A filha mais nova do Rei D. Manuel I, D. Maria (1521-1577) "teve tudo para deslumbrar", mas foi "uma mulher bem infeliz", atesta o historiador Paulo Drumond Braga, autor da primeira biografia da infanta.

Nas palavras do autor, a infanta D. Maria, mecenas das artes, letras e de muitos institutos religiosos, "nunca tinha sido objeto de um verdadeiro estudo biográfico", sendo este o primeiro, apesar de múltiplas referências bibliográficas.

A biografia, "D. Maria - uma infanta no Portugal de Quinhentos", de Paulo Drumond Braga, é dada à estampa pelas Edições Colibri em parceria com a Câmara de Torres Vedras.

A filha de D. Manuel I e da sua terceira mulher, Leonor de Habsburgo, nasceu seis meses antes da morte do pai, e foi "uma das mais faladas figuras do nosso século XVI".

Senhora de Torres Vedras e Viseu, dona de "uma vastíssima fortuna" por razões diversas "nem sempre usufruiu de tudo aquilo a que tinha direito", afirma o historiador.

A infanta, a par com outras mulheres do seu tempo, era uma "mulher culta" e exerceu um importante "mecenato literário e artístico", além de obras de beneficência e a fundação de mosteiros e igrejas, como a da Luz, em Lisboa, onde repousam os seus restos mortais,

A beleza de D. Maria foi referenciada por vários autores, como André de Resende, Damião de Góis ou João de Barros, mas alerta Drumond Braga que os autores eram "propensos a adular as figuras reais e detentores de critérios de beleza diversos dos da atualidade", todavia há alguns retratos da infanta, como o óleo de Alonso Sánchez Coello ou o de Anthonis Mor.

Para o investigador, D. Maria desejaria ser uma cabeça coroada e foi prometida a Henrique VIII de Inglaterra, a Filipe II de Espanha e a Fernando I, Sacro Imperador Romano-Germânico, e aos dois filhos de Francisco I de França, mas foi sendo "trocada por alguém mais interessante sob os pontos de vista político e estratégico".

"Frustrada, desiludida, magoada, procurou ser senhora" no país onde nasceu e ter "a sua zona de influência em Lisboa", como outras mulheres da família, mas morreu "sem que tivesse assistido à concretização de todos os [seus] projetos", conclui o investigador.

A obra tem em anexo a listas dos servidores e servidoras da infanta, além de uma vasta bibliografia que apoia as muitas notas de página da biografia da infanta cuja face circulou em Portugal, nas últimas notas de 50 escudos.

por Lusa, texto publicado por Paula Mouratoi, n Diário de Notícias | 12 de dezembro de 2012

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