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Ângela Ferreira vence prémio Novo Banco Photo 2015
A artista, portuguesa e sul-africana, viu reconhecido o seu trabalho sobre o discurso pós-colonial que pensa desde os anos 90.
A artista é a vencedora do prémio Novo Banco Photo deste ano. O nome foi anunciado ontem ao final do dia no Museu Berardo, onde os trabalhos dos três finalistas estão em exposição. A artista portuguesa concorria com o brasileiro Ayrson Heráclito e o angolano Edson Chagas.
"Vim preparada para perder, não para ganhar", começou por dizer a artista vencedora no seu discurso de agradecimento, depois do secretário de estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, ter anunciado o nome de Ângela Ferreira.
"Este prémio devia ser partilhado por todos", disse ainda a artista, lembrando os outros dois finalistas do prémio Novo Banco Photo com quem partilha a exposição que está no Museu Berardo.
"É um momento único na história deste prémio", continuou Ângela Ferreira. "Há uma coerência muito grande, como se um curador interessado nestes temas tivesse estado aqui", defendeu a artista, de nacionalidade portuguesa e sul-africana, nascida em Maputo, Moçambique, em 1958.
África é o denominador comum do trabalho dos três finalistas, em exposição desde junho no Museu Berardo, em Lisboa. "É o reconhecimento de um discurso pelo qual tenho vindo a lutar", afirma a artista. O discurso de que fala é pós-colonial, e o trabalho era solitário nos anos 90 quando se começou a dedicar a ele e até quando representou Portugal na Bienal de Veneza em 2007.
Ângela Ferreira criou uma instalação inspirada no edifício onde funcionou o ministério do Ultramar durante o Antigo Regime, onde são projetados os filmes realizados por Margot Dias, mulher do etnólogo António Jorge Dias, fundador do Museu de Etnologia, durante as suas campanhas por Moçambique, em que estudava os Macondes e, ao mesmo tempo, fazia relatos sobre a atividade política daqueles com quem se ia cruzando. "É também um trabalho sobre como a ética científica se casou com a política", nota a artista, que saiu de Moçambique no momento da descolonização, cresceu na África do Sul e se mudou para Portugal nos anos 90. "Achei que era importante ter essa nacionalidade africana", conta. Ter um passaporte moçambicano, por outro lado, exigia abdicar das outras nacionalidades, o que também não quis fazer. "Vou a Moçambique, tenho lá amigos, mas as cidades onde me sinto em casa são Lisboa e Cape Town".
A artista concorria ao prémio de 40 mil euros ao lado do baiano Ayrson Heráclito, que uniu às duas margens do Atlântico. De um lado, as fortalezas de onde homens e mulheres saíam para um destino de escravatura, do outro o Brasil. Em comum, a cerimónia de sacudimento (para afastar mais espíritos). Edson Chagas, de Angola, apresentou um trabalho sobre as memórias na praia das tabelas, em Luanda.
Os trabalhos vão ser avaliados por um júri constituído por Dana Whabira (Londres, Harare), artista e curadora, Manthia Diawara (Bamako, Nova Iorque), historiador de arte e professor da New York City University), e Salah Hassan (Cartum, Nova Iorque), historiador de arte e professor na Cornell Universtity, em Ítaca, Nova Iorque. A decisão foi "unânime", anunciou Diawara na cerimónia, revelando que finalmente, após terem ouvido os artistas, consideraram como cada projeto se articulava no corpo de trabalho do artista.
Resultado de uma parceria entre o Novo Banco (ex-BES) e o Museu Coleção Berardo, o prémio realiza este ano a sua quinta edição com estatuto internacional, abrangendo não apenas artistas de nacionalidade portuguesa, mas também brasileira e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Desde 2004 que premiava artistas portugueses ou residentes em Portugal, que no ano anterior tivessem apresentado projetos fotográficos.
Helena Almeida venceu a primeira edição, José Luís Neto em 2005, Daniel Blaufuks em 2006, Miguel Soares em 2007, Edgar Martins em 2008, Filipa César em 2009, Manuela Marques em 2011, Mauro Pinto em 2012, Pedro Motta em 2013, e Letícia Ramos em 2014.
Ângela Ferreira, Ayrson Heráclito, Edson Chagas - Novo Banco Photo 2015 está no Museu Berardo, em Lisboa, até 11 de outubro. A entrada é livre.
por Lina Santos, in Diário de Notícias | 22 de Setembro de 2015
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias