Roteiros
Sever do Vouga (Roteiro 1)
Ao longo deste roteiro serão dados a conhecer alguns dos legados culturais e bens naturais da freguesia de Cedrim e Talhadas.
Iniciar-se-á na freguesia de Cedrim mais propriamente no Miradouro do Castelo, elevação montanhosa da qual se vislumbra toda uma paisagem verdejante e repousante do vale do Vouga, bem como o próprio Rio Vouga.
Em seguida sugere-se uma visita à Via Romana, localizada na freguesia de Talhadas.
O Troço da Via Romana que passa no lugar de Ereira, fazia a ligação entre o nó viário de Viseu e a estrada Olisipo/Bracara, ou seja, Lisboa/Braga, pertencente à rede viária romana (séculos II e IV). Esta via entroncava na estrada Olisipo/Bracara na zona de Cabeço do Vouga, passando por Talhadas, Benfeitas, Reigoso, S. Pedro do Sul e Viseu. Este Troço de 230 m de extensão, foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1987. Após a intervenção arqueológica e de limpeza e conservação deste Troço, foi possível identificar duas técnicas de construção então utilizadas pelos romanos: afeiçoamento do afloramento rochoso e pavimento com lajes de pedra. A estrutura de suporte da via nas zonas em que o terreno é acidentado, é em egger, constituída por grandes pedras colocadas em cunha, de forma a suster lateralmente as lages que pavimentam a via, evitando assim o seu desmoronamento. Por esta estrada circulavam exércitos, pessoas, bens e simultaneamente o ideal de vida romano que tão bem os romanos souberam implantar.
Continuando na visita ao património legado pelos nossos antepassados, seguem-se as Antas do Chão Redondo n.º 1 e 2.
A 150 metros da estrada que liga Talhadas à Ereira encontram-se estes monumentos megalíticos, merecedores de uma visita e contemplação. A datação provável destes monumentos será o Neolítico final / Calcolítico (finais do IV milénio, início do III milénio A.C.). Tratam-se de estruturas complexas compostas por espaços bem definidos, espaços mais “públicos” onde periodicamente tinham lugar determinados rituais funerários abertos a toda a comunidade e espaços mais reservados e de acesso condicionado apenas a um reduzido número de indivíduos. São monumentos de índole funerária mas também religiosa, perpetuando os seus antepassados e ao mesmo tempo assumindo-se como locais de culto e de união entre as populações. Ambos os Monumentos estão classificados como Imóveis de Interesse Público.
Na estrada para a sede de freguesia, deparamo-nos na berma desta com dois Monólitos que serão, segundo lenda, a origem do nome da localidade – Talhadas – “(…) o nome veio-lhe do enorme penedo pousado dentro da povoação, que se partiu em dois em consequência do terramoto geral, acontecido quando da morte de Cristo.”
Já no centro da freguesia a Igreja Matriz é local de visita obrigatória, pela arte da Talha dourada que ostenta os seus altares. A construção desta igreja terá sido iniciada em cerca de 1700.
Apresenta quatro magníficos retábulos colaterais e um pujante altar-mor em talha dourada de formas estilisticamente barrocas. Sendo a arte da talha uma das expressões mais relevantes do espírito barroco e uma das expressões artísticas mais significativas do sentir português, compreende-se que esteja presente em todo o território nacional, dispersa por conventos, mosteiros, igrejas, capelas, palácios, e até nos locais mais recônditos de algumas habitações.
De todos os retábulos que compõem a Igreja, destaca-se o seu retábulo-mor, pela excelente concepção e feitura. Este é composto por colunas pseudo-salomónicas de fuste espiralado, onde se encontram conjugados o carácter funcional e simbólico ascensional e de aspiração mística: a coluna, como eixo por excelência do sagrado, assinala a presença de Deus, e a sua forma espiralóide ou salomónica simboliza a ascensão das almas nos caminhos da perfeição e do bem. Estas colunas são rematadas na parte superior por arcos concêntricos. Como temas decorativos predominantes, o retábulo apresenta folhas de videira e cachos de uvas (símbolos eucarísticos), serafins e pássaros (as chamadas fénices que simbolizam a eternidade), enrolamentos de folhas de acanto combinados com serafins e imagens em peanhas.
Quase no fim deste percurso e ainda na freguesia das Talhadas, a Aldeia das Arcas apresenta-se como o nosso próximo destino. Lá podemos visitar a Anta Capela dos Mouros, monumento de grandes proporções, composto de câmara e corredor longo, datado dos finais do IV milénio, início do III milénio A.C.
Atualmente encontra-se em fase de classificação como Monumento de “Interesse Público”.
Para terminar este roteiro, não poderia faltar a visita ao Miradouro de Santa Maria da Serra, do qual se pode ter uma perspetiva abrangente de todo o concelho, bem como da costa lagunar de Aveiro, em dias de perfeita visibilidade.