A igreja de Nossa Senhora ao Pé da Cruz, em Beja, um dos mais notáveis edifícios barrocos do Alentejo, junto à histórica via de peregrinação que liga Sevilha a Compostela, abre as suas portas, a 6 e 7 de Novembro, para receber as Jornadas “Novas Perspectivas do Caminho de Santiago em Portugal e Espanha”. É a primeira vez que, após extensos trabalhos de restauro – esteve a ponto de colapsar –, o monumento acolhe os visitantes.

Um sítio bem escolhido para, numa conjuntura de crescimento das peregrinações a Compostela, analisar como o Caminho Português ganha novo protagonismo e oferece oportunidades significativas para a sustentabilidade do património, tanto no meio rural como no urbano. As peregrinações costeira e marítima são outro alvo. Presentes, peritos e responsáveis pelo estudo, gestão e promoção do Caminho de Santiago à escala ibérica.

Este encontro faz parte da programação de Mostra España 2015 e pretende criar um espaço de diálogo entre Portugal e Espanha que visa o intercâmbio de conhecimentos, experiências e boas práticas em torno da realidade patrimonial, ambiental, religiosa e turística do Caminho de Santiago. Reconhecido pelo Conselho da Europa, em 1987, como o primeiro Itinerário Cultural Europeu, e declarado pela Unesco Património da Humanidade, em França e Espanha, o vasto conjunto de itinerários de peregrinação que tem por meta Santiago de Compostela assume cada vez mais importância económica e social ao longo dos territórios que atravessa. Para muitas regiões a braços com a desertificação, como sucede frequentemente com o interior do nosso país, ele significa um alento de vida.

Organizadas pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, pela Subdirección General de Cooperación Cultural con las Comunidades Autónomas – que tem a seu cargo a Secretaria da Comisión Ejecutiva del Consejo Jacobeo, o órgão máximo, em termos internacionais, do Caminho de Santiago – e pela Subdirección General de Promoción Exterior de la Cultura, ambas pertencentes à Secretaría de Estado de Cultura de España, as Jornadas contam com a colaboração do Município de Beja e do Festival Terras sem Sombra de Música Sacra.

O programa propõe uma análise do Caminho de Santiago na Península Ibérica, do ponto de vista do seu património histórico e natural, debate a problemática das peregrinações como fenómeno turístico e reserva um espaço especial para os projectos que culminaram com êxito graças à cooperação europeia. Cada secção das Jornadas será aberta com uma conferência que faz o ponto da situação do tema, tanto em Espanha como em Portugal, seguindo-se a apresentação de “casos de estudo” nos dois países, oferecendo, assim, a possibilidade de se ter uma visão mais completa das principais iniciativas que estão actualmente a funcionar, no terreno, ao longo da Península Ibérica, assim como a oportunidade de partilha de experiências, contribuindo para um enriquecimento comum, à luz de Interreg, Europa Criativa e outros programas financiados pela União Europeia.

As Jornadas abrem com uma conferência magistral sobre o Caminho de Santiago como itinerário vertebrador da Europa e via de difusão de uma cultura comum, pronunciada pelo Professor José A. García de Cortázar. Estarão presentes, entre outros, o Deão-Presidente da Catedral de Santiago de Compostela, os altos responsáveis pelo Caminho de Santiago no âmbito do Governo de Espanha, dos Governos Autonómicos da Galiza, de Castela e Leão e do Principado das Astúrias, o Presidente da S. A. de Gestão do Caminho Jacobeu, o Presidente da Câmara Municipal de Beja e da CIMBAL, a Directora Regional de Cultura do Alentejo, o Presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, presidentes das Associações de Amigos do Caminho, investigadores e professores universitários, o que imprime a esta iniciativa um alcance digno de nota.

O encerramento será assinalado, no dia 7, às 21h30, na igreja de Santa Maria da Feira, matriz de Beja, com um concerto anteprima do Festival Terras sem Sombra, pelo Coro de Canto Gregoriano de España, dirigido por Ismael Fernández de la Cuesta. Sob o título “Pelo Caminho de Santiago: De Beja a Compostela”, reconstitui uma missa tal como era cantada, a partir do século XIII, em igrejas situadas ao longo do Caminho. Este concerto apresenta uma novidade: a apresentação de um Gloria in excelsis Deo, no Modo V-VI (Tritus), extraído de um livro de coro do antigo convento da Conceição, de Beja, que não se escuta desde a extinção da casa religiosa, em 1892. A reconstituição musicológica desta notável peça da tradição local insere-se numa colaboração entre o Arquivo Distrital de Beja, que detém os fundos musicais do mais importante convento da cidade, e o Festival Terras sem Sombra.

Cruzam o Alentejo, vindos do Algarve, da Andaluzia e da Estremadura espanhola, alguns dos principais segmentos do Caminho Português de Santiago. Estes percursos, esquecidos durante longo tempo, encontram-se actualmente numa fase de reconstituição, sendo já percorridos, todos os anos, por milhares de peregrinos a pé, a cavalo ou de bicicleta (junto ao Atlântico, também em pequenas embarcações). Beja constitui uma referência histórica nesta rede de vias peregrinatórias, as quais tinham um ponto de paragem obrigatório na igreja de Santiago Maior, actual catedral, e no antigo Hospital Grande, pertença da Misericórdia local.