"Normalmente quando se decide fazer um filme sobre um mundo particular, todas as portas se abrem. Mas no mundo do ballet não foi, de todo, assim. Os bailarinos nunca querem fazer nada que possa interromper a sua rotina", contou o realizador Darren Aronofsky ao New York Times sobre o seu mais recente filme, Cisne Negro, que chega às salas portuguesas amanhã.

Como refere o jornal norte-americano, no ballet, os bailarinos treinam-se durante anos a fio de forma rigorosa, alterando os seus corpos para que, chegados ao palco, façam com que o público acredite que são algo que, na realidade, não são. É essa intensa transformação física que é retratada em Cisne Negro através da personagem Nina Sayers (Natalie Portman), que é escolhida como primeira-bailarina numa adaptação de Lago dos Cisnes, tendo esta como objectivo atingir a perfeição absoluta.

O filme está nomeado para cinco Óscares e a protagonista, Natalie Portman, é uma das favoritas a levar para casa o galardão de Melhor Actriz. Nesta época de entrega de prémios cinematográficos, a actriz já foi distinguida pela sua prestação em Cisne Negro nos Globos de Ouro, pelo Sindicato dos Actores Norte-Americanos, pela Broadcast Film Critics Association e pelas associações de críticos de Nova Iorque, Chicago, Las Vegas, Florida ou Phoenix.

Já Darren Aronofsky, que também está nomeado para o Óscar de Melhor Realizador, tem-se pautado na sua carreira por explorar os extremos do ser humano, através de filmes como A Vida não É Um Sonho (2000) ou O Wrestler (2008), e nesta sua última obra volta a aprofundar esta ideia, através desta história de uma bailarina, Nina Sayers, que tem de vestir um duplo papel, de cisne branco e de cisne negro. No entanto, à medida que a pressão aumenta, a sanidade física e mental da bailarina começa a decair, em constantes alucinações fantasiosas e através de uma atitude de intenso desespero.

O argumento de Cisne Negro foi escrito por Mark Heyman, Andrés Heinz e John McLaughlin, e nele podemos ler também a história de uma busca incessante pela perfeição artística. Daí que ao longo do filme vejamos a personagem a que Natalie Portman dá vida sacrificar o próprio corpo para a concretização desse objectivo.

O New York Times definiu Cisne Negro como uma produção "visceral e real, ao mesmo tempo que consegue ser uma loucura fantasmagórica e delirante". Não é por isso de admirar que o filme já tenha gerado controvérsia e suscitado duras críticas por parte de profissionais de ballet, ao dar uma imagem tão crua dos intensos esforços físicos e psicológicos de uma bailarina que se vê no centro de uma importante companhia de bailado.

Texto: João Moço
in Diário de Notícias | 02 de Fevereiro de 2011

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