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Projecto “A Poesia não tem grades” continua a levar literatura às prisões portuguesas.

Os meses de Verão são alguns dos mais difíceis se suportar para quem se encontra a cumprir pena de prisão. O calor sentido em instalações onde não é suposto existir muito conforto ou a ausência das atividades escolares regulares que decorrem durante o ano letivo aumentam os índices de frustração nesta época do ano. Procurando ajudar a combater esta questão, o projecto A Poesia não tem grades continua a sua intervenção em Agosto e Setembro, dinamizando ações de intervenção artística em vários estabelecimentos prisionais.
Santa Cruz do Bispo (Feminino e Masculino) a 24 de Agosto, Guimarães a 27, Viana do Castelo a 28, Torres Novas a 1 de Setembro, Setúbal a 2, Odemira a 3 e Elvas a 4 são os próximos locais onde decorre esta iniciativa dinamizada por Filipe Lopes desde 2004. Levar leituras mas, essencialmente, mostrar a utilidade da arte e procurar escutar o que têm para partilhar os reclusos são as vertentes de uma atividade desenvolvida em parceria com a Direcção Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais, mas sem qualquer outro apoio concreto. Apesar das dificuldades sentidas para continuar a percorrer o país de forma voluntária, existe a convicção de que é necessário manter a colaboração com os Estabelecimentos Prisionais, levando atividades que promovam o desenvolvimento intelectual dos reclusos, o seu interesse por áreas como a leitura e potenciando assim um processo que permita uma melhor reinserção na sociedade, no futuro.

Ao longo de mais de uma década de trabalho de A Poesia não tem grades, os resultados são positivos, avaliando as respostas dos reclusos que participam e dos técnicos que acompanham as sessões. Para Filipe Lopes o desafio é passar de sessões isoladas, com cerca de noventa minutos, para um trabalho mais continuado que permita aferir melhor o impacto nos indivíduos e aumentar os resultados práticos. No entanto, este desejo tem esbarrado nas limitações financeiras, consequência de tempos de limitação orçamental para muitas entidades mas também, acredita o mentor do projecto, de algum preconceito latente ainda em empresas que receiam associar a sua imagem a este tipo de população. Na verdade, o enorme desconhecimento sobre a realidade que se vivida dentro de uma prisão ou os reais objetivos por detrás do processo de reinserção refletem-se nos habituais comentários de uma grande parte da sociedade portuguesa, a quem Filipe Lopes tem procurado apelar em múltiplas entrevistas e sessões públicas de esclarecimento, tentando que alterar uma perceção e congregar apoios não apenas para este projecto mas para dezenas de outros que, todos os dias, ajudam a complementar as funções do Estado dentro do sistema prisional.

O recluso de hoje é o nosso vizinho de amanhã” é uma das frases repetidas por Filipe Lopes para ilustrar a necessidade de criar condições para que o encarceramento como forma de fazer justiça se converta em algo de positivo, não punindo apenas quem infringiu a Lei de forma grave mas apoiando a sua renovação pessoal, diminuindo a possibilidade de reincidência e preparando o seu retorno a uma sociedade que também deverá estar disponível para acolher ajudar a criar um ciclo negativo. A par dos momentos de introspecção a que a cela conduz, é fundamental que homens e mulheres que cometeram erros e possam conhecer atividades e conceitos com os quais, grande parte das vezes, nunca teriam contacto se não tivessem sido presos. O abandono precoce da escola ou o completo analfabetismo são contrariados com a frequência de cursos de formação nos Estabelecimentos Prisionais, permitindo assim abrir novos horizontes e criar outras oportunidades no regresso à vida ativa. Também a exposição à leitura, por exemplo, permite descobrir e canalizar uma energia que nem sempre este bem direcionada, por falta de alternativas. Tentar demonstrar que todas estas iniciativas não são uma perda de tempo, antes uma forma eficaz de tornar o mundo que todos partilhamos um local mais seguro é também um dos objetivos de A Poesia não tem grades.

Este ano já decorreram sessões nos Estabelecimentos Prisionais de Paços de Ferreira, Vale do Sousa, Vila Real, Viseu, Caldas da Rainha, Carregueira, Alcoentre, Lisboa, Tires, Beja, Sintra, Leiria (adultos e jovens), Montijo, Olhão, no Hospital Prisional de São João de Deus e também no EP Junto da Polícia Judiciária do Porto. O objetivo ainda em 2015 é desenvolver projetos de continuidade em dez Estabelecimentos, permitindo assim potenciar toda a intervenção de forma sustentada e coerente, levando-a muito para além de um projecto de promoção da leitura e constituindo-se como um instrumento de valorização pessoal e inserção social.

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