414 mil euros. Mas faltava tudo o resto. Agora são quase 2 mil metros quadrado de área expositiva, a que se acede passando pela porta da antiga caixa forte que guardava as reservas de ouro do país.

O projeto museográfico do designer Francisco Providência partiu de um problema: como expor objetos tão pequenos como notas e moedas sem que eles fossem esmagados pela monumentalidade do espaço? A solução passou, por exemplo, por usar vários dispositivos multimédia que ampliam os objetos. E por colocá-los em expositores transparentes, que permitem ver frente e verso, e até passear por entre o dinheiro - só não dá para tocar-lhes mas é que as preciosidades aqui são muitas: desde o minúsculo "Terço de Estáter", a primeira moeda do ocidente, que foi usada no reino da Lídia no século VII a.C., ao "Português de D. Manuel I", moeda do século XV, passando pelo "Morabitino de Sancho II", moeda de ouro raríssima, ou até pelas notas falsas produzidas por Alves dos Reis já no século XX. A história é contada também recorrendo a ilustrações, cartas, balanças e outros objetos

Não se pode mexer nas notas e nas moedas mas há muito para mexer ao longo do percurso. Logo à entrada há um mapa do mundo que permite descobrir a moeda corrente em vários países e em séculos diferentes, também se pode atirar moedas virtuais para uma "fonte dos desejos", olhar para a cidades através de um miradouro ou verificar a autenticidade das notas que se tem no bolso.

Utilizando o bilhete de entrada (gratuita, é preciso sublinhar) pode-se aceder a uma série de atividades, como responder a um questionário interativo, brincar com moedas num quadro interativo (as crianças vão adorar esta parte), fazer uma moeda e uma nota com a fotografia de cada visitante - e depois aceder a toda essa informação (e até imprimir as notas) em casa. "Podem partilhar nas redes sociais e tudo", diz Eugénio Gaspar. "E quem sabe um dia até seja possível fazer a impressão da moeda em 3D", sugere. Em breve, estará também a funcionar um audio-guia e uma app (aplicação) para tornar a experiência da visita ainda mais apelativa. E no final cada visitante poderá também deixar o testemunho, em vídeo, sobre a sua relação com o dinheiro.

 


por Maria João Caetano, in Diário de Notícias | 20 de abril de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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