"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Centenários de Manuel Guimarães e de Mario Monicelli assinalados na Cinemateca

O ciclo Rever Manuel Guimarães vai decorrer até 30 de Junho, na Sala Luís de Pina. A retrospetiva antecede a exposição Manuel Guimarães, sonhador indómito, com curadoria de Leonor Areal.

Centen?rios de Manuel Guimar?es e de Mario Monicelli assinalados na Cinemateca
Um português que aplicou os princípios ideológicos do neo-realismo ao cinema; um italiano que deles se quis autonomizar e assim ajudou a inventar a chamada "comédia à italiana"
A Cinemateca Portuguesa vai homenagear Manuel Guimarães, a partir desta segunda-feira, com uma retrospetiva integral da sua obra, em colaboração com o Museu do Neo-Realismo, no centenário do nascimento do cineasta.
O ciclo Rever Manuel Guimarães vai permitir a reconstrução do percurso do cineasta, que se destacou pela aplicação dos princípios ideológicos do neo-realismo à Sétima Arte, nomeadamente a denúncia das desigualdades sociais, patente em filmes como Nazaré (1952), com argumento de Alves Redol, Vidas Sem Rumo (1953-56), ou O Crime de Aldeia Velha (1964).
A sessão de abertura está marcada para segunda-feira, dia 8, às 21h30, com a exibição de Saltimbancos (1951), primeira longa-metragem de Manuel Guimarães, filme "que marcou a diferença no cinema português do começo da década de 1950, relativamente às comédias 'à portuguesa que então se faziam, procurando aproximar-se dos modelos do neo-realismo italiano", realça o comunicado da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema a apresentar o ciclo.
Manuel Guimarães é "um dos mais incompreendidos e mais injustamente desconhecidos realizadores portugueses, cuja obra é urgente rever e redescobrir", lembra ainda a Cinemateca sobre o realizador que surge nos anos de 1950, antes da emergência do Cinema Novo da década de 1960.
Nascido na região de Albergaria-a-Velha, em 1915, Manuel Guimarães iniciou a carreira no cinema, integrado nas equipas de Manoel de Oliveira (de quem foi assistente de realização, em Aniki-Bóbó, em 1942), Brum do Canto ou Arthur Duarte, depois do curso de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto.
Realizou o primeiro filme em 1949, a curta-metragem O Desterrado, sobre o escultor Soares dos Reis. Seguir-se-ia Saltimbancos, de 1951, que adaptava o romance de Leão Penedo. Acentuou a crítica social em Nazaré, sobre o dia-a-dia dos pescadores, e em Vidas Sem Rumo, centrado nas comunidades mais pobres de Lisboa, obras que o transformaram em alvo da censura e da ditadura do Estado Novo.
Para sobreviver, passou a dirigir filmes comerciais e reportagens de acontecimentos desportivos. Foi nesse contexto que surgiu A Costureirinha da Sé (1958), exemplar tardio da comédia "à portuguesa", já em registo de filme-opereta, filmado na zona histórica do Porto e marcado por um apurado trabalho da cor.
Na década de 1960, dirigiu O Crime da Aldeia Velha (1964), sobre a peça homónima de Bernardo Santareno, e "O Trigo e o Joio (1965), a partir do romance de Fernando Namora.
O documentário, porém, dominava a sua atividade regular: produções de arte para a RTP e filmes sobre temas como os tapetes de Viana do Castelo, o ensino das Belas Artes, o escritor Fernando Namora, o escultor António Duarte, os pintores Dórdio Gomes e Júlio Resende, ou Areia Mar Mar Areia, já da década de 1970.
Tráfego e Estiva (1968), curta-metragem sobre Lisboa ribeirinha, com música de Carlos Paredes e narração de Luís Filipe Costa, foi o primeiro filme português rodado em 70 milímetros.
Em 1972, Manuel Guimarães ensaiaria a comédia em Lotação esgotada". Mas foi com Cântico Final (1975), a partir do romance de Vergílio Ferreira, que fez ressoar, no protagonista, os seus últimos anos de vida, como destaca a Cinemateca, na apresentação da obra. "Tocante reflexão biográfica", escreve a instituição, Cântico Final é a súmula perfeita de uma vida norteada por um sentido ético inflexível e uma obra desalinhada dos padrões críticos da sua época, mutilada pela censura e menosprezada pela história do cinema, mas sempre caracterizada por uma grande dignidade artística".
Manuel Guimarães morreu em Janeiro de 1975, aos 59 anos. A montagem de Cântico Final foi concluída por seu filho, Dórdio Guimarães.
O ciclo Rever Manuel Guimarães vai decorrer até 30 de Junho, na Sala Luís de Pina. A retrospetiva antecede a exposição Manuel Guimarães, sonhador indómito, com curadoria de Leonor Areal, que será inaugurada a 18 de Outubro no Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira, onde ficará até 28 de Fevereiro de 2016.
Este ciclo dedicado a um nome marcante da história do cinema português vai decorrer em simultâneo com uma programação em que a Cinemateca celebra, neste mês de Junho, outros dois nomes fundamental da história mundial da Sétima Arte: o ator e realizador norte-americano Jerry Lewis e o realizador italiano Mário Monicelli (1915-2010). Do primeiro, está já a decorrer, na Sala M. Félix Ribeiro, o ciclo A ordem desordenada, título que expressa bem a diversidade incatalogável da carreira desta personagem, atualmente com 89 anos.
Iniciado no passado dia 3 de Junho, o ciclo exibe este sábado Um Espada para Hollywood (1956), realizado por Frank Tashlin, e, segunda-feira, O Herói do Regimento (1957), de George Marshall. O programa dedicado a este que a Cinemateca apresenta como "o último dos cómicos totais" do cinema vai prolongar-se até ao mês de Julho.
Já na próxima semana, a partir de sexta-feira, dia 12, novo ciclo, desta vez dedicado a um dos grandes nomes da comédia à italiana, na passagem do centenário do nascimento de um cineasta que não era crente nas propostas do neo-realismo italiano, estando obviamente ensopado pela ferocidade da realidade. Mario Monicelli, Cem Anos de Cinema vai exibir nove filmes, entre Gangsters Falhados (dia 12) e Um Herói do Nosso Tempo (dia 24).

 

por Lusa, in Público | 6 de junho de 2015

Notícia em Destaque, no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,893,509