Roteiros
AZULEJARIA DE LISBOA (Roteiro 3)
Este passeio começa no Chiado, passando pelo Museu de S. Roque, Bairro Alto e Bairro da Madragoa, vai terminar na Capela das Albertas no Museu Nacional de Arte Antiga.
Comecemos este percurso no Largo do Chiado, lugar simbólico da identidade portuguesa: de um lado Camões, do outro Fernando Pessoa - e por que não lê-los (ou relê-los) quando mais logo chegar a casa cansado de palmilhar?
Suba a Rua Nova da Trindade e terá à sua direita, em frente do Teatro da Trindade, uma fachada emblemática do estilo do Ferreira das Tabuletas (séc. XIX). Um pouco acima, reparará na fachada azulejada de um prédio setecentista que abriga a tradicional Livraria Barateira para depois encontrar a Cervejaria da Trindade, o paroxismo da obra do mesmo Ferreira, toda ela forrada de painéis de simbologia maçónica. Ao lado se conseguir que o deixem espreitar os jardins traseiros, descobrirá um oásis citadino, com azulejos reaproveitados de destruições anteriores, como quando caíram “o Carmo e a Trindade”.
Continua até chegar ao Largo Trindade Coelho cujo topo norte é ocupado pela Igreja de S. Roque, de feitura jesuítica, que contém o maior conjunto de azulejos de diversas produções e datas existentes in loco na cidade. Há aqui de tudo, desde as espantosas composições de grotescos de Francisco de Matos na Capela de S. Roque, até aos de tipo tapete no transepto, passando pelos de ponta de diamante logo à entrada. Esta igreja, anexa ao Museu de Arte Sacra da Misericórdia, conta com uma publicação onde se inventariam todos os exemplares remanescentes desta arte que tão brilhantemente foi explorada em Portugal.
Continuando a subir a Rua D. Pedro V, espreite a fachada típica da segunda metade do séc. XVIII do Convento de S. Pedro de Alcântara e deambule um pouco pelas lojas de antiquários algumas especializadas em azulejos.
Chegado ao Jardim do Príncipe Real comece a descer a Rua do Século, à sua esquerda, para parar no Convento de Nossa Senhora dos Cardais, uma construção seiscentista hoje transformada em asilo de cegos (Associação Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos). O interior, de uma só nave, possui decoração de talha dourada e azulejos azuis e brancos com molduras polícromas, evocando a vida de Santa Teresa, da autoria de Jan Van Oort.
No fim da descida, quando vir à esquerda um largo com um belo chafariz do sistema das Águas Livres, tome a Rua Academia das Ciências, à direita, detenha-se um pouco na loja Ratton, onde encontrará azulejos de artistas contemporâneos e prossiga até ver, à esquerda, o vetusto edifício da Academia das Ciências. Se o deixarem entrar... terá boas surpresas.
Prossiga até S. Marçal e vire duas vezes à esquerda para o Largo de Jesus onde se lhe deparará a Igreja das Mercês (aberta em horário de missa) que tem uma capela forrada de azulejos pertencente à família de António Sousa de Macedo, diplomata e escritor do séc. XVII.
Desça a Travessa e, chegando ao largo, vale a pena subir um pouco a Calçada do Combro para visitar a Igreja de Stª. Catarina (abre todos os dias à hora da missa), do antigo Convento dos Paulistas, onde poderá observar a sua imponente fachada e decoração interior em talha joanina e estuque maneirista. Considerada por muitos como um dos mais destacados exemplares europeus da combinação barroca, rocaille e rococó.
Prossiga agora rua abaixo, pela Rua do Poço dos Negros - topónimo que é uma reminiscência do séc. XVI - e vire à esquerda na Rua das Gaivotas para descobrir na Rua da Boavista, nº 160 e 162, a curiosa fachada da antiga loja J. Vila Nova - uma composição de gosto "nouveau" em que as curvas são sugeridas por tiras de cor amarela, apresentando um dos produtos vendidos na casa, sustentadas por uma figura de nu académico.
No nº 186 fica a Casa dos Parafusos, cujo logotipo se desenha em letras monumentais em toda a fachada, com letras também em forma de parafusos. Já no Largo do Conde Barão, deparamo-nos com o antigo Palácio dos Almada Carvalhais, hoje ocupado pelo Atlético Clube da Casa Pia de Lisboa.
Ao subirmos um pouco da rampa que dá acesso ao famoso Bar B.Leza, podemos observar um registo de azulejos representando S. Cristovão, assinado por L. Batistini - Viriato Silva. Batistini ficou conhecido pela sua ética que o levava a fazer com que os seus discípulos assinassem com ele. À ilharga do largo, na esquina com a Calçada do Marquês de Abrantes, existe um prédio coberto de azulejos e, se atravessarmos a Avenida D. Carlos, deparamo-nos com uma farmácia coberta de azulejos verdes, pretos e amarelos.
No nº 65 da mesma calçada vemos um prédio que faz gaveto também todo azulejado e, no ângulo, um jardim com alegretes de azulejos que para ali foram deslocados, pois são do século XVIII. Passada a Embaixada de França, que é o antigo Palácio do Marquês de Abrantes, famoso pelo seu teto coberto de porcelana chinesa, chegamos à Rua das Janelas Verdes.
O nº 74 é um prédio com um esquema azulejar dos mais engenhosos da capital. Tiras de azulejo correm o edifício na vertical e na horizontal, cruzando-se junto das sacadas. Os ornamentos vegetais de gosto arte nova e os azulejos são relevados. Uma curiosidade a não perder é o átrio desta casa, também azulejado e decorado no teto por uma representação alegórica da cerâmica; os azulejos continuam escadas a cima. Todos eles foram executados por Viriato Silva, que viveu no primeiro andar do prédio e os fabricou na vizinha Fábrica Constância que ainda hoje continua em laboração, ali bem perto, na rua S. Domingos à Lapa.
Mas devemo-nos dirigir ao Museu Nacional de Arte Antiga. O Museu, para além das inúmeras preciosidades que possui, tem no seu interior uma das mais belas joias da azulejaria nacional: a capela das Albertas. Como se sabe, o maior museu nacional instalou-se em parte no espaço do antigo Convento de São Caetano da Ordem das Carmelitas Descalças, e a sua antiga Igreja foi incorporada como peça museológica. Por isso, podemos apreciar in situ um completo programa decorativo do século XVIII, quer com o azulejo, quer com a talha dourada que com ele tantas vezes "casou" em Portugal. Os painéis das Albertas não são os únicos elementos azulejares existentes no Museu, há ainda os frontais de altar, um grupo de azulejos Isnik doados por Calouste Gulbenkian. É um Museu de visita obrigatória e um belo fim de passeio.