Notícias
Morreu o ator Francisco Nicholson
O ator de 77 anos estava internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.
O ator, argumentista, escritor e encenador Francisco Nicholson morreu esta terça-feira de manhã, em Lisboa. Estava internado no hospital Curry Cabral.
A vida de Francisco Nicholson confunde-se com a história da ficção portuguesa e da televisão. Escreveu as novelas Vila Faia, Cinzas, Origens, Os Lobos e Ajuste de Contas. No teatro, foi autor de várias revistas.
“O ator tem uma missão a cumprir. E se não tiver, não se justifica ser ator. Se é só para fazer caretas e ter mais graça e menos graça, acho curto, embora seja o que mais se vê”, afirmou em 2012, numa entrevista.
Mais recentemente, em 2014, lançou o seu primeiro romance “Os mortos não dão autógrafos”, que dedicou à mulher, Magda Cardoso (também atriz e bailarina).
Começar a “brincar ao teatro”
Francisco António de Vasconcelos Nicholson começou a fazer teatro aos 14 anos, no antigo Liceu Camões, em Lisboa. “A brincar ao teatro”, como dizia. Aí, foi dirigido pelo encenador e poeta António Manuel Couto Viana.
Estudou em Paris, onde frequentou a Academia Charles Dullin, do Théatre Nacional Populaire, privando com grandes nomes do Teatro francês, como Jean Vilar, Georges Wilson, Gerard Philipe.
Estreou-se, profissionalmente, como ator e autor, com a peça infantil “Misterioso Até Mais Não”, no Teatro do Gerifalto, e viu representadas mais cinco peças suas para crianças, como “O cavaleiro sem medo”, “Boingue-boingue” e “O indiozinho Raio de luar”.
Fez parte dos elencos da Companhia Nacional de Teatro e do Teatro Estúdio de Lisboa, onde representou grandes textos da dramaturgia mundial, de autores como Strindberg, Kleist. Bernard Shaw, Arnold Wesker e Davis Storey, Apollinaire.
Raul Solnado convidou-o para inaugurar o Teatro Villaret, integrando o elenco da peça “O Inspetor Geral” de Nicolau Gogol. Mas foi no Teatro ABC que se popularizou com o teatro de revista.
Com “Bikini” afirma-se como autor, encenador e ator, ao lado de Ivone Silva, Manuela Maria, Irene Cruz, Henriqueta Maya, António Anjos, Iola e o consagrado João Maria Tudela.
“Tudo a Nu” era a peça que tinha em cena com grande êxito no Teatro ABC quando aconteceu o dia 25 de Abril de 1974. Foi “um dos momentos mais fascinantes” da sua vida, nas suas palavras.
“Era uma revista que esgotava todas as sessões”, recorda numa entrevista.
Aproveitando o final da censura para repor todos os cortes efetuados, os autores modificaram-lhe o nome para “Tudo a nu com parra nova”.
Segue-se outra “aventura”: a cooperativa teatral Teatro Adoque, onde trabalhou com a bailarina Magda Cardoso (que viria a ser sua mulher) e o coreógrafo Fernando Lima.
Foi neste teatro que muitos atores atuais se iniciaram, como José Raposo, Maria Vieira, Virgílio Castelo, Ana Bola e Henrique Viana.
O Adoque abriu ainda portas à primeira encenação de António Feio.
Mais tarde, de regressa ao Parque-Mayer, escreveu com Henrique Santana, Mário Zambujal, Rogério Bracinha e Augusto Fraga a Revista “Não batam mais no Zézinho”, que ficou dois anos em cartaz. Seguem-se uma sucessão de revistas bem sucedidas.
As primeiras telenovelas portuguesas
Na televisão, dá-se a conhecer com Riso e Ritmo (1964), programa de que foi autor, ator e produtor (com Armando Cortez e José Mensurado) e dirigiu e interpretou vários programas como “O canto alegre”.
Foi o autor de Vila Faia, a primeira telenovela portuguesa (juntamente com Thilo Krassman, Nuno Teixeira e Nicolau Breyner) e de outras que se seguiram: Origens (1983), Cinzas (1992), Os Lobos (1998), Ajuste de Contas (2000), Ganância (2001), O Olhar da Serpente (2002), entre outras.
É um dos autores da canção "Oração", com que António Calvário venceu o primeiro Grande Prémio TV da Canção. Conquistou ainda, por duas vezes, o Festival da Canção da Figueira da Foz, duas grandes Marchas de Lisboa e esteve no Festival internacional da Canção do Rio de Janeiro.
Na vida pessoal, Francisco Nicholson foi casado duas vezes e tem uma filha, Sofia Nicholson, também atriz.
in Renascença | 12 de abril de 2016
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença