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Alfinete de peito de D. Maria Pia volta ao Palácio Nacional da Ajuda

Joia foi comprada por 54 mil euros pela Direção-Geral do Património Cultural após várias peripécias e vai regressar à casa onde Maria Pia de Saboia viveu.

O alfinete de peito em ouro tem pouco menos de seis centímetros de altura e pouco mais de cinco de largura. Está decorado com esmeraldas e safiras, rubis e pérolas, e, para lá dos metais e pedras preciosas que o adornam, vale ainda mais por ter pertencido à rainha Maria Pia. Foi feito por um joalheiro italiano. Estava em paradeiro incerto desde 1912, quando foi vendida no Grande Leilão de Joias da Coroa. E é a mais recente aquisição do Palácio Nacional da Ajuda, onde a soberana viveu. Custou 54 mil euros, e antes de voltar para Portugal ainda viajou para Inglaterra.

Esta é uma história de sobressalto e muito ainda por descobrir. Começa em abril de 2015 quando o alfinete de peito vai a leilão no Palácio da Memória e é identificado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), o organismo público que tutela o Palácio Nacional da Ajuda (PNA).

A peça tem uma estimativa de licitação de 700 euros, segundo o catálogo do Palácio da Memória, mas, como disse o próprio leiloeiro na noite em que a joia foi à praça, foi muito pretendida. Licitações prévias ao leilão atiraram os valores imediatamente para os quatro mil euros e, na sala, a disputa foi enorme, como documenta um vídeo que o Palácio da Memória divulga. Entre os pretendentes estava o Palácio Nacional da Ajuda, através da Direção-Geral do Património (DGPC), responsável pelas aquisições públicas. A peça acabaria por atingir os 40 mil euros, um valor muito acima do teto para a aquisição da peça que a DGPC disponibilizou para o efeito, e que não chegava aos 15 mil euros.

Retrato da rainha Maria Pia de Saboia com os príncipes Carlos, 

futuro rei de Portugal, e Afonso | EMILIO BIEL


Foi vendida a um inglês

Durante o leilão, não houve qualquer menção à primeira proprietária da peça, mas os entendidos sabiam bem o que estava em causa. "A peça foi vendida a um inglês", conta o diretor da Ajuda, José Alberto Ribeiro. Não se perdeu o rasto, no entanto.

A DGPC fez um pedido de classificação e, explica ainda o diretor do Palácio da Ajuda, entraram em conversações com o novo proprietário, um antiquário inglês, que, finalmente, acedeu a vender peça, por um valor superior ao pago em leilão. Aos 40 mil euros pagos em leilão somaram-se mais 14 mil e assim o alfinete de peito foi comprado por 54 mil euros.

Na coleção Verdades de Faria

Até agora na coleção Verdades de Faria, cujo acervo de instrumentos musicais de Lopes-Graça e Michel Giacometti está na Torre de São Patrício, no Estoril, a joia foi vendida a Carlos Santos, por 300 mil escudos, "de acordo com as notas manuscritas anotadas no próprio catálogo de 1912", explica José Alberto Ribeiro, referindo-se ao documento que registou as peças que fizeram parte do leilão de Joias da Coroa.

Datada de 1862, segundo as informações do palácio, esta joia historicista foi uma "oferta do povo da cidade de Nápoles à princesa italiana D. Maria Pia de Saboia [1847-1911], por ocasião do seu casamento com o rei D. Luís I".

Conhece-se o seu autor, o joalheiro italiano Fortunato Pio Castellani e conhece-se a sua inspiração: um exemplar medieval conhecido como A Joia do Fundador, francês, oferecido ao New College de Oxford pelo seu fundador, Wil-liam Wykeham, em 1404.

O alfinete, em forma de "M", reproduz em cabochões de esmeraldas, rubis, safiras e pérolas a cena da Anunciação com duas figuras esmaltadas em ronde-bosse, ambas voltadas para o centro. À esquerda, o arcanjo Gabriel com veste branca e manto azul celeste e, à direita, a Virgem Maria, com veste grená e manto azul-escuro - segundo descrição em inventário.

Teve um destino semelhante ao de muitas outras peças que saíram do Palácio da Ajuda: foi entregue como garantia pessoal de empréstimos ao banqueiro Burnay procurando colmatar a insuficiente dotação atribuída à rainha.

Após a morte de Burnay, em 1909, e da rainha, em exílio, em 1911, realiza-se, um ano depois, em tempo de República, o leilão das joias e pratas que pertenceram à soberana. É nesta altura que é desmantelado, e vendido, o serviço de prata da rainha. Em 2015 foi adquirido o centro de mesa da rainha, que estava em mãos privadas. Desconhece-se ainda que caminhos terá feito até chegar à coleção criada em homenagem a Gertrudes Verdades de Faria.

"O Palácio Nacional da Ajuda, resgata assim para a sua coleção mais uma notável peça de joalharia outrora das coleções da Casa Real e enriquece o seu acervo com uma obra de referência da arte dos grandes mestres ourives europeus do século XIX", refere o diretor do Palácio da Ajuda ao DN.

A aquisição "sublinha a necessidade de termos um local para expor as peças", vinca José Alberto Ribeiro. Esse local será o edifício que nascer junto ao Palácio da Ajuda, segundo um projeto que já está a ser conduzido pelo subdiretor do Património Cultural, João Carlos Santos. Antes disso, garante o diretor, será mostrado no próprio Palácio da Ajuda.

 


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 28 de março de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias 

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