Uma Peça | Um Museu
Arcanjo São Miguel
Este Arcanjo São Miguel, esculpido em meados do século XV, foi atribuído a João Afonso, mestre que personifica a prodigalidade das oficinas góticas da escultura de Coimbra.
Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga.
Arcanjo São Miguel
João Afonso, atrib. (act. documentada 1439-1469)
Século XV
Pedra (calcário) com vestígios de policromia
A.122 x L.44 x P.30 cm
Doação (Coleção Comandante Ernesto de Vilhena)
Inv. 1194 Esc
Na iconografia da imaginária medieval portuguesa, São Miguel é representado segundo dois tipos fundamentais.
No primeiro, o Arcanjo «chefe das armadas de Yahvé», «chefe das milícias celestes», incorpora o próprio sentido cultural da Reconquista cristã do Ocidente peninsular ao tornar-se o combatente pela fé e personificar o espírito de cruzada, surgindo retratado com os seus trajes militares e os seus atributos bélicos.
No segundo tipo, verifica-se uma outra memória iconográfica que tem a sua raiz no texto apocalíptico (Apocalipse 12, 7-8; Daniel, 12,1) e que lhe atribui o papel principal no julgamento das almas, pesando-as na balança que penderá para o lado do bem ou do mal.
As duas linhas iconográficas sobrepõem-se por vezes, registando-se a presença simultânea dos atributos do guerreiro, que mata a criatura diabólica com uma espada ou com a lança, e a do pesador de almas com a sua balança, como testemunhos da importância que a proteção militar, por um lado, e a mudança de atitude perante a morte e o desenvolvimento das temáticas do Juízo Final por outro, tiveram na sociedade portuguesa durante a Idade Média.
Este Arcanjo São Miguel, esculpido em meados do século XV, foi atribuído a João Afonso, mestre que personifica a prodigalidade das oficinas góticas da escultura de Coimbra, com base na análise da composição escultórica e dos característicos traços fisionómicos. Através da contenção gestual com que esmaga o dragão a seus pés, com a lança rematada com a cruz da Ordem de Avis, de um sorriso celeste apenas esboçado no rosto, do equilíbrio entre a composição em S e a proporção alongada da figura protegida pelas longas asas, materializa a própria simbologia da balança, mostrando-se como o mensageiro celeste que avalia com justiça a passagem dos homens pela terra.