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O novo Mia Couto já está nas livrarias

Mulheres de Cinza, o novo romance do escritor moçambicano, abre uma trilogia dedicada a Gungunhana.

Mia Couto fotografado em Lisboa, em 2009 [Rui Gaudêncio]

Mia Couto vai estar no domingo em Óbidos para dar uma aula sobre literatura africana.

Mulheres de Cinza, o último romance de Mia Couto que chega este sábado às livrarias portuguesas, inicia uma nova trilogia do escritor moçambicano sob o título global As Areias do Imperador.

A personagem central no novo romance, Ngunyane (nome que os portugueses transformaram em Gungunhana), foi um imperador de Gaza, no sul de Moçambique, que se rebelou contra a potência colonizadora e acabou derrotado por Mouzinho da Silveira, preso e desterrado para os Açores, onde morreu em 1906.

A glória e o mito de Ngunyane atravessaram os dois países, fomentados também por algumas inverdades e falsificações históricas, ao sabor dos interesses do momento. Em declarações ao quinzenário português Jornal de Letras, o escritor diz que Portugal sentiu necessidade de engrandecer o imperador, para tornar maior a sua vitória sobre o rebelde, e que Moçambique o aproveitou para o panteão dos seus heróis nacionais e anticoloniais.

"Ora, Ngunyane nunca pensou nesta nação chamada Moçambique", conclui Mia Couto, dizendo que as versões "são construções de parte a parte".

Falando esta semana à Lusa, em Maputo, o autor disse que os moçambicanos continuam "ainda prisioneiros de uma versão única do passado" e precisam de se libertar de uma narrativa solitária e de assumir que há outras" maneiras de contar a história. "Hoje fala-se muito num discurso pluralista, em que os moçambicanos se aceitem diversos, mas não teremos um presente com essa diversidade se não soubermos que temos um passado com muitas versões e são todas válidas", defendeu.

Natural da Beira, centro de Moçambique onde nasceu em 1955, Mia Couto é autor de uma vasta e premiada obra, iniciada em 1992 com Terra Sonâmbula, romance que já foi considerado um dos dez melhores livros de ficção africana.

Em 2013 ganhou o Prémio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, e, em 2015, foi um dos dez finalistas do Man Booker International Prize.

Mulheres de Cinza, primeiro volume da trilogia As Areias do Imperador, é editado pela Caminho, estando a saída dos dois próximos volumes prevista para 2016 e 2017.

A obra vai ser apresentada pelo escritor no domingo, no Fólio - Festival Internacional de Literatura de Óbidos (Tendas dos Editores, às 18h), depois de uma aula de literatura africana, que Mia Couto vai dar em parceria com José Eduardo Agualusa, no Museu Municipal da vila (às 15h).

A apresentação em Lisboa realizar-se-á na terça-feira, 20 de outubro, a partir das 18:30, na Fnac Chiado.

 


por Lusa, in Público | 17 de outubro de 2015
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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