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García Márquez foi vigiado durante 24 anos pelo FBI
A agência federal manteve registos atualizados sobre o escritor até aos primeiros anos da década de 1980.
O escritor colombiano morreu a 17 de Abril de 2014, aos 87 anos AFP PHOTO / Yuri CORTEZ
O escritor colombiano Gabriel García Márquez foi espiado ao longo de 24 anos pelo FBI, tendo permanecido sob vigilância mesmo depois de deixar de viver nos Estados Unidos.
Aos 33 anos, em 1961, Gabriel García Márquez chegou a Nova Iorque para trabalhar como correspondente da agência de notícias cubana Prensa Latina. Foi nesse ano, quando se alojou no Hotel Webster, em Manhattan, durante um mês, que terá entrado no radar de J. Edgar Hoover, o então diretor do FBI.
Apesar de ainda em 1961 o escritor se ter mudado para a Cidade do México, documentos desclassificados pela agência federal e revelados neste sábado pelo jornal The Washington Post (WP) mostram que o Prémio Nobel da Literatura 1982 continuou a ser espiado até ao início dos anos 1980.
Antes de chegar à cidade norte-americana com a mulher e o filho para desempenhar funções como correspondente da Prensa Latina, Gabo, como era apelidado o escritor, passou por cidades como Genebra, Caracas e Bogotá, sempre ao serviço de jornais e revistas latino-americanos.
Agora, muitos anos depois, questionado pelo Washington Post, o filho Rodrigo García recorda que o pai referiu várias vezes que estava a ser seguido por dois homens no seu percurso para casa.
No entanto, Rodrigo García, que tinha 3 anos quando o pai começou a trabalhar nos Estados Unidos, disse ao jornal norte-americano que era presumível que os homens estivessem a trabalhar para uma fação cubana ou para a CIA. "Considerando o facto de que este colombiano estava em Nova Iorque a abrir uma agência de notícias cubana, seria invulgar que não o espiassem”.
O FBI desclassificou, a pedido do jornal norte-americano, 137 páginas sobre o processo do Nobel colombiano que não tornam claro o que motivou concretamente o interesse da agência federal na vida do escritor. Não há registo de que o FBI tenha aberto qualquer investigação criminal, mas 133 páginas continuam por desclassificar.
Rodrigo García, que hoje trabalha na indústria do cinema, em Los Angeles, refere que, apesar da amizade com o líder cubano Fidel Castro, o autor de Cem anos de solidão “nunca pertenceu a nenhuma organização política”. García acrescenta que o pai foi demitido da Prensa Latina por não ser “radical o suficiente”.
De acordo com o Washington Post, no ficheiro do FBI – que inicialmente registou o nome do escritor como José García Márquez – pode ler-se que uma equipa da agência manteve contacto com pelo menos “nove informantes confidenciais”, que detalhavam as atividades do então correspondente.
A vigilância de políticos, escritores e artistas por parte da agência federal norte-americana não constitui novidade. O escrupuloso registo de movimentos e aspetos sobre a vida e obra de autores como Ernest Hemingway, John Steinbeck, Norman Mailer ou Ralph Ellison tem vindo a ser tornado pública.
Gabo morreu na Cidade do México, na sua residência, a 17 de Abril de 2014. Tinha 87 anos e ficou conhecido pelo realismo mágico com que retratou a América Latina.
in Público | 6 de setembro de 2015
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público