Festivais, Festas e Feiras
Festival Queer Lisboa apresenta 19.ª edição
O Queer Lisboa - Festival Internacional de Cinema Queer realiza-se de 18 a 26 de setembro no Cinema São Jorge

18 Set a 26 Set 2015
7 Out a 10 Out 2015
Os mais recentes filmes de dois nomes maiores do cinema contemporâneo, Karim Aïnouz e Peter Greenaway, com Praia do Futuro e Eiseinstein in Guanajuato, respetivamente, ambos em estreia nacional; a passagem do Queer Art a secção competitiva; a realização de workshops por Marc Siegel e Gustavo Vinagre; o resgate de figuras que fazem a História Queer como Sergei Eisenstein, Elizabeth Bishop ou Bob Mizer; e uma competição oficial com uma ambiciosa seleção dos filmes queer mais relevantes de 2014 e 2015, onde estão presentes os diferentes olhares deste cinema sobre a crise na Grécia, o estigma do VIH/Sida, a Guerra da Independência da Argélia ou os problemas dos jovens LGBT são alguns dos destaques do Queer Lisboa 19 – Festival Internacional de Cinema Queer.
Este ano o cinema queer brasileiro volta a estar em destaque, com a exibição de oito filmes deste país, e com a presença em Lisboa de Filipe Matzembacher, Marcio Reolon e Tavinho Teixeira. O festival conta com um total de 76 filmes, provenientes de 34 países.
À beira de assinalar os 20 anos de existência, o Queer Lisboa, aquele que é o mais antigo festival de cinema da capital, volta a ser um reflexo do lugar que o Cinema Queer ocupa hoje na indústria do cinema e na sociedade. Daí que seja transversal à programação desta 19.ª edição “um olhar queer ao mundo exterior”, como refere João Ferreira, diretor artístico do festival. Este cinema passa assim “a tomar como suas questões como a crise financeira e económica, as migrações, o terrorismo, a xenofobia, a falência dos regimes democráticos, os problemas ambientais, a fome, entre inúmeros outros desafios que o mundo enfrenta neste novo século”, salienta o mesmo responsável.
Dos 34 países presentes no festival, Alemanha e França são os mais representados, com 12 filmes cada um. Portugal conta com um total de oito filmes programados. Este ano o Queer Lisboa manteve o apoio do Programa MEDIA, da Comunidade Europeia, um importante impulso para a promoção do cinema europeu no Festival, sendo o Queer Lisboa o único Festival Queer europeu contemplado com este apoio. O Queer Lisboa 19 é financiado pela Câmara Municipal de Lisboa / EGEAC, pelo ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, pelo Programa MEDIA, e um conjunto de apoios privados. Além do Queer Lisboa, em 2015 a Associação Cultural Janela Indiscreta realizará também, de 7 a 10 de outubro, a primeira edição do Queer Porto – Festival Internacional de Cinema Queer. Ambos os festivais têm um custo global de 170 mil euros, com um financiamento direto garantido no valor de 150 mil euros e indireto de 20 mil euros.
O Brasil é um dos países com maior destaque no Queer Lisboa 19, tendo sido escolhido para a Sessão de Abertura o filme Praia do Futuro (Brasil, Alemanha), realizado por Karim Aïnouz. Nome maior do Cinema Queer atual, o cineasta brasileiro estará presente em Lisboa para apresentar o seu filme. Praia do Futuro é protagonizado pelo célebre ator Wagner Moura, que interpreta um nadador salvador de Fortaleza que deixa para trás a mãe e o irmão menor, Ayrton, interpretado por Jesuíta Barbosa, encontrando em Berlim uma nova vida. O filme foi selecionado para a edição de 2014 da Berlinale. No mesmo fesitval, mas já em 2015, também foi exibido Beira-Mar (Brasil), longa-metragem da dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, que integra a Competição de Longas-Metragens. Os dois realizadores também estarão no festival a apresentar este filme sobre os conflitos da juventude e da sexualidade.
Também do Brasil estará presente Gustavo Vinagre, que vai discutir os limites da representação do sexo explícito no workshop “Ver ou não ver, eis a questão”, além de apresentar o filme Nova Dubai (Brasil), onde o sexo é utilizado como arma política contra a especulação imobiliária. O filme faz parte da secção Queer Art, que este ano passa a ser competitiva, da qual faz ainda parte a longa-metragem Batguano (Brasil), do também brasileiro Tavinho Teixeira.
