Sai-se pela Rua do Arsenal até à Praça do Município, que tem num dos topos o edifício dos Paços do Concelho - recuperado depois de um incêndio e que é um exemplo de integração da arte do virar do século XIX com a arte dos nossos dias - e de lado o velho Arsenal da Marinhaque testemunhou os combates da Primeira República. Vale a pena visitar ou então pedir para o deixarem espreitar a escadaria nobre e, se possível, as duas escadas que ligam o andar nobre ao 2º andar que são obra de arquitetos e artistas contemporâneos.

Prosseguindo até ao Largo do Corpo Santo entra-se em "território irlandês", já que de um lado temos a igreja dos padres irlandeses e à volta os "irish pubs" que têm vindo a instalar-se ao lado dos tradicionalíssimos bares da zona desde sempre frequentados por uma fauna mista de intelectuais e gente "da vida".

Chegados ao Cais do Sodré - com a estação modernista de Pardal Monteiro de onde partem os comboios para Cascais - abre-se de novo o Tejo e mesmo aí encontramos uns restaurantes de peixe e marisco e o início dos bares e discotecas que ocupam toda a frente ribeirinha até à zona de Belém. (Estes merecem, noutra altura, uma visita só por si, dada a qualidade arquitetónica de alguns dos espaços e a animação diversificadíssima de que pode desfrutar, numa atmosfera mais ligeira do que é habitual nas zonas portuárias de outras cidades europeias).

Do Cais do Sodré vai-se pela Rua dos Remolares até ao Mercado 24 de Julho que merece visita pela beleza do espaço, pelo mercado das flores e pela feira de colecionismo nos 1ºs Sábados à tarde. Ali, a dois passos, no Largo S. Paulo é dos poucos locais de Lisboa onde se encontram samarras e capotes alentejanos com gola de pele.

Prossegue-se pela Travessa do Carvalho para uma visita aos antigos Banhos de São Paulo, estrutura de ferro do virar do século XIX, hoje sede da Ordem dos Arquitetos. Tomamos a Rua S. Paulo até encontrar, à direita, já na Rua da Boavista, a entrada para o Elevador da Bica. Subimos nele, para observar com vagar o movimento de um dos bairros mais típicos de Lisboa - a Bica - e chegamos ao cimo da Calçada do Combro que começamos a descer observando as pequenas lojas que a ladeiam. A dois passos, se nos desviarmos para espreitar a Rua do Século, vamos encontrar um belo espaço com um dos chafarizes das Águas Livres, frente ao Palácio do Marquês de Pombal. Quase a chegar ao fundo da Calçada encontramos à direita a Igreja de Santa Catarina, um dos melhores exemplos de barroco na cidade. Estamos numa zona de grande tradição multicultural.

O bairro do Poço dos Negros foi, nos séculos XVI e XVII, zona de populações vindas de África e voltou hoje a sê-lo, encontrando-se nas ruas e travessas circundantes numerosos locais de boa cachupa cabo-verdiana e de comida indiana e africana. Prosseguindo pela rua Poço dos Negros até ao fim, cruzamo-nos com a Av. D. Carlos I. Aí, mesmo em frente, mais um chafariz. Se, um pouco antes, virarmos à esquerda, pela Travessa dos Pescadores, encontramos no Largo Conde Barão, um dos locais noturnos com mais tradição para quem gosta de música africana - o B’leza. Subindo a Calçada Marquês de Abrantes - que à noite é uma animada zona, frequentada por quem prefere as discotecas menos «queques» - encontra-se à esquerda o Palácio dos Marqueses de Abrantes, hoje residência do Embaixador de França que, para além dos seus magníficos jardins sobre o Tejo, tem uma sala com o teto forrado das mais belas porcelanas chinesas. A Embaixada costuma abrir para visitas no Dia Internacional dos Museus (18 Maio). Esta rua e a rua das Trinas são os limites sul e oeste do bairro da Madragoa onde, quem se adentrar pelas vielas, encontrará uma atmosfera que não esquecerá.