Notícias
Projeto cultural nas prisões termina por falta de apoio, ao fim de 12 anos
Após doze anos de trabalho nas prisões portuguesas, o projecto “A Poesia não tem grades” prepara-se para terminar no final do ano. A falta de apoios financeiros que garantam o mínimo de qualidade necessária e o alheamento da sociedade civil estão na base da tomada de decisão.
Iniciado em 2003, o projecto dinamizado por Filipe Lopes baseou-se numa lógica de voluntariado, após os apoios iniciais do então Instituto do Livro (actual DGLAB), contando com a parceria institucional da Direcção Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais. Desde então realizou centenas de sessões em quase todos os Estabelecimentos Prisionais do país, num trabalho não apenas de promoção do livro e da leitura mas de utilização destas ferramentas para apoiar a integração social dos reclusos.
No final de 2014, uma campanha de crowdfunding (financiamento partilhado) não conseguiu atingir o seu objectivo mínimo e, já este ano, o lançamento do livro “O lado de dentro do lado de dentro” (com originais de diversos autores como Alice Vieira ou Zichard Zimler), cujas vendas revertiam para financiar o projecto também não conseguiu angariar os recursos necessários. Apesar dos recentes protocolos com a Direcção Regional da Cultura dos Açores e da Direcção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas para a realização de projectos específicos em seis estabelecimentos prisionais, o responsável pela iniciativa considera não estarem reunidas as condições para continuar, sobretudo pela incapacidade de dar resposta a todos os pedidos e de implementar uma intervenção a nível nacional, prevista para 2016, incorporando a bolsa de cerca de uma centena de voluntários que pretendiam integrar o projecto. Para Filipe Lopes, o alheamento da sociedade civil em relação a estas questões e o facto de nenhuma das trezentas maiores empresas do país ter demonstrado disponibilidade para colaborar foram determinantes para a tomada de decisão, afirmando que existe um estigma associado às prisões e aos reclusos que leva a que não seja interessante associar a imagem a este tipo de intervenção. Lembra ainda que estas iniciativas, que procuram apoiar o trabalho desenvolvido pelos técnicos dentro das instituições, necessita de uma consistência e conhecimento que permitam realizar uma intervenção séria e eficaz, que não pode ser realizada de ânimo leve nem em função da disponibilidade “nos tempos livres”.
Após cerca de 35 actividades desenvolvidas já este ano, sem qualquer tipo de apoio, A Poesia não tem grades realizará até ao final de Janeiro de 2016 as iniciativas agendadas nos EP’s de Montijo, Odemira, Leiria, Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, encerrando depois um ciclo de doze anos de intervenção.
+ info: