Património Material
Mercado Municipal de Vila Franca de Xira
Foi entre 2000 e 2006 que decorreu o processo de recuperação do património azulejar do Mercado Municipal de Vila Franca de Xira, com o objetivo de restabelecer física e quimicamente os materiais e devolver a integridade estética ao conjunto.
O edifício do Mercado Municipal de Vila Franca de Xira foi inaugurado em Abril de 1929 e desde então representa um marco da vida económica e social deste município, bem como uma referência artística para a região, pela sua arquitectura e pelos painéis de azulejos que o revestem. A encomenda destes painéis por parte da Câmara Municipal à Fábrica de Louças de Sacavém ocorreu entre 1929 e 1933.
A azulejaria de exterior desempenha aqui um papel importantíssimo, funcionando como símbolo da região, pela recriação que fazem dos cenários e motivos etnográficos. A cada um dos quatro torreões que marcam os acessos principais ao interior do Mercado foi destinada a representação das estações do ano e de todo o ciclo agrícola. É visível ainda o apelo às tradições locais, como algumas figuras paradigmáticas da cultura como o campino, a varina e o varino. O programa decorativo inclui ainda um vasto conjunto de azulejaria seriada com motivos vegetais e figuração animal, que intercalam com os figurativos.
A intervenção nos painéis azulejares do Mercado Municipal foi iniciada em 2000 com a inventariação de todos os azulejos (que incluiu o seu registo fotográfico e gráfico), seguindo-se o levantamento das patologias e os estudos científicos para posterior definição da proposta de tratamento (em colaboração com o Instituto de Oceanografia e o Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro de Coimbra), sendo que os respetivos tratamentos de conservação e restauro foram iniciados em 2005 e concluídos durante 2006.
Para esta intervenção, a Câmara Municipal estabeleceu em 2004 um protocolo com o Instituto Politécnico de Tomar, por oferecer condições de laboratório e técnicos especializados na área, que garantiam a execução dos tratamentos conforme o definido.
Os técnicos especializados procederam ao levantamento integral dos 15 060 azulejos, os quais foram devidamente marcados, embalados e transportados para as instalações do Instituto Politécnico de Tomar, onde foram efectuados os tratamentos de imersão, dessalinização, colagem de fragmentos, fixações de vidrado, consolidações e execução de réplicas (pela Fábrica de Cerâmica Aleluia), seguindo-se os trabalhos de assentamento dos azulejos nas fachadas e a execução dos acabamentos (com a aplicação de massas de preenchimento e reintegração cromática com tons semelhantes aos originais). Foram ainda recuperados alguns motivos figurativos de painéis que se haviam perdido através da execução de réplicas, após a realização de um estudo nos arquivos fotográficos e documentais do município.
Justificou-se o levantamento integral dos azulejos para que fosse garantida a eficácia do tratamento de erradicação das algas, que contaminavam os azulejos, e a substituição das argamassas com fraca adesão ao suporte.
A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira foi, assim, promotora de um processo de investigação e estudo, tendo sempre presente ao longo de todo o processo a relação existente entre a comunidade local e este bem patrimonial.
Com esta intervenção, fundamentada cientificamente, inovadora e eticamente enquadrada, devolveu-se à cidade um dos seus bens patrimoniais mais emblemáticos.