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25 ANOS DE MADREDEUS EM "ANTOLOGIA"
A EMI Music Portugal orgulha-se de apresentar Antologia, uma renovada visita ao repertório dos Madredeus publicado entre 1987 e 2005 que propõe uma outra visão da obra e da carreira desta seminal banda lisboeta.
A EMI Music Portugal orgulha-se de apresentar Antologia, uma renovada visita ao repertório dos Madredeus publicado entre 1987 e 2005 que propõe uma outra visão da obra e da carreira desta seminal banda lisboeta que há 25 anos revolucionou o panorama artístico nacional com o seu álbum de estreia, «Os Dias da Madredeus», e que a partir do início da década de 1990 conquistou uma singular e notável notoriedade internacional com digressões regulares por todos os cinco continentes.
Apresentada em duas versões distintas – CD único com 18 canções ou CD duplo com 30 canções – a compilação Antologia recapitula os momentos essenciais dos Madredeus com a cantora Teresa Salgueiro ao longo dos álbuns «Os Dias da Madredeus» (1987), «Existir» (1990), «O Espírito da Paz» (1994), «Ainda» (1994, banda sonora do filme Lisbon Story, de Wim Wenders), «O Paraíso» (1997), «Movimento» (2001), «Um Amor Infinito» (2004) e «Faluas do Tejo» (2005). Ambas as versões incluem ainda o tema «As Brumas do Futuro», composto para a banda sonora do filme «Capitães de abril», de Maria de Medeiros (2000), com letra de Pedro Ayres Magalhães e música de António Victorino D’Almeida.
O facto de o material não estar organizado por ordem cronológica permite que tanto os admiradores confessos como os que só agora entrem em contacto com a obra do grupo descubram inesperadas afinidades poéticas e musicais entre canções que por vezes distam vários anos no tempo. Em geral, encontrar-se-ão aqui os quatro principais vetores temáticos dos Madredeus: temas de inspiração campestre e pastoril, temas de inspiração urbana, temas de inspiração marítima, e aquelas a que poderia chamar-se canções da distância. Sob tudo isto, a persistente imagem da cidade de Lisboa.
Ambas as edições contêm um texto de Miguel Esteves Cardoso, intitulado «Amanhã Será Há Muito Tempo».
Sobre os Madredeus
A história do grupo português mais internacional, com cinco digressões mundiais, centenas de concertos em todos os continentes e 4 milhões de discos vendidos em todo o mundo – que elevou a música portuguesa a um patamar nunca antes alcançado – remonta a meados da década de 1980.
Criado em 1986 como oficina/laboratório de música cantada em português e tocada com instrumentos acústicos, o grupo Madredeus adotou o nome do seu primeiro local de ensaios – as instalações do Teatro Ibérico, no antigo Convento da Madredeus, na zona oriental de Lisboa – e constituiu-se inicialmente como um quarteto que incluía Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica), Rodrigo Leão (teclados), Gabriel Gomes (acordeão) e Francisco Ribeiro (violoncelo). Ao fim de poucos meses conheceram, e recrutaram para o projeto, a jovem cantora Teresa Salgueiro. A evolução da execução instrumental, e a criação de um repertório próprio – ao longo de sucessivos ensaios abertos a amigos e conhecidos – conduziu, um ano mais tarde, à publicação do primeiro álbum do grupo, «Os Dias da Madredeus», gravado no próprio local de ensaio, a antiga capela do convento, dotada de uma acústica muito característica.
À publicação do primeiro álbum pela EMI – um inesperado e retumbante sucesso junto do público nacional, que rapidamente esgotou a primeira edição, um duplo álbum em vinil – sucedeu-se a apresentação pública desse repertório criado numa «escola de composição livre». Também aí os Madredeus foram inovadores, optando inicialmente pela montagem dos seus concertos em locais históricos até então desaproveitados para qualquer tipo de manifestações culturais. Cada concerto funcionava assim como um convite (ou um pretexto) a que as audiências nacionais reencontrassem o seu passado comum, em recitais onde a língua portuguesa era entoada de um modo que se afastava simultaneamente da expressão tradicionalmente praticada no fado (a canção popular de Lisboa) e nos grupos rock de grande notoriedade a que então pertenciam Pedro Ayres Magalhães (os Heróis do Mar), Rodrigo Leão e Gabriel Gomes (os Sétima Legião).
