Cultura
TONY CURTIS, UM ACTOR À BOA MANEIRA ANTIGA
Tony Curtis, um actor à boa maneira antiga
Morreu o intérprete de grandes comédias como 'Quanto Mais Quente, Melhor', que não se acomodou ao que esperavam dele.
Antes de se tornar no intérprete de comédias memoráveis como Quanto Mais Quente, Melhor, de Billy Wilder (1959), ou A Grande Corrida à Volta do Mundo, de Blake Edwards (1965), mas que gostava de mostrar ao público que tinha muito mais raio de alcance dramático do que parecia, em filmes como Mentira Maldita, de Alexander Mackendrick (1957), Spartacus, de Stanley Kubrick (1960), O Estrangulador de Boston, de Richard Fleischer (1968), ou O Último Magnate, de Elia Kazan (1976), Tony Curtis comeu o pão que o diabo amassou.
Curtis, que morreu na quarta-feira aos 85 anos, na sua casa de Las Vegas, nasceu Bernard Schwartz na Bronx, filho de imigrantes húngaros pobres. A mãe era esquizofrénica e espancava-o, e aos dois irmãos. Durante a Grande Depressão, os pais puseram- -no, e ao seu irmão Julius, num orfanato, por não poderem alimentar tantas bocas.
Após terem voltado a casa, e Julius, ao quem estava profundamente ligado, ter morrido atropelado, em 1938, andou metido nos gangs juvenis da Bronx. Entrou depois para o liceu, que deixou para combater na II Guerra Mundial, nos Marines. Acabado o conflito, voltou para Nova Iorque com vontade de ser actor, beneficiando de ser veterano de guerra para ter o curso de representação pago.
Depois de alguns pequenos papéis no teatro, arranjou uma agente, que lhe conseguiu um contrato com a Universal, em 1948, mudando então o nome para Tony Curtis. Em 1951 casou-se com Janet Leigh, mas a sua carreira no cinema só arrancou quando Burt Lancaster lhe deu a mão, primeiro em Trapézio, de Carol Reed (1956), depois no referido Mentira Maldita. Em 1958, ano de Os Vikings, de Richard Fleischer, teve a sua única nomeação aos Óscares, em Os Audaciosos, de Stanley Kramer.
Tony Curtis fartou-se de fazer comédias, que adorava ("É a maneira mais honesta para um actor ganhar a vida, porque as pessoas gostam mais de rir que de chorar", explicou), frequentando em simultâneo outros registos, não recuando ante papéis antipáticos ou negativos, ou que parodiavam a sua faceta de galã (o travesti à força de Quanto Mais Quente, Melhor é o mais óbvio e notável).
Na TV, entrou em séries como Os Persuasores, ao lado de Roger Moore (1971-72). Casado por seis vezes, pai de Jamie Lee Curtis, era conhecido pela sua voracidade sexual ("Só não dormi com cães e elefantes") e por um gosto pronunciado por raparigas novas (de que nunca se penitenciou), e foi viciado em cocaína. Pintava (tem quadros na colecção do MoMA) e escreveu dois livros autobiográficos, resumindo assim a sua vida: "Por um lado fui tremendamente abençoado, pelo outro decididamente amaldiçoado".
Texto: Eurico de Barros
in Diário de Notícias | 01 de Outubro de 2010
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no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias