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Cultura

OS CAMINHOS DE MARIA DE MEDEIROS NA TERRA DO JAZZ

 Os caminhos de Maria de Medeirosna terra do jazz

A viagem por 'Penínsulas e Continentes' chega aos palcos. Lisboa e Gaia recebem a actriz tornada intérprete jazzística.

Enquanto se prepara para a entrevista, bebe um chá, mas as canções que agora canta têm "o aroma do whisky". O sol de fim de tarde num hotel do Guincho com vista para o mar não sugere "o cheiro do charuto, a sensibilidade do cabedal" ou "o universo do (Francis Ford) Coppola", mas são essas as primeiras imagens que a actriz Maria de Medeiros, agora cantora, transmite a propósito do novo álbum, Penínsulas e Continentes.

A apresentação está marcada para esta semana. Quarta-Feira no Cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia seguinte no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, mas muito antes de gravar um disco ou, sequer, de representar, já Maria de Medeiros passava "a adolescência no Hot (Club de Portugal" onde "até entrava pela cercadeira". Foi após o regresso de Viena, onde cresceu "no meio da música clássica" que conheceu "os Beatles e os Rolling Stones". E o jazz, que agora recupera através da interpretação. "O jazz é música nocturna mas, ao mesmo tempo, é a música de todas as aberturas", defende. E por falar em Abril , a política é também uma das soluções para desvender este enigma: "(O jazz) corresponde muito à ideia que tenho de poder. É um poder compartilhado. Historicamente, é uma música de contrapoder intelectual e musical para com apartheids."

Diz-nos a sociologia que todas as disciplinas vitais estão ligadas e quem melhor do que uma actriz que, como na representação, se coloca "ao serviço", para o definir? Porque, no fundo, o objectivo "é agarrar numa música e torná-la nossa". Um processo de apropriação já experimentado no anterior A Little More Blue, em que se debruçou sobre a obra de compositores brasileiros da estirpe de Chico Buarque ou Caetano Veloso. Desta vez, "o que uniu foram as penínsulas e continentes". A diáspora define-se por "um intercâmbio histórico enorme e que continua" mas o papel de actriz nunca é abandonado. "A forma como abordo as canções é muito cinematográfico. É como se fossem pequenas peças ou curtas-metragens. Guio-me muito pelas palavras. É característica de actriz. Inclino-me para as canções em que sinto uma dramaturgia."

Os princípios são os mesmos: "Em toda a arte há uma dimensão consciente e outra inconsciente. Muitas vezes não deixamos que o inconsciente se liberte, o que é uma violência." Há, no entanto, uma grande diferença na abordagem aos dois territórios. "Aos 15 anos comecei como actriz; aos 17 estreei--me no teatro e aos 19 já era realizadora. Na música sou uma novata, o que é estimulante. Do primeiro disco para este há uma grande aprendizagem."

A menos de seis meses de completar 45 anos - as velas sopram-se a 4 de Agosto - Maria de Medeiros continua a sentir "um temor do palco", espaço que considera "sagrado". Do que não tem medo é de chocar os puristas do jazz, mundo " cheio de ayatollahs". Por isso, não se esperem concertos "virtuosos", ainda que "a dimensão da improvisação tenha acrescentado algumas coisas e limpo outras".

Texto: Davide Pinheiro
in Diário de Notícias | 05 de Abril de 2010


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