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São Pedro do Sul já tem um festival para dizer o que tem a dizer

Até domingo, Ocupai! vai estimular a liberdade de expressão no espaço público.

De Espanha vem o grupo Aldao Lado [DR]

 

São Pedro do Sul? Precisamente: estamos mesmo a falar daquela pequena cidade de 3.600 habitantes bem metida naquilo a que se convencionou chamar o interior (a 22 quilómetros de Viseu, ou seja: no país anteriormente conhecido por Cavaquistão). Uma pequena cidade suficientemente fora de mão para poder pôr-se no mapa, género Vilar de Mouros ou Paredes de Coura, como nome do meio de um festival de Verão. Podia ser, mas não é o caso: o Ocupai! – Festival Ibérico de Arte e Ação, cuja primeira edição decorre no centro histórico de São Pedro do Sul a partir de esta sexta-feira e até domingo, é “um festival no Verão que não é um festival de Verão”.

Primeira ocupação do núcleo urbano de São Pedro do Sul pela Binaural – uma associação de pesquisa no domínio das artes sonoras com 11 anos de trabalho na periferia rural do concelho, a partir da aldeia de Nodar –, o Ocupai! quer desafiar uma cidade pouco dada a manifestações a ocupar livremente o seu espaço público. Explica Luís Costa, o diretor artístico e de programação deste festival que junta a Binaural à Câmara Municipal de São Pedro do Sul, já no âmbito do apoio tripartido da DGArtes que lhes foi concedido.

“Esta é uma cidade em que as pessoas tendem a esconder-se e a evitar manifestar-se nos espaços públicos. A nossa constatação, que decorre da experiência prolongada de trabalho no miolo rural do concelho, é de que há mais espontaneidade nas aldeias do que na cidade.”

É justamente com esse espírito de aldeia que a Binaural chega agora ao centro de São Pedro do Sul: “Achámos que era importante começar por descer da montanha à cidade – uma cidade híbrida, em transformação, com uma população que ainda é predominantemente de origem rural, onde é difícil encontrar jovens a partir dos 17 anos porque são forçados a sair para estudar ou para trabalhar, e que ainda é muito marcada pela emigração”, diz Luís Costa.

Reivindicando a liberdade de expressão ao mesmo tempo como um direito e um dever de cidadania, o Ocupai! convida agora a cidade “a expor-se, a dizer o que está a pensar e o que está a sentir”. E em particular três das suas populações mais sensíveis, no seguimento do raciocínio anterior: os habitantes do centro histórico (“em crise, como muitos”), a juventude, que Luís Costa sente “intervir pouco” (está no manifesto do festival: “Porque é que a população jovem diz que ‘aqui não se passa nada’ e não assume o seu poder coletivo em processos de transformação?”) e os emigrantes, que por esta altura começam a regressar a São Pedro do Sul para as suas férias de Verão “e que normalmente não são muito tidos em conta pelas programações, para lá das festas e romarias locais”.

Paradoxalmente ou não, nota o diretor do festival, os sampedrenses radicados na Suíça (“Há uma comunidade fortíssima no cantão do Ticino, que nos últimos 20 anos representa cerca de 80% da emigração desta zona”) são “mais cosmopolitas do que as pessoas que aqui vivem” – o Ocupai! quer por isso abordá-los diretamente, assim como à comunidade que saiu da região para se fixar em Lisboa, onde se concentrou muito expressivamente no Bairro Chinês, em Marvila, um tema que a Binaural desenvolveu numa instalação audiovisual desenvolvida em parceria com o ISCTE, Da Serra ao Bairro Chinês, e que apresentará ao longo deste fim-de-semana.

Além dessa e de mais três instalações da Binaural, o programa das festas para este fim-de-semana é a aplicação prática do verbo que dá nome ao festival – e logo na forma imperativa, porque se trata assumidamente de um incitamento à cidade (não confundir com uma ordem). “Escolhemos uma palavra muito associada a um determinado movimento internacional [o movimento Okupa], mas subvertendo-a para a tornar mais cortês e menos agressiva”, sublinha Luís Costa, assim justificando o uso de uma fórmula especialmente old-school, a segunda pessoa do plural, questão de “cortesia à moda antiga”, à escala de uma cidade onde ainda se diz “olá, vizinho”.

Mas voltando ao programa, que começa todos os dias às 14h e dura até de madrugada (exceto no domingo, em que as atividades terminam às 20h): concertos dos portugueses Peixe:Avião, Gazua, Tranglomango, ou dos espanhóis Aldao Lado; performances como Concerto para as Estrelas, do Teatro do Frio, Perrita China, de Nilo Gallego e Amalia Fernandez, ou Telépathie, do coletivo somospeces#; e ainda um Cantinho do Falador com microfone aberto para “declarações de dúvida, indignação ou amor”, as jam sessions totalmente livres Vem tocar o que sabes, e as estreias da Orquestra Sampedrense de Ringtones, em que os únicos instrumentos permitidos são smartphones, e do projeto Campanologia Sampedrense, uma banda sonora criada coletivamente para os sinos das igrejas e das capelas locais.

É uma primeira aproximação à cidade, para ver como corre: “Não é um festival fácil, mas é o festival que nos parece necessário. Se fossemos imediatamente para o consensual e não fizéssemos a experiência, nunca iríamos perceber como é que São Pedro Sul reage à novidade.” Pelo sim, pelo não, a entrada é gratuita em todas as atividades. Mas embora isto não seja um festival de Verão também há uma pulseira, que no caso dá direito a um desconto de 20% em restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos locais: custa dois euros se for só para um dia, cinco euros se for para os três.

por Inês Nadais, in Público | 31 de julho de 2015

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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