Edificado nos séculos XVII e XVIII, o Mosteiro de São Bento da Vitória (MSBV), no Porto, – cujo Claustro Nobre está, desde 2007, a cargo do Teatro Nacional São João (TNSJ) – foi um dos edifícios religiosos mais importantes da cidade, e a grande obra arquitetónica da Ordem de São Bento no Porto. A partir deste mês, e indo ao encontro das inúmeras solicitações, nomeadamente de turistas estrangeiros, o MSBV abre as suas portas para visitas guiadas diárias e permanentes a todos os que queiram conhecer os segredos, histórias e detalhes desta grande obra arquitetónica que, em 1977, foi classificada como Monumento Nacional.

Situado dentro das muralhas do morro da freguesia da Vitória e a ocupar grande parte da antiga judiaria, o Mosteiro de São Bento da Vitória começou a ser construído em 1604 pelo arquiteto régio Diogo Marques Lucas. Os trabalhos de edificação duraram cerca de dois séculos, num processo longo que marca a presença monástica no país e que se reflete na arquitetura maneirista e barroca, bem como na ornamentação da Igreja.

O percurso ao longo do Mosteiro de São Bento da Vitória conta com sete “estações”, com destaque para o Claustro Nobre, espaço onde se realizam espetáculos teatrais da programação do TNSJ, concertos e eventos; a Sala do antigo Tribunal Militar, local que foi a biblioteca do Mosteiro, mas que se tornou uma sala para apresentação de espetáculos de pequena escala; e o Centro de Documentação, antiga sala de recreio dos monges que, atualmente, alberga uma biblioteca especializada em artes performativas.

As visitas guiadas decorrem de segunda a sexta-feira, às 12h30, até 30 pessoas, estando salvaguardadas nas visitas para turistas estrangeiros informações sobre o Mosteiro em inglês, francês e espanhol. O preço é de três euros por pessoa com entrada gratuita para crianças até aos 10 anos, desde que acompanhadas por adultos. Os grupos escolares têm entrada gratuita, mediante marcação.

As várias “vidas” do Mosteiro de São Bento da Vitória

O Mosteiro de São Bento da Vitória tornou-se rapidamente um centro de cultura e influência social e pastoral, sendo, inclusive, classificado como “edifício de primor, autoridade e majestoso”. A magnífica casa monástica terá, todavia, uma história atribulada. Em 1809, na sequência das invasões francesas, o Mosteiro é convertido em Hospital Militar. Em 1833, logo após o Cerco do Porto (período em que as tropas liberais de D. Pedro estiveram sitiadas pelas forças absolutistas de D. Miguel), o Mosteiro foi ocupado pelo exército e os monges dispersos. Um ano depois, as Ordens Religiosas eram extintas por decreto. Nas décadas seguintes, o Mosteiro foi sucessivamente ocupado por regimentos de infantaria, batalhões de sapadores ou de artilharia, funcionando também como tribunal militar.

Em 1922, um incêndio destruiu parte do Mosteiro levando à saída gradual dos corpos militares. Em 1977, só restava o tribunal militar, que anos depois abandonava o Mosteiro, deixando o edifício devoluto e num considerável estado de degradação. Foi submetido a obras de restauro pelo IPPAR, entre 1984 e 1990, sob a orientação dos arquitetos Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro. Entre 1997 e 2005, foi sede da Orquestra Nacional do Porto.

Teatro Nacional São João já foi visitado por cerca de duas mil pessoas

Recorde-se que no início do ano, após a reabilitação da fachada e devolução em pleno do TNSJ à cidade do Porto, o edifício passou a acolher visitas guiadas. Até ao momento, cerca de duas mil pessoas já conheceram a história, os bastidores e os momentos marcantes de uma das mais míticas salas de teatro nacionais. O objetivo desta estratégia passa pela captação de público estrangeiro para os espetáculos da Casa, que contam, na sua grande maioria, com tradução em inglês, e, desta forma, capitalizar o número crescente de turistas na cidade.