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Como era ser pintor em Portugal
Exposição antológica da obra de António Charrua, no Centro de Arte Moderna.
Pode dizer-se sem muita hipótese de errar que a obra de António Charrua (1925-2008) é praticamente desconhecida do grande público. O nome, pelo contrário, ressurge pontualmente em escritos ou trabalhos de investigação sobre o chamado “grupo de Évora”, que reuniu este artista com os pintores Palolo, Areal, Álvaro Lapa e Joaquim Bravo durante a década de 60. Mais tarde, a partir dos anos 70, Charrua pouco expôs até à abertura da galeria Palmira Suso em 93, com quem viria a trabalhar. X de Charrua, comissariada por Leonor Nazaré e Ana Ruivo, acaba finalmente por trazer a merecida exposição antológica às salas do Centro de Arte Moderna (CAM).
Charrua viveu em Lisboa, Coimbra, a Parede e Évora. Logo em 1945 descobria Van Gogh e Picasso, e este último, sobretudo, iria influenciar decisivamente os primeiros anos do seu trabalho como artista. Um pouco mais tarde conhece Júlio Resende. A partir dos anos 50 participa regularmente nas exposições coletivas mais importantes do seu tempo, e trabalha em gravura, uma atividade muito comum na altura no meio artístico português. Em 1960, como já referimos, ganhou uma bolsa da Gulbenkian para viajar pela Europa. Visitou então a Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica e Holanda. Pela mesma época, há migrações plásticas evidentes entre a obra de Charrua e a dos seus colegas do grupo de Évora, todos um pouco mais novos. Outras amizades, como a de Henrique Ruivo, Vergílio Ferreira e Júlio, serão sempre motivo de crescimento como artista e pessoa.
E, nisto, o percurso de Charrua foi particularmente exemplificativo daquilo que um artista em Portugal nos anos de 60 e 70 podia ou devia ser: plurifacetado — para além das peças já referidas, Charrua fez também vitrais, tapeçarias e obras de arte pública; e deixou ainda um conjunto de cadernos de desenhos notáveis; sem grandes ilusões quanto à possibilidade de viver da sua arte, e condenado a manter-se informado sobre a arte internacional ou através de viagens, ou através de reproduções em revistas da especialidade. Tudo isto se aplica a Charrua. Mas seria injusto não nomear a ética de vida que o levou a não deixar cair nunca os amigos. E, sabe-se lá, a permitir que com essa atitude os mesmos pudessem criar a obra notável que criaram.
X de Charrua
Artista(s): António Charrua
Comissário(s): Ana Ruivo e Leonor Nazaré
Lisboa. Centro de Arte Moderna. R. Dr. Nicolau de Bettencourt.