"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Berhan da Costa e João Pinharanda escolhidos para conselheiros culturais em Madrid e Paris

Em Espanha não havia adido cultural desde 2013 e em França desde 2011.

João Pinharanda, foto de Fernando Veludo/Arquivo  Behran da Costa, à direita, foto de Pedro Cunha
O ex-diretor do Gabinete dos Meios para a Comunicação Social e o programador artístico da Fundação EDP reativam os cargos.
 
As embaixadas de Portugal em Madrid e Paris vão voltar a ter um conselheiro cultural. Pedro Berhan da Costa, ex-diretor do extinto Gabinete dos Meios para a Comunicação Social e antigo presidente do Instituto do Cinema, inicia funções em Espanha já esta segunda-feira. O historiador de arte e curador João Pinharanda foi escolhido para a capital francesa, onde deverá começar a trabalhar no verão.

Em Espanha, não há um adido para a Cultura desde 2013 e em França há quatro anos que se esperava uma nova nomeação.

A escolha de Berhan da Costa, que foi até ao final do ano passado responsável pelo organismo que assessorava o Governo na conceção, execução e avaliação das políticas públicas para a comunicação social, saiu em Diário da República no início deste mês. Ao PÚBLICO, Berhan da Costa revelou que começa a trabalhar em Madrid esta segunda-feira. Pinharanda espera ainda que a sua nomeação seja publicada, o que deverá acontecer dentro de semanas.

Atualmente programador artístico da Fundação EDP, Pinharanda deverá assim ocupar o lugar deixado vazio por Fátima Ramos. A antiga administradora da Culturgest, em Lisboa, foi a última conselheira cultural na embaixada portuguesa em Paris, função que manteve entre 2004 e 2011. Já Berhan da Costa vai substituir Luís Chaby Vaz, que foi conselheiro cultural na capital espanhola entre 2011 e 2013.

Nas vésperas da aprovação do Orçamento do Estado de 2012, Paulo Portas, então ministro dos Negócios Estrangeiros, fechou várias embaixadas, missões e consulados, e dispensou dezenas de conselheiros técnicos que trabalhavam em embaixadas um pouco por todo o mundo. À exceção dos conselheiros da REPER (missão junto da União Europeia), do conselheiro jurídico de Nova Iorque (missão junto da ONU) e do conselheiro cultural e de imprensa da embaixada de Londres, há quatro anos desapareceram praticamente todos os conselheiros da rede diplomática portuguesa, tanto culturais, como económicos, jurídicos ou de imprensa.

A reabertura dos lugares em Madrid e Paris, no entanto, não reflete uma nova política do governo para a rede de conselheiros culturais. São apenas "passos tímidos" no sentido de "repor alguma normalidade" em países estratégicos, diz fonte diplomática, seguindo uma ideia defendida internamente pelo próprio ministro Rui Machete. O diplomata Francisco Ribeiro de Menezes, que no ano passado deixou de ser chefe de gabinete do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho para retomar a carreira diplomática como embaixador em Madrid, tem sublinhado a importância de Espanha voltar a ter um conselheiro cultural. O mesmo fez o embaixador em Paris, José Filipe Moraes Cabral, ex-chefe da Casa Civil de Jorge Sampaio em Belém.

Gilberto Jerónimo, sucessor de Ribeiro de Menezes no gabinete do primeiro-ministro, está, segundo o Expresso, em vias de ser colocado como embaixador da UNESCO em Paris, uma missão que o Governo tem também em processo de reabertura.

Na ausência de conselheiros culturais, os "cargos têm sido exercidos interinamente e de maneira fragmentária pelos leitores, que são professores universitários", diz ao PÚBLICO João Pinharanda, que acredita que a Cultura portuguesa ganhará outro destaque simplesmente porque, “quando temos uma pessoa dedicada a tempo inteiro a uma tarefa, há mais atenção do que quando se está a fazer várias tarefas ao mesmo tempo”.

Apesar de ainda não ter sido formalmente nomeado, Pinharanda já tem ideias para os próximos três anos (com a possibilidade de mais três renováveis). O programa cultural para 2015 está definido, o que lhe dá tempo para se adaptar. “Ainda não tenho dossiers nem orçamentos”, diz, para explicar que o que defende agora são apenas “intenções”. E delas fazem parte a criação de um site e de uma página nas redes sociais para divulgação de iniciativas portuguesas no país. “A Embaixada e o Instituto Camões devem aproveitar tudo o que acontece em França e não é feito no âmbito oficial”, acrescenta, defendendo ainda a celebração de um protocolo com a Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. “Não me cabe a mim definir isso agora, mas é importante perceber se a Gulbenkian e a Embaixada estão interessados em colaborar”, diz. “Essa colaboração claramente já existe; falo de aprofundar isso de uma forma protocolar – o que existe é feito de maneira espontânea e de livre iniciativa”, explica. E dá o exemplo da grande exposição que vai acontecer no próximo ano no Grand Palais, em Paris, dedicada a Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918). “De alguma maneira tem de haver um aproveitamento por parte do Estado português dessa iniciativa da Gulbenkian, que é a maior colecionadora do artista.”

Pinharanda destaca ainda o facto de o Governo ter escolhido dois nomes fora do mundo das letras e da língua. “Pode ser bom sair da linha das literaturas e haver pessoas com outros percursos”, refere. Em Paris, antes de Fátima Ramos estiveram na embaixada os escritores Nuno Júdice, Eduardo Prado Coelho e Eduardo Cruz. Em Madrid, antes de Luís Chaby Vaz, que foi chefe de gabinete do então ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro entre 2007 e 2009, esteve o escritor João de Melo.

Para Berhan da Costa também ainda é cedo para falar do trabalho, só depois de estar instalado e em contacto permanente com o embaixador Francisco Ribeiro de Menezes é que delineará um plano de ação. “Há um mundo de coisas a fazer em colaboração com outras entidades portuguesas e espanholas, com a administração pública portuguesa e a sociedade civil”, diz.

“Os particulares têm também muitas coisas pensadas em Espanha e o adido cultural está ali ao serviço dessas iniciativas e dessas vontades”, continua Berhan da Costa, que em 2013 foi um dos candidados à direção da Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. O cinema é a sua área, mas quando fala em Cultura “num sentido muito amplo”: "A Cultura vai cada vez mais para além da música, do cinema, do teatro ou das artes plásticas. Hoje engloba as indústrias culturais e criativas, do design, à arquitetura e à moda.”

O novo conselheiro cultural em Madrid quer por isso que “todas estas expressões da atividade portuguesa sejam conhecidas em Espanha”. “Tenho a noção de que vou para um país que tem uma força cultural muito forte. É um desafio fazer com que os espanhóis, que são tão pujantes do ponto de vista cultural, se interessem pela nossa cultura. Tenho a certeza que se consegue.”

por Cláudia Lima Carvalho e Bárbara Reis, in jornal Público | 29 de junho de 2015
Notícia em Destaque, no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público
Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,893,600