Repete-se a receita com alguns ajustes. O Fólio regressa mais cedo este ano a Óbidos, entretanto classificada pela Unesco como Vila Literária. A segunda edição vai decorrer entre 22 de setembro e 2 de outubro. As datas foram anunciadas pela organização numa conferência de imprensa em Lisboa que contou com a presença do Ministro da Cultura.

Num ano em que o Fólio se abre à literatura vinda de fora da lusofonia, o tema será a utopia, assinalando os 500 anos da publicação de “Utopia”, de Thomas More.

Confirmados para as conferências com escritores, o “Fólio Autores”, cuja curadoria está a cargo do escritor angolano José Eduardo Agualusa, estão nomes como os do prémio Nobel da Literatura de 2001, V.S. Naipaul, os portugueses Afonso Cruz, Miguel Sousa Tavares ou Rui Cardoso Martins. O mexicano Juan Pablo Villalobos, o islandês Jón Kalman Stefánsson ou a escritora de origem angolana Djaimilia Pereira de Almeida serão também conferencistas.

Na apresentação, José Eduardo Agualusa prometeu que os encontros decorrerão numa "tenda de autores mais acolhedora" do que no ano passado e que as mesas irão concentrar-se nos períodos "da tarde e noite". O escritor finalista do Man Booker Prize explicou ainda que na programação não irão repetir autores do ano anterior. Agualusa quer "surpreender e inquietar" as pessoas.

Por Óbidos vão também passar a música, o teatro, o cinema e as exposições. Parte desse programa está a cargo da curadora da Folia, a jornalista Anabela Mota Ribeiro. Vai ser possível, por exemplo, ouvir o fadista Camané a cantar Tom Jobim; ver uma exposição do fotógrafo Carlos Freire, que retratou autores como Marguerite Yourcenar, Samuel Beckett, Roland Barthes ou Jorge Luis Borges; e ver uma instalação do coreógrafo Rui Horta em torno da utopia.

Na conferência de imprensa, Anabela Mota Ribeiro começou por indicar que haverá uma "parceria com Museu Nacional de Arte Antiga para assinalar os 500 anos da morte de [Hieronymus] Bosch". Em Óbidos estará exposta uma réplica do famoso tríptico "As Tentações de Santo Antão", bem como quadros do pintor Júlio Pomar (obras que retratam a imagem de D. Quixote pintadas ao longo de 50 anos de carreira).

Outra das iniciativas reveladas pela curadora da Folia é um dia dedicado à poesia de Ruy Belo, com a exibição de um documentário de Nuno Costa Santos e a leitura de alguns poemas.

A programação terá ainda aulas dadas por alguns escritores: António Mega Ferreira abordará Cervantes, José Gil reflete sobre a utopia em Fernando Pessoa e Hélder Macedo olha para Camões.

Além do “Fólio Educa”, dedicado aos mais novos, a programação inclui também o “Fólio Ilustra”, que contará com a participação de nomes como André da Loba e Catarina Sobral. Já o “Fólio Mais”, pensado pelo livreiro José Pinho, levará a Óbidos Teresa Coutinho, para dinamizar a Casa dos Poetas, e João Gesta, que será responsável pelas leituras encenadas.

Anunciadas estão também até ao Fólio, a abertura de duas novas livrarias em Óbidos, explicou o autarca Humberto Marques. Na apresentação em Lisboa, na Livraria Ler Devagar na LX Factory, esteve também presente o ministro da Cultura que elogiou um "programa deslumbrante" e com "um tema muito bem escolhido".

No seu tom mais pessoal, João Soares confessou ser maçon "há muitos anos", o que "não é segredo". O ministro da Cultura revelou então que o seu "nome simbólico na Maçonaria é Thomas More".

por Maria João Costa, in Rádio Renascença | 23 de março de 2016

no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença