"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Patrimónios Contestados

Património é sinónimo de posse e ambos são uma convenção, histórica e social. Por maioria de razão, património cultural é também resultado de um entendimento, de um pacto de reconhecimento coletivo de valores culturais num determinado bem.


Qualquer alteração na leitura desses valores implica, assim, a renegociação desse reconhecimento. Tal processo torna-se mais complexo quando decorre da entrada de novos grupos no coletivo de reconhecimento, pois conduz à atribuição de novos valores, significando, por vezes, a contestação dos anteriores.

Meio século depois da conclusão das descolonizações políticas, multiplicam-se argumentos a favor de uma descolonização cultural, o que gera processos de contestação sobre as formas de reconhecimento do valor cultural de uma miríade de bens, do seu significado, propriedade e tutela, das aspirações e regras para a sua partilha e usufruto. Não está apenas em causa a natureza patrimonial desses bens, mas todo o sistema internacional do património cultural. É, assim, um dos debates políticos com maior potencial transformador das sociedades contemporâneas.

Este livro e o curso que lhe está associado nasceram em diálogo com estas transformações. Oferecendo pontos de vista muito variados, especialistas internacionais e nacionais abordam casos e tópicos de grande pertinência contemporânea – de Mostar e Tombuctu a Goa e São Paulo, da Palestina à Etiópia, de Gandhi à questão das histórias coloniais dos museus e às dimensões internacionais dos debates e políticas de patrimonialização – envolvendo reflexões valiosas sobre Portugal e sobre espaços e culturas com influência portuguesa.

Autores Miguel Bandeira Jerónimo, Walter Rossa,Dacia Viejo Rose, Lilia Schwarcz, Marie Huber, Ariel Sophia Bardi, Alice Procter,  Elizabeth Buettner, Amita Kanekar, Jason Keith Fernandes, Paulo Peixoto, Luís Raposo e Bárbara Reis
Coordenação Científica Miguel Bandeira Jerónimo e Walter Rossa
Coordenação Executiva Alexandrina Sofia Carvalho
Design e paginação Marco Neves Ferreira
Traduções e revisões Giovanna Imbernon e Nádia Ochoa Rodrigues
Apoios Cátedra UNESCO em Diálogo Intercultural em Patrimónios de Influência Portuguesa, Instituto de Investigação Interdisciplinar e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; Camões IP.
Impressão SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda.
Depósito Legal nº 481811/21
Edição Público - Comunicação Social S.A.Abril de 2021
www.publico.pt  | www.loja.publico.pt

Imagem de capa
Shailesh Dabholkar,Auto retrato Azulejo, 2019 aguarela, 35x35(cm), coleção particular
A imagem foi selecionada de entre as que nos chegaram dos diversos autores. Jason Keith Fernandes propôs esta aguarela da sua coleção particular que tem, per si, uma extraordinária força polissémica, ainda maior se levarmos em conta que é o autorretrato de um jovem artista hindu goês, que sobre a mesma nos enviou a declaração seguinte: “The image features a poetic conversation between the man and nature around him, with the small bird uplifting the poet's spirit.” O nosso agradecimento a ambos, bem como a Vivek Menezes pela fotografia.

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