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Uma Peça | Um Museu

Inro

Pequenas caixas e objetos utilitários de fabrico japonês, usados preferencialmente no Período Edo (1615-1868), são usualmente associados ao transporte de medicamentos.

Uma peça do Museu do Oriente.

Inro
Japão, Período Edo (1615-1868), séculos XVIII ou XIX
Porcelana decorada a azul cobalto sob o vidrado
Depósito do MNMC, 8444

Inro em porcelana japonesa pintada a azul cobalto sob o vidrado, com a representação de paisagem, casa e montanha.

A primeira referência ao Inro nas fontes, remonta ao ano de 1363, quando é descrito como uma espécie de garrafa com vários andares e compartimentos.
A palavra Inroaparece pela primeira vez num dicionário, no Séc. XIV. Nesta altura, era ainda um objeto muito volumoso para ser transportado. Mais tarde, vai também aparecer num dicionário de Japonês-Português, publicado por Padres Jesuítas, no ano de 1603, onde é descrito como uma garrafa contendo “medicamentos e outros”.

Uma vez que era recomendado não aceitar comprimidos de estranhos, todos os viajantes deviam transportar os seus Inro quando viajavam de cidade em cidade. No Inro poderiam guardar medicamentos para fins tão diversos como expetoração, estômago, síncopes, vertigens, pílulas para prolongar a longevidade ou pílulas com perfume para ressuscitar.

Transportado junto à cintura, suspenso no Obi (faixa cingida à cintura), o conjunto era composto pelo Ojime (conta que apertava o conjunto de partes que encaixavam umas nas outras) e o Netsuke, normalmente esculpido em madeira ou marfim e que servia de remate.

Fabricado em diferentes materiais como marfim, osso, metal esmaltado, porcelana, madeira e couro muito fino, posteriormente lacado, o Inro serviu inicialmente, quando de maiores dimensões, para o transporte de tabaco, cachimbos, pincéis, tinta, selos e dinheiro. Podendo apresentar decoração complementada com madre-pérola, prata, ouro, folha de ouro ou esmaltes, eram na sua maioria pintados com cenas da vida do quotidiano, da fauna, da flora, cenas de batalhas, jogos, cenas mitológicas etc., retiradas de livros com estampas, que circularam pelo Japão e um pouco por toda a Ásia, ao longo do séc. XVIII e XIX.

Uma vez que o vestuário japonês não possuía bolsos, o grande crescimento na produção de Inro deveu-se sobretudo ao transporte deste objetos, mas também à necessidade de alimentar o gosto de colecionadores destas pequenas obras de arte.

Os Inro expostos no Museu do Oriente são parte de uma coleção que pertenceu a Manuel Teixeira Gomes, Presidente da República Portuguesa de 1923 a 1925, e que posteriormente foram doados pelo próprio ao Museu Nacional Machado de Castro.

Joana Belard da Fonseca  

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