"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Barreiro compra quinta à beira-rio e salva moinho histórico com vista sobre Lisboa

Câmara investe 1,8 milhões para começar a mudar a face de uma das zonas que quer transformar numa área emblemática da cidade. Vai recuperar o moinho e criar percursos pedonais. Depois vai pedir ideias à população

Foi o maior e mais atrativo moinho de maré do estuário do Tejo. Mas o abandono condenou-o ao vandalismo até ao golpe fatal desferido a 14 de fevereiro de 2011, quando um incêndio destruiu o célebre Moinho do Braamcamp, no Bico do Mexilhoeiro (Barreiro).

Ficou destelhado e viu paredes ruírem. Cinco anos depois volta a haver esperança para aquele património erguido no século XVIII. A autarquia vai comprar a Quinta de Braamcamp - onde funcionou a Sociedade Nacional de Cortiças e se encontra o moinho - ao Banco Comercial Português (BCP), por 2,8 milhões. O presidente do município, Carlos Humberto, assume que entre os projetos que este ano vão começar a avançar pelos 21 hectares de terreno à beira-rio, será dada prioridade à recuperação do moinho, de onde se tem uma ótima vista para Lisboa.

O Plano Diretor Municipal do Barreiro previa a construção de 200 fogos para a Quinta de Braamcamp, que foi parar às mãos do BCP após a falência da corticeira. Mas a autarquia mudou de ideias, considerando o projeto imobiliário incompatível com o espaço de lazer que ambiciona transformar a quinta numa nova centralidade turística na margem sul. "É um sítio emblemático junto ao rio, que permite aos barcos do Tejo irem até à quinta", destaca Carlos Humberto após a assinatura do contrato-promessa de compra e venda dos terrenos, acrescentando que esta zona da cidade se adequa à criação de um "grande espaço público para atividades lúdicas, desportivas, náuticas e de lazer. Eventualmente com alguns equipamentos e atividade económica, como restauração".

É aqui que se inscreve a prioridade dada à recuperação do moinho da maré com mais de 200 anos e respetiva caldeira. Segundo os estudos, o moinho notabiliza--se por possuir dez pares de mós, tendo sido um reforço importante para o setor da moagem de cereais no estuário do Tejo, que abastecia a zona de Lisboa, até à revolução industrial e chegada da energia elétrica. Seria desativado em 1897. Além do moinho, a quinta mantém a casa do moleiro, o cais de embarque e o solar (casa senhorial).

"Para já, temos 1,8 milhões de euros para investir na primeira fase", revela o autarca, contando ainda em 2016 pôr em marcha a recuperação do moinho, a par da limpeza do terreno e demolição de alguns muros, avançando também com a criação de percursos pedonais. "Depois vamos fazer um estudo para a segunda fase do projeto, ouvindo a população, para tentar perceber o que poderemos fazer ali e o que terá condições para ser candidatado a fundos comunitários", refere.

Seja como for, deixa claro que a aquisição deste terreno é fulcral na concretização do antigo "sonho da autarquia", que apontava para o total desimpedimento da frente de rio. Ou seja, a Quinta de Braamcamp confronta com a zona de Alburrica, Escola Alfredo da Silva e Bico do Mexilhoeiro, viabilizando, agora sim, uma completa intervenção à beira-rio no designado projeto IMPAR (Iniciativa Municipal Programada das Áreas Ribeirinhas). Como se da conclusão de um puzzle se tratasse.

"No fundo, é olhar para todas as áreas ribeirinhas da cidade com uma visão única e complementar", justifica Carlos Humberto, numa altura em que já se procura intervir na área entre o Clube Naval Barreirense, em plena avenida da Praia, e a antiga estação fluvial, traduzindo uma espécie de metamorfose. Aliás, o edil revela ao DN estar neste momento a discutir com as Infraestruturas de Portugal e com a CP algumas sugestões para a antiga estação fluvial que tem estado votada ao abandono, abrindo portas ao vandalismo e degradação acelerada.

Uma quinta com história

A Quinta Braamcamp é o único complexo rural em plena cidade do Barreiro, cuja atividade cessou. Era constituído inicialmente por casa de habitação, armazéns, moinho de vento e de maré e terras de cultivo. Ficou como propriedade do Millennium bcp, após o processo de insolvência da Sociedade Nacional de Cortiças. Conserva ainda a antiga casa solarenga (século XIX), instalações agrícolas e um moinho de maré. De acordo com o Guia Documental da Casa Reynolds/Sociedade Nacional de Cortiças, editado pelo Espaço Memória, "a história do fabrico de cortiça na Quinta Braamcamp iniciou-se em 1882 quando os irmãos Reynolds arrendaram a Quinta Braamcamp de George Abraham Wheelhouse e sua mulher". O mesmo documento aponta que em março de 1883 Tomás Reynolds já vivia na quinta, onde já era transformada cortiça. A maquinaria importada da Grã-Bretanha, como caldeiras e bombas para o fabrico de pranchas, só chegou ao Barreiro no final de 1884, quando a fábrica está em plena laboração, inclusive com horário noturno.


in Diário de Notícias | 18 de fevereiro de 2016

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,886,269