Os primeiros concertos dos Madredeus no estrangeiro ocorreram em dezembro de 1988, em Bolonha, durante a Bienal dos Jovens Criadores da Europa Mediterrânica. No ano seguinte efetuaram mais alguns episódicos concertos internacionais – como em Pyongyang, Coreia do Norte – e essas primeiras experiências de apresentação do repertório perante culturas diferentes, se por um lado vieram confirmar a originalidade do projeto artístico, contribuíram também para aperfeiçoar a dramatização do desempenho em palco; o qual, com o tempo, viria a transformar-se numa encenação da ideia de Saudade, representada pela figura da cantora como uma mulher que espera (e que canta a sua espera) entre os músicos que a acompanham, enquanto anseia pelo futuro. Essa estratégia artística viria a ganhar maior nitidez após a publicação do segundo álbum, «Existir» (1990), que motivou a primeira grande digressão nacional e as primeiras incursões europeias do grupo na Bélgica e Benelux, sobretudo após os seus espetáculos no festival Europália 1991, em Bruxelas; a posterior edição internacional desse trabalho possibilitou-lhes então as digressões iniciais em França e Espanha, e sobretudo as primeiras apresentações no Japão. No Natal de 1992 é publicado em Portugal o duplo álbum ao vivo intitulado «Lisboa», que regista o grande concerto do Coliseu dos Recreios. No ano seguinte, o guitarrista José Peixoto é convidado a juntar-se ao grupo, que se transforma assim num sexteto.
O dramatismo cénico, musical e poético dos Madredeus viria porém a conhecer o seu primeiro apogeu com «O Espírito da Paz» (1994), uma obra marcada pelas sucessivas viagens do grupo num ambiente internacional toldado pela primeira Guerra do Golfo. Gravado em Londres em março desse ano - durante as mesmas sessões em que é igualmente registado o álbum «Ainda» (banda sonora para Lisbon Sory, de Wim Wenders), lançado posteriormente - «O Espírito da Paz» é publicado no final da primavera e apresentado em primeira mão à imprensa belga, em Bruxelas. Nesse verão, após a participação do grupo na rodagem do filme de Wenders e os primeiros concertos de apresentação do disco, Rodrigo Leão comunica a sua decisão de abandonar os Madredeus para se dedicar a uma carreira a solo, e é substituído por Carlos Maria Trindade, antigo companheiro de Pedro Ayres Magalhães nos Heróis do Mar. Em dezembro, após incessantes viagens (e após terem sido saudados pelo Imperador durante a sua última visita ao Japão), os Madredeus esgotam o Grande Auditório do CCB ao longo de sete dias consecutivos – no último dos quais começam finalmente a desvendar os temas do álbum «Ainda». Na semana de Natal, todos os álbuns do grupo estão no Top-20 da AFP, o que constitui um feito inédito na história da discografia nacional.
Em 1996, após se consumar a saída de Gabriel Gomes e Francisco Ribeiro, os Madredeus voltam a ser um quinteto com a entrada de Fernando Júdice (baixo acústico), e a nova formação apresenta-se à imprensa no final de junho, durante uns ensaios abertos nas imediações da praia da Costa da Caparica. Em agosto recolhem-se nos estúdios de Zorban di Mogliano, perto de Veneza, para as sessões de gravação de «O Paraíso», álbum que será publicado no ano seguinte. E em 1998 é lançado o álbum «O Porto», registo ao vivo dos concertos efetuados no Coliseu desta cidade e 3 e 4 de abril desse ano.
É ainda em 1998 que o grupo começa a preparar temas para o próximo álbum de originais, num processo que afinal se prolongará pelos dois anos seguintes, sempre entrecortado pelas incessantes digressões internacionais. «Movimento» só virá a ser publicado em 9 de abril de 2001, num ano que assinala sobretudo o regresso dos Madredeus ao convívio com o seu país natal. No ano seguinte é lançado o álbum «Eletrónico», com treze remisturas dos clássicos dos Madredeus feitas por nomes como Craig Armstrong, Alpha, Ralph Myerz e outros, enquanto o grupo torna a viajar pelo mundo com o seu novo concerto, processo que somente culminará no final de 2003.
As sessões de gravação nos estúdios Shangri-La, em Lisboa, durante o mês de fevereiro de 2004, assinalam um refinamento dos arranjos instrumentais do grupo, que convoca referências mais alargadas da música, colhidas de diferentes épocas e em diferentes continentes. No início do verão desse ano, preenchido por concertos exclusivamente em território nacional, é publicado «Um Amor Infinito» - cujo repertório de novas canções é desde logo apresentado vivo. Uma vez mais, só nas últimas atuações, já em dezembro, são revelados diversos outros inéditos registados durante as sessões no Shangri-La – e que serão publicados em fevereiro seguinte, sob o título «Faluas do Tejo».
Os Madredeus continuaram a atuar com Teresa Salgueiro e esta formação até 2007, ano que assinala a saída da cantora, do guitarrista José Peixoto e do baixista Fernando Júdice. Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade prosseguiriam posteriormente as aventuras do grupo com outros companheiros, outros naipes de instrumentos e outros formatos musicais, numa carreira que mantêm até hoje.
Antologia dos Madredeus 2012
Miguel Esteves Cardoso
A música dos Madredeus não é como qualquer outra. É a música do que nos vai acontecer, como se já tivesse acontecido.
