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"AS MINHAS LEMBRANÇAS OBSERVAM-ME"
O único livro em prosa do Nobel 2011
Memórias de Tomas Tranströmer chegam às livrarias no dia 20 de setembro
As minhas lembranças observam-me é o livro de memórias do poeta galardoado com o Prémio Nobel da Literatura 2011, Tomas Tranströmer. A edição cuidada da Sextante Editora, que é publicada no dia 20 de setembro, tem um posfácio do crítico e também poeta Pedro Mexia e inclui dez poemas inéditos e várias fotografias do autor e dos seus manuscritos.
Nesta obra, a única em prosa, Tranströmer narra a sua infância e adolescência na Suécia, seus hábitos e educação, e como descobriu a poesia. Trata-se de um livro indispensável para quem quiser conhecer melhor um dos poetas mais importantes do nosso tempo.
O Livro
«A minha vida.» Quando penso estas palavras, vejo diante de mim um rasto de luz. Observando melhor, a luz tem a forma de um cometa, com uma cabeça e uma cauda. A extremidade mais luminosa, a cabeça, é a infância e a idade do crescimento. O núcleo, a parte mais densa, é a primeira infância, quando são determinados os traços principais da nossa vida. Tento recordar-me, tento chegar lá. Mas é difícil movimentarmo-nos nessas regiões muito condensadas, e perigoso, tenho a sensação de que chegaria muito próximo da morte. Mais adiante, o cometa dilui-se: é a parte mais comprida, a cauda. Torna-se cada vez menos denso, mas também mais largo. Encontro-me agora num ponto muito avançado da cauda do cometa; tenho sessenta anos no momento em que escrevo estas linhas.
O Autor
Nascido em Estocolmo em 1931, Tomas Tranströmer estudou Poesia e Psicologia na Universidade de Estocolmo e, a par do seu trabalho como psicólogo com toxicodepentes e jovens delinquentes, construiu uma fulgurante carreira como poeta, várias vezes premiada e com livros publicados em mais de 60 línguas. Em 2011 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Hemiplégico e afásico devido a um AVC sofrido anos antes, Tranströmer agradeceu a distinção tocando piano. Vive atualmente na sua cidade natal com a mulher, Monica.
Poema
este agora
eleva-se como fumo quente em ar frio
este sereno agora
o cão abandonou o seu latido
a lebre abandonou a sua angústia
a flauta abandonou a boca humana
e toca sozinha
neste pobre e belo agora que luta
contra a armada dos segundos
e se afoga num redemoinho
embora me vá sobreviver