Uma Peça | Um Museu
Prato de Faiança
O prato de faiança conhecido pelo seu motivo dos Veados, foi fabricado e pintado em Lisboa durante a transição do século XVI para o XVII.
Uma peça do Museu Nacional de Arte Antiga.
Portugal, primeira metade do século XVII
Faiança
A. 7,6 x Ø 38,4 cm
Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa
Museu Nacional de Arte Antiga, Inv. 92 Cer
A investigação desenvolvida ao longo dos últimos anos, possibilitou reunir evidências que permitem avançar com mais certeza no sentido de tentar reconstruir de forma sistemática uma visão de conjunto histórica e artística relativa ao fabrico de produtos cerâmicos, nomeadamente de louça, em Portugal entre os séculos XII e XVII.
Numa análise abrangente, abordaremos parte desse percurso de fabrico e as relações que encontramos com outras artes decorativas, nomeadamente os têxteis.
O prato de faiança conhecido pelo seu motivo dos Veados, foi fabricado e pintado em Lisboa durante a transição do século XVI para o XVII. A figuração deste grande prato de aparato e outros congéneres, é constituída por pássaros, gamos, integrados em paisagens e outras imagens simbólicas que são visivelmente inspiradas nas peças de porcelana chinesas trazidas pelos portugueses da Índia, logo nos alvores da centúria de quinhentos e mais tarde, da China e do Japão.
Começam a surgir nos meados do século XV, através de posturas municipais, normas para a manufatura de louça, desencadeando um longo processo de apuramento técnico e de «boas práticas» de manufatura que, com avanços e retrocessos, culmina com a promulgação do Regimento dos Oleiros de Lisboa, de 1572. Neste documento, aparecem explícitas de uma forma apelativa as louças contrafeitas de feição de porcelana.
Em conformidade com outros centros europeus e ibéricos de produção de cerâmica, a introdução do azul de cobalto na louça de uso corrente iniciou-se em Portugal, por Lisboa, a partir da segunda década do século XVI.
Uma das evidências desse impacto da louça azul e branca, é patente em algumas peças de tipologia cristã decoradas a azul de cobalto sobre branco de estanho, que aparecem representadas nos trabalhos de pintura portuguesa da primeira metade do século XVI. Neste contexto, pode concluir-se que o fabrico da faiança azul e branca era já uma realidade em meados do século.
Neste conjunto, incluem-se desde os pequenos pratos «covos» e os grandes pratos planos que o regimento dos oleiros de Lisboa, em 1572, apela de «galinheiros» (com decorações geométricas retilíneas e curvilíneas e com decoração floral e elementos orientalizantes). Esta louça faz a transição iconográfica perfeita para as produções posteriores.
A visão de continuidade demonstrada permite o entendimento da grande produção portuguesa do século XVII e responde, com base na interpretação de documentação segura, à lacuna de produção sentida a partir dos meados do século XVI.
Parece assim compreensível, dentro de um processo gradual, a evolução artística e técnica da cerâmica medieval e pós-medieval, entre os séculos XII e final do século XVI. Por outro lado, confirma os percursos paralelos de várias produções cerâmicas portuguesas, das quais, algumas chegaram ao presente. Desde a olaria de aldeia, que abastecia as populações rurais e humildes, aos centros de produção secundários que criavam um segmento de oferta das novas modas ditadas pelos centros de produção principais, constituíram um tecido produtivo que, a partir do início do século XVI cobriu praticamente todo o reino de Portugal e que justificará mais tarde, em séculos posteriores, as produções regionais de faiança portuguesa.
Para nós, a história da cerâmica em Portugal é e será, um processo aberto e em discussão e o caminho traçado pela investigação não está isento de dúvidas e de lacunas informativas. O tempo e a continuação da pesquisa, certamente se encarregarão de as preencher.