Os Madredeus vivem um momento alto da vida deles. Enquanto escrevo, estão a esgotar salões de concerto numa digressão mundial, com a cantora que há tantos anos procuravam e que encontraram em Beatriz Nunes.
No relançamento dos Madredeus com a voz abençoada da Beatriz, ouvindo as novas canções e gravações e assistindo aos espetáculos, sinto a mesma excitação nervosa, a mesma exaltante curiosidade, que senti quando os Madredeus começaram, há 25 anos atrás, com Teresa Salgueiro como cantora. Aonde nos levarão os Madredeus desta vez?
Eis agora os caminhos por que nos levaram, celebrados, reabertos. Esta antologia é a primeira em que a escolha incide sobre todos os álbuns em que cantou Teresa Salgueiro e tem necessariamente uma riqueza musical que é arrebatadora. Convém fazer uma pausa entre certas canções que merecem ser seguidas pelo silêncio, tal é a impressão que deixam.
Não é possível reavaliar estas canções. Elas dão-nos ouvidos novos. Não sei como é que elas não se deixam arrumar na memória, que qualidade têm de resistir à passagem do tempo, acompanhando o tempo ainda mais depressa do que avança.
Há físicos e filósofos que nos dizem que o tempo não existe, que o tempo é uma maneira nossa de olhar para as coisas. Se calhar são estas canções - e é esta música, que fazem estes músicos, com esta cantora - que estão tão cheias de tempo que não se deixam ficar em qualquer passado. Nem mesmo no melhor de todos: no da saudade, de uma memória intacta, de um momento verdadeiro de amor e de felicidade.
Já quando saíram pela primeira vez soavam como se fossem doutro tempo que não aquele. Parece ficção científica fazer música para o futuro, música para durar muitos anos, música que, anos depois, pareça nova numa antologia.
Não estamos habituados a lidar com a eternidade. A resposta humana é ficarmos enlevados. A música dos Madredeus partilha connosco esse enlevo: está, ela própria, enlevada. Às vezes, até, mistificada.
Nos espetáculos acontecia, muitas vezes, uma ascenção coletiva de almas que, longe de ser religiosa ou até comunitária, mais se parecia com um grande suspiro de alívio, repetido em cada peito. Podia ser por beleza. Podia ser por candura. Podia ser por melancolia. Podia ser por identificação. Mas que havia qualquer coisa estranha, havia. E lá que acontecia muitas vezes - o mais das vezes nos mesmos concertos - acontecia.
2012 é uma boa altura para ouvir esta primeira parte da obra dos Madredeus, levantada pela voz da Teresa. Passamos por tempos concretos, de tristezas materiais e estas canções deixam-nos fugir do presente, abraçando-o nos momentos de escutá-las.
Tanto se escreveu e disse sobre as canções e as letras dos Madredeus. Foi isso o que se esqueceu. As canções livraram-se disso tudo. Ei-las, limpas, à espera de serem ouvidas.
De repente, notam-se, por exemplo, incidentes de fino humor, coisas que nos fazem sorrir, dizer que sim, tem razão, é mesmo assim. Há insubordinações e violências líricas; ajustes de contas, atos de heroísmo, descrições do degredo, a mais irónica das solidões.
Saltam à vista os pormenores da nossa paisagem e as generalidades da nossa condição. Têm graça as mulheres e os homens. Graça de encantar e graça de rir. Têm graça Portugal e os portugueses. Têm graça o amor e a amizade.
Neste mundo que é o mundo dos Madredeus que, graças aos Madredeus, também é nosso.
Alinhamento Edição 1 CD:
1. Haja O Que Houver
2. Oxalá
3. Vem
4. O Pastor
5. Guitarra
6. A Vaca de Fogo
7. A Andorinha Da Primavera
8. Coisas Pequenas
9. Faluas Do Tejo
10. As Ilhas Dos Açores
11. As Brumas do Futuro
12. Ecos Na Catedral
13. Ao Longe O Mar
14. Moro em Lisboa
15. Céu Da Mouraria
16. O Labirinto Parado
17. O Mar
18. Alfama
Alinhamento Edição 2CD:
CD 1
1. Ao Longe O Mar
2. O Pastor
3. O Pomar das Laranjeiras
4. Haja O Que Houver
5. Oxalá
6. As Ilhas Dos Açores
7. Lisboa, Rainha Do Mar
8. O Tejo
9. A Andorinha Da Primavera
10. Alfama
11. Pregão
12. A Vaca de Fogo
13. Não Muito Distante
14. As Brumas do Futuro
15. Ainda
CD 2
1. À Margem
2. Vem
3. O Mar
4. Coisas Pequenas
5. O Sonho
6. Ecos Na Catedral
7. Anseio (Fuga Apressada)
8. Ajuda
9. Céu Da Mouraria
10. Guitarra
11. Os Senhores da Guerra
12. O Labirinto Parado
13. Moro em Lisboa
14. Viagens Interditas
15. Faluas Do Tejo