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Roteiros

A ARTE NOVA EM LISBOA (Roteiro 1)

A Arte Nova em Portugal é ainda pouco conhecida e é urgente mostrá-la, no sentido de se conhecer melhor este estilo, e também com o propósito de salvaguardar exemplos que se encontram em risco de se perderem.


Em Lisboa, ponto referencial deste roteiro do Centro Nacional de Cultura, iremos perceber que não basta localizá-la no tempo e catalogá-la como mais uma corrente artística, é necessário revisitá-la, já que contém uma parte importante da história da cidade.

Falar de Arte Nova é hoje, infelizmente, falar do estado arruinado em que se encontram alguns dos exemplos mais expressivos desta arte, é falar do esquecimento da parte de quem tem responsabilidades, e que demora em encontrar um processo para trazer de volta relíquias que o tempo não contemporizou, salvo honrosas exceções.

O propósito deste roteiro é também homenagear arquitetos portugueses e estrangeiros que dotaram a cidade de belos edifícios, sendo nomes como Ventura Terra, Norte Júnior, Adães Bermudes, Korrodi, Marques da Silva, alguns dos expoentes máximos, galardoados inclusive com prémios Valmor (distinção portuguesa para edifícios de valor artístico e arquitetónico).

Propomos um passeio pedestre pelos lugares referidos no roteiro e que descubra exemplos desta arte, que se encontram por vezes omissos à vista mais descuidada.

 

Pontos de Interesse

Animatógrafo do Rossio
Fundado em 8 de Dezembro de 1907, pelos irmãos Ernesto Cardoso Correia e Joaquim Cardoso Correia, que fundaram a firma Correia & Correia, oferecia uma lotação de mais de cem lugares.
A sua fachada é uma das mais características de Lisboa, sendo para a época um dos raros exemplos do estilo “Arte Nova”; os relevos exteriores são executados em madeira esculpida e os azulejos (datados de 1907 e assinados por M. Queriol), que se encontram entre as portas e a bilheteira, são ornamentados com duas figuras femininas, com cabelos entrelaçados e segurando entre as mãos dois caules de plantas, rematadas por lâmpadas.
Embora criado para a exibição cinematográfica, pela sua sala passou também um teatro muito especial – uma companhia de Teatro Infantil. Após algumas épocas teatrais, regressa novamente à exploração cinematográfica, até que, a partir de 1994, passou a exibir espetáculos eróticos (peep show).

Edifício na R. Alexandre Herculano, 57
Prémio Valmor de 1903, a Casa Ventura Terra, na Rua Alexandre Herculano, 57, do qual Miguel Ventura Terra (1866-1916) foi o arquiteto e proprietário.
Edifício com decoração sóbria e vãos esguios com persianas articuladas de recolha lateral, elementos que o distinguiram dos edifícios da altura. Destaque ainda para o friso superior de azulejos pintados no estilo Arte Nova.

Edifício na R. Saraiva de Carvalho / R. Ferreira Borges
O edifício situado no gaveto da Rua Saraiva de Carvalho com a Rua Ferreira Borges, em Campo de Ourique, foi desenhado por Ernesto Korrodi. O conhecido edifício da Pastelaria "A Tentadora" foi concebido em 1912, integrando-se na nova tendência que então se fazia sentir em Lisboa, onde as mais recentes casas de habitação procuravam adaptar-se à vida moderna.
A conceção de arquitetura total de Korrodi está bem presente neste projeto, onde os interiores não foram descurados, estruturando-se em função de um corredor central de distribuição dos espaços, com correspondência entre o interior e o exterior. Das três fachadas destaca-se a de gaveto, sobre a qual se projeta uma bow-window de cantaria, com um painel de azulejos Arte Nova entre as janelas do primeiro e segundo piso. 
A composição de cantaria engloba as janelas que ladeiam a porta principal, em aparelho rusticado, e prolonga-se até ao corpo que se eleva já sobre a linha do telhado. 
Todos os vãos são decorados por elementos florais, que realçam as formas estruturais geométricas, integrando-se no desenho de conjunto. O mesmo acontece relativamente às fachadas laterais, com janelas e portas de molduras profusamente decoradas, tal como as mísulas que suportam a cimalha.
Apesar da depuração, este é uma dos prédios de Korrodi que apresenta maior ornamentação, regendo-se, esta, pela linguagem Arte Nova, naturalista e de linhas curvas, cuja influência se propaga até ao próprio desenho dos vãos, parte dos quais de traçado mais orgânico. 
O painel de azulejos já referido é um bom exemplo da utilização desta nova manifestação artística, tal como um dos painéis envolto por uma moldura claramente Arte Nova, que se encontra junto à entrada para a pastelaria. O mesmo acontece nos gradeamentos das janelas de ferro forjado, suporte que, aliás, expressou de forma particular o gosto Arte Nova no nosso país.

Edifício na R. Silva Carvalho n.º 209/213 
Onde se encontra situada a Panificação de Campo de Ourique.
O seu interior mostra colunas revestidas que sustentam vigas de ferro e azulejos de Rafael Bordalo Pinheiro; como elemento de ligação do edifício com a decoração, o autor escolheu a espiga, matéria-prima alusiva à confeção do pão.
De destacar na fachada o trabalho em ferro.

Garagem Auto Palace 
Na Rua Andrade Corvo n.º 32, é um projeto de Vieillard & Touzet. Merecem especial destaque os vitrais com motivos relacionados com a atividade do edifício, complementados com arranjos florais.
A Garagem Auto-Palace foi considerada uma das 100 Obras de Engenharia mais relevantes do século passado.
É um dos mais imponentes edifícios, vocacionados para automóveis, construídos em Portugal, tendo sido projetada e construída pelos conceituados construtores Vieillard & Touzet que iniciam a sua construção em 1906, terminando a obra em 1907. De resto, em Lisboa e por todo o país, a firma de que era fundador Fernand Touzet, ficou famosa pelas suas construções e projetos como atestam, para citar apenas alguns, a Auto-Palace e a belíssima Central Tejo. 
Esta distinção surgiu no âmbito da publicação pela Ordem dos Engenheiros do livro “100 Obras de Engenharia Civil no século XX” em que a seleção das obras mais relevantes foi feita por especialistas, tendo por base critérios como a originalidade, a introdução de tecnologias inovadores e a contribuição para o desenvolvimento económico-social do país.

Leitaria "A Camponesa"
Situada na Rua dos Sapateiros, é possível identificar elementos desta arte na fachada do estabelecimento. Trata-se de uma construção de autoria do Arq. Domingos Pinto com revestimento em azulejos azuis e brancos, da responsabilidade de Jorge Pinto. 
O painel representa na zona central uma minhota e nas zonas laterais, insetos e papoilas.

Tabacaria Mónaco
Situa-se no Largo D. Pedro IV (Rossio). Possui azulejos da responsabilidade de Rafael Bordalo Pinheiro e pinturas de António Ramalho.

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