A crise na Grécia, as suas implicações na sociedade grega, mas também o posto cultural que este país mediterrânico ocupa, como lugar de fronteira entre o oriente e o ocidente, são questões que o filme 7 Kinds of Wrath (Grécia), de Christos Voupouras, também procura abordar. Este é um dos dez títulos da Competição de Longas-Metragens. Além do já referido Beira-Mar, fazem ainda parte desta competição os títulos Lilting (Reino Unido), de Hong Khaou, distinguido no Festival de Cinema de Sundance, história de uma mãe sino-cambojana e de um homem inglês unidos pela dor da perda do mesmo homem, mesmo que não falem a mesma língua; Das Zimmermädchen Lynn (Alemanha), de Ingo Haeb, centrado numa zelosa emprega de hotel e numa prostituta; Amor Eterno (Espanha), de Marçal Forés, no qual o realizador catalão volta a reinventar o filme de adolescentes, tendo sido distinguido no Sitges – Festival Internacional de Cinema da Catalunha; Je Suis À Toi (Bélgica, Canadá), de David Lambert, história de um jovem argentino que para sair do seu país conquista, através da Internet, um padeiro belga gay que lhe paga o bilhete de avião; Limbo (Dinamarca, Alemanha), primeira longa-metragem de Anna Sofie Hartmann, sobre a paixão não correspondida de uma aluna pela sua professora; Black Stone (Coreia do Sul, França), última parte de uma trilogia realizada por Gyeong-Tae Roh sobre a poluição ambiental, elevando esta temática a um patamar metafísico, ao cruzá-la com questões ligadas ao VIH/Sida, à imigração e ao nacionalismo; A Escondidas (Espanha), de Mikel Rueda, onde o racismo se cruza com a sexualidade na adolescência; e La Visita (Chile, Argentina), uma história corajosa sobre transsexualidade realizada por Mauricio López Fernández. Os realizadores Hong Khaou e Mikel Rueda estarão presentes em Lisboa para apresentarem os seus filmes.
Para a Competição de Documentários, Call Me Marianna (Polónia), de Karolina Bielawska, é um dos títulos selecionados, numa exibição que contará também com a presença da realizadora. Já Vincent Leclercq, uma das figuras centrais de Vivant! (França), documentário de Vincent Boujon, que mostra como ainda hoje persiste o estigma do VIH/Sida, estará presente no festival. Após a sessão Leclercq estará presente num debate com Ricardo Fuertes, do GAT – Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA. Os realizadores Joaquim Pinto e Nuno Leonel também estarão presentes na sessão. A competição integra ainda El Hombre Nuevo (Chile, Uruguai), de Aldo Garay, e que este ano recebeu o Teddy Award, na Berlinale, para Melhor Documentário. A Guerra da Independência da Argélia é o pano de fundo do documentário La Nuit S’achève (França, Argélia), de Cyril Leuthy, onde um filho cineasta e o seu namorado acompanham um homem francês que revive a rota do seu exílio. O realizador vem até Lisboa apresentar o filme. Welcome To This House (EUA), documentário da veterana Barbara Hammer sobre as casas e os amores da poeta Elizabeth Bishop, estará também em competição, ao lado de Oriented (Reino Unido, Israel), de Jake Witzenfeld, que segue a vida de três amigos palestinianos que exploram a sua identidade nacional e sexual em Telavive durante o conflito israelo-palestiniano de 2014, de Misfits, realizado por Jannik Splidsboel, sobre como um grupo de amigos vive a sua identidade numa sociedade extremamente religiosa, ou de Alex & Ali (Turquia, EUA), de Malachi Leopold, sobre dois homens que foram separados após a revolução islâmica. Destaque ainda para The Battle of the Sexes (Reino Unido), de James Erskine e Zara Hayes, sobre a mítica partida de ténis entre Billie Jean King e Bobby Riggs, que ficou na história do feminismo, e The Cult of JT LeRoy (EUA), documentário de Marjorie Sturm sobre o embuste literário que foi JT LeRoy.
Uma das grandes novidades do Queer Lisboa 19 está ligada à secção Queer Art, que este ano passa a competição, numa parceria com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, patrocinadora do prémio monetário no valor de 1.000€, atribuído ao realizador do melhor filme. Além dos já referidos títulos de Gustavo Vinagre e Tavinho Teixeira, destaque ainda para o filme francês Pauline S’arrache (França), de Émilie Brisavoine, um divertido e surpreendente olhar à própria família da realizadora, que foi um dos filmes sensação deste ano da Secção ACID (Associação do Cinema Independente para a sua Difusão), que decorre em paralelo durante o Festival de Cannes. Em Lisboa para apresentar os seus filmes estarão ainda Gemma Ferraté, realizadora de Tots Els Camins De Déu (Espanha), e Lior Shamriz, de Cancelled Faces (Alemanha, Coreia do Sul), dois dos títulos desta competição. O vencedor do Tiger Award do Festival Internacional de Cinema de Roterdão, Videofilia (Y Otros Síndromes Virales) (Perú), de Juan Daniel F. Molero, também integra a competição Queer Art.
Fora da competição será ainda exibido, no âmbito da secção Queer Art, o desafiante documentário No Place for Fools (Rússia), de Oleg Mavromatti, um solitário homossexual russo que é também um convertido Cristão-Ortodoxo e ativista pró-Putin, refletindo assim os confrontos ideológicos na Rússia dos nossos dias.
A atriz Lia Gama, o diretor do IndieLisboa Nuno Sena e o produtor e diretor executivo do Euroimages Roberto Olla (na competição de longas-metragens); a jornalista Charlotte Lipinska, o diretor do Temp d’Images António Câmara Manuel (na competição de documentários) e o realizador da RTP Camilo Azevedo (na competição de documentários); a programadora do festival turco Pink Life QueerFest Bilge Tas, o jornalista Jean-Sébastien Chauvin e a atriz Mariana Gaivão (na competição de curtas-metragens); o produtor Pedro Fernandes Duarte, o realizador Diogo Costa Amarante e a atriz Cláudia Jardim (na competição de filmes de escola europeus); e o programador da Berlinale Marc Siegel, o artista e curador Justin Jaeckle e a realizadora Susana de Sousa Dias (na competição Queer Art), compõem o júri da presente edição.
Como já é apanágio do Queer Lisboa, também este ano o cinema será colocado em diálogo com outras expressões artísticas. Daí que durante o festival estejam presentes no Cinema São Jorge duas vídeo-instalações, ligadas a essa figura da História Queer que foi Bob Mizer. Fotógrafo e cineasta norte-americano, Bob Mizer foi o fundador da Athletic Models Guild, em 1945, que se dedicava à produção e distribuição de material fotográfico, mas também de curtas-metragens, centradas na nudez masculina, desafiando assim o preconceito nos EUA. Em 1947 a sua carreira foi catapultada para a fama quando foi condenado por distribuição de material obsceno através dos correios norte-americanos. A sua obra influenciou artistas como Robert Mapplethorpe ou David Hockney e já esteve exposta no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles.
De salientar ainda que, além do já referido workshop de Gustavo Vinagre, o Queer Lisboa 19 contará ainda com um outro workshop, por Marc Siegel, programador na Berlinale. Em “How Do I Look (Now)?” Siegel vem-nos falar da nova tendência do Cinema Queer em olhar para fora da sua realidade específica.
A música volta com a secção Queer Pop, que nesta edição assinalará os 25 anos do lançamento da compilação Red Hot + Blue, da Red Hot Organization, que tem levado a cabo campanhas de recolha de fundos e de mensagens de informação na luta contra a sida, recordando ainda outros discos desta organização, um deles dedicado a Lisboa, mas também celebrará a artista islandesa Björk, através de um olhar antológico sobre a sua obra através de dois conjuntos de telediscos.
Já a secção Hard Nights terá em destaque este ano dois cineastas: António da Silva, premiado realizador português, a viver em Londres desde 2005, de quem serão exibidos os seus três últimos filmes – Spunk (Portugal, Reino Unido), Doggers (Portugal, Reino Unido) e Limanakia (Grécia, Reino Unido) – e Goodyn Green, fotógrafa e cineasta porno queer dinamarquesa que vive e trabalha em Berlim, de quem vão passar dois filmes – Shutter (Alemanha) e Want Some Oranges (Alemanha).
Este ano a secção Queer Focus volta às salas do Cinema São Jorge com um programa que procura questionar as relações de poder que se estabelecem através do sexo. Da secção fazem parte títulos como Kopfkino (Noruega), de Lene Berg, que nos apresenta oito mulheres que trabalham no ramo S&M a partilharem episódios passados com os seus clientes; Sexy Money (Holanda), documentário musical de Karin Junger que acompanha as histórias de várias mulheres nigerianas que optam pelo mercado da prostituição na Europa em busca de melhores formas de subsistência; Die Menschenliebe (Alemanha), de Maximilian Haslberger, que nos dá a conhecer alguns dos obstáculos e dificuldades atravessadas por pessoas portadoras de deficiência na demanda pela autodeterminação sexual; Baby, I will make you sweat (Alemanha), no qual Birgit Hein partilha as memórias das suas viagens até à Jamaica, onde encontra um novo vigor para a sua vida na relação que estabelece com um prostituto jamaicano; e Love Hotel (Reino Unido, França), de Phil Cox e Hikaru Toda, sobre um dos espaços mais restritos e anónimos da sociedade japonesa. Giovanna Stopponi, produtora de Love Hotel, estará no festival a apresentar o documentário, juntamente com Birgit Hein.
O Queer Lisboa 19 terminará com a estreia nacional de Eisenstein in Guanajuato (Holanda, México, Finlândia, Bélgica), o mais recente filme do cineasta britânico Peter Greenaway, um biopic do visionário realizador russo Sergei Eisenstein e da sua misteriosa passagem pelo México.
Durante o festival vão ainda realizar-se diversas festas. As festas de Abertura e de Encerramento terão lugar no clube Fontória Blues Caffe & Dinner. Já a SaunApolo 56 receberá uma noite de leitura encenada de A Máquina-Hamlet, de Heiner Müller. No 49 ZDB os membros da equipa do Queer Lisboa vão servir de DJ, enquanto no Teatro do Bairro a plataforma Rabbit Hole vai apresentar a festa A$$ET